Você pode se vestir do jeito que quiser

Repórteres: Yanna Duarte e Juliana Taís

Pauteiro: Rennan Oliveira

 

 

Moda sem gênero: não há restrições na escolha das peças

O estilo sem gênero, agênero ou do inglês genderless traz consigo a ideia de que as roupas não possuem um espécime, ou seja, não são exclusivamente para meninos ou para meninas. Esse estilo aposta na fluidez e liberdade para se escolher qualquer tipo de roupa e acessório, independente do sexo, idade ou orientação sexual.

Imperatriz e sua relação com a Moda Agênero

Desde criança, o produtor de estilo e estudante de Marketing Mateus Motta, 19, tem uma relação especial com a moda. Sua mãe e suas tias possuem um histórico de trabalho nesse seguimento e, por isso, ele sempre gostou de usar muitas cores e combinar vários estilos. Sobre aroupa ter gênero ou não, começou a se questionar ainda na pré-adolescência.

“Eu sempre vivi cercado pelas minhas primas, então eu comecei a me perguntar: Por que eu tenho que usar azul? Por que eu tenho que brincar com carro? Por que quando eu era criança as meninas e os meninos podiam usar macacão e hoje é difícil ver um homem usando?”, lembra Motta.

Segundo ele, a moda agênero veio exatamente para resgatar aquela seção unissex, com a diferença de que qualquer peça de roupa seria incluída, e não apenas um macacão ou um tênis.

“A roupa em si não tem gênero, o que dá a ela um rótulo foi o fato de ter sido moldada no corpo feminino, como a saia, ou em um corpo masculino, como por exemplo, a bermuda”, declara Motta.

A estudante de pedagogia, Jhulia Ferreira, conta que desde muito jovem quis arrumar um emprego para poder comprar suas próprias roupas, por ter usado desde sempre somente o que os pais aprovavam. Aos 19, como professora de inglês, ela toma liberdade para abusar das combinações.

Jhulia Ferreira diz que busca liberdade na escolha das roupas que veste

“Pra mim, a moda agênero vem trazer uma igualdade. Eu estou vestida e não preciso dizer se estou masculina ou mais feminina. Eu sou o que eu quiser e como eu estiver me sentindo. E a minha roupa vai expressar isso. Na verdade, a gente continua se expressando independente de existir ou não a moda agênero”, afirma Jhulia.

Recentemente, em Imperatriz, o fotógrafo Jefferson Carvalho fundou a Galeria do Mal, um coletivo que defende a desconstrução de gênero e promove suas atividades através de debates, fotografia, moda, música e arte. O projeto nasceu em agosto de 2016 e tinha a intenção apenas de funcionar como um brechó agênero. Hoje, o coletivo reúne pessoas com idade entre 17 a 25 anos que não se sentem representados pelos padrões construídos socialmente e, por isso, também promovem debates sobre feminismo, empoderamento feminino, desconstrução de gênero e um espaço para trocar ideias.

“A grande importância da Galeria do Mal pra mim foi ter me dado essa nova visão a respeito da roupa. De que você pode usar qualquer peça, contanto que se sinta confortável com isso”, diza estudante Raquel Costa, 19, integrante do coletivo.

Moda sem gênero fora de Imperatriz

Lojas de departamento,como a C&A, vêm apostando na moda sem gênero, embora ainda haja uma divisão das peças em alas femininas e masculinas. Em março de 2016, a empresa lançou uma campanha com o slogan ‘Misture, Ouse e Divirta-se’, com a proposta de unir diversos estilos, cores e misturas no jeito de ser e viver a moda. No vídeo da campanha, apareciam homens e mulheres correndo em direção a roupas que caíam do céu e as vestindo, sem diferenciá-las. O que existia eram apenas roupas e a livre escolha.

“A partir do momento em que se passou a questionar as normas para os comportamentos de mulheres e homens, até porque a relação homem-mulher não é mais a única a ser considerada, a moda, como produto de seu tempo, reflete as transformações pelas quais o mundo passa e também se soma no questionamento às limitações impostas aos gêneros, com a moda agênero, por exemplo”, explica a pesquisadora de gênero da Universidade Federal de Goiás (UFG), Maria Clara Dunck.

Também em 2016, a marca Louis Vuitton pôs em evidência a moda sem gênero ao mostrar o catálogo em que Jaden Smith, o filho do Will Smith, aparece nas fotos usando saias e roupas supostamente femininas.

Moda genderless não é uma invenção de hoje

Engana-se quem pensa que esse estilo é algo recentemente criado. Na década de 1920 a estilista francesa Coco Chanel inseriu peças masculinas no guarda-roupa feminino, criando uma mistura. Ela desenvolveu a calça pantalona, a camisa de listra feminina e outras peças sem fim, em maioria inspiradas nas roupas de homens.

Nos anos 70, artistas como Caetano Veloso e Ney Matogrosso já se vestiam de forma livre, não atribuindo gênero às peças. Saias, vestidos e brincos eram uma das roupas e acessórios inclusos em suas vestimentas, consideradas do armário feminino.

Liniker adota o estilo sem gênero nas roupas
Johnny Hooker é outro adepto da moda

Atualmente, os músicos Johnny Hooker, Jaloo e Liniker também trazem uma desconstrução de padrões, se apresentando com uma liberdade de roupas e acessórios. No caso do paulista Liniker, a barba e o batom vermelho vieram para ficar, reforçando uma identidade de resistência e incorporando elementos andrógenos (junção de características femininas e masculinas em uma mesma pessoa).