“O brasileiro consegue fazer com que você supra a necessidade de afeto”, diz o argentino Valentin Javier

“Aprendi a gostar da cidade pela minha mulher, foi a opção da vida”

Texto: Igor Aguiar

Foto: Acervo pessoal Valentin Javier.

Nascido em Buenos Aires, na Argentina, Valentin Javier Folgado sempre veio ao Brasil quando criança passar as férias no sul, mas foi no ano de 1987 que decidiu viver mais intensamente o calor do país, quando optou por passar o natal e réveillon no Rio de Janeiro. “O brasileiro tem uma coisa que nos outros países não se tem. O brasileiro é muito legal, de confiança, muito dado”, declara Valentin. Hoje, ele é coordenador de cursos de graduação e vive em Imperatriz desde o ano 2000.

O argentino destaca dois aspectos de adaptação marcantes na cultura e na recepção brasileira. “Por um lado, tem o aspecto humano. Se adaptar ao Brasil é muito fácil, porque o brasileiro consegue fazer com que você supra a necessidade de afeto. Ele é muito hospitaleiro. Já no aspecto de costumes foi um pouco difícil, porque no nosso país não se come arroz todo dia. Os pratos que você faz lá não se mistura como aqui, que se coloca arroz, feijão, salada, macarrão. Não se tem esse costume”. Ele ainda confessa rindo que não sabia o que era jaca, cupuaçu e nem farinha, mas que com o tempo se adaptou à culinária.

Valetin comenta sobre a rivalidade do futebol entre os dois países e que os brasileiros não poupam em zombar disso. “Eu estava lá no sul e tinha um jogo do Brasil e Argentina. Eu estava assistindo caladinho olhando, e o Brasil fez um gol e o cara que estava do meu lado gritava ‘gol’. E se eu falasse ele ia descobrir que eu era argentino”, relembra, rindo do episódio.

Ele analisa ainda sobre o cenário de corrupção no Brasil comentando que esta prática está enraizada nas pessoas. “Sempre tentamos tirar vantagem, me incluo porque me sinto brasileiro. O que podemos esperar dos que tão lá em cima se a corrupção começa aqui embaixo? Pra você conseguir mudar isso, precisa mudar a geração”, discute, fazendo um aparato dos últimos anos.

Valentin Javier conclui que não pretende ir mais embora de Imperatriz, que vive muito bem na cidade com a esposa e as duas filhas, que são universitárias. Contudo, admite que não se pode prever o futuro e é bem resolvido com isso. “Depois de vinte e poucos anos você cria raízes. Eu crio raízes, mas eu sou fácil de desapegar, se um dia existir a necessidade de sair, acho eu não teria problema”. Ele se declara para sua mulher afirmando que a única coisa que o fez morar na cidade foi ela. “Se não fosse pela minha mulher não teria morado aqui, aprendi a gostar da cidade por ela, foi a opção da vida.”.