Nilcélia de Carvalho:  a maquiadora de mortos da cidade

[et_pb_section admin_label=”section”]
[et_pb_row admin_label=”row”]
[et_pb_column type=”4_4″][et_pb_text admin_label=”Text”]Repórter: Izabella Sousa e Juliana Santana

Fotos: Izabella Sousa e Juliana Santana

 

A vontade de seu irmão Michael, dono da funerária Aliança, em dispor de uma profissional com habilidade em técnica de conservação de corpos, a tanatopraxia, serviu de gatilho para queNilcelia Fonseca de Carvalho despertasse o interesse pelo curso e hoje ela é a única mulher na cidade a dominar essa técnica e possuir o certificado.

Anteriormente, trabalhavaauxiliando advogados a montar seguros DPVAT, curiosamente esse tipo de profissão cobre casos de morte e era justamente nessa área que ela atuava, desde a indenização do seguro e quando necessário era ela que se encarregava dos tramites do velório.”Sempre que tinha algum conhecido e eles não queriam velar, eles deixavam do começo ao fim pra eu resolver”, diz Nilcelia.

Ela nunca cogitou que a tanatopraxia fosse uma profissão provisória, desde que se inscreveu no cursose sentiu muito motivada,principalmente por uma curiosidade sobre a área. A profissional decidiu que iria até o fim independentemente dos contratempos que surgissem pelo caminho.

O primeiro grande contratempo foi a distância uma vez que o curso ministrado foi oferecido somente no estado de Minas Gerais.Acreditando que o curso seria exclusivamente sobre técnicas como tanato, Nilcelia acabou sendo surpreendida com uma preparação ainda mais completa tendo de tudo um pouco, foi oferecida até uma parte de humanização, que inclusive trata de como fazer a preparação psicológica para tratarcom os familiares do falecido, uma vez que eles estão emocionalmente abalados.

Tanatopraxista certificada e qualificada a exercer a atividade, Nilcelia se orgulha muito de ser pioneira na cidade entre as mulheres, em uma área que é de certa forma dominada por homens. Atécnica ressalta que atualmente os tempos são mais favoráveis ao ingresso de mulheres no ramo e que além disso o interesse de mulheres pelas técnicas tem crescido bastante nos últimos anos, principalmente entre as enfermeiras.

Contratada da funerária que tem convênio com a Prefeitura, ela acaba prestando seus serviços também a cidades vizinhas como Amarante e João Lisboa.Para ela que gosta da área, quase não existem pontos negativos na tanatopraxia, exceto pelo fato de ás vezes o exercício de sua função ser durante a madrugada.

E como perspectivas futuras, ela informou que a funerária Aliança em parceria com a tanatopraxista de renome nacional Nina Maluf, tem feito um grande esforço para que o curso possa ser oferecido na cidade o que de forma direta beneficiará toda a região tocantina, certificando e legalizando vários colegas de profissão.

 

Izabella Sousa: Em que consiste a tanatopraxia?

Nilcelia Fonseca de Carvalho: A tanatopraxia é a realização de aplicação de produtos químicos no falecido. É uma maneira menos agressiva e mais eficaz. A tanatopraxia envolve a reconstituição do corpo e facial. Deixa o corpo do falecido o mais natural possível. É um método diferente de conservação que dispensa o uso de formol, melhorando o aspecto do falecido sem deixar regiões roxas, o corpo rígido e além do mais o falecido fica com aparência de estar dormindo.

IS: Por que escolheu essa área?

NFC:O meu irmão quis montar um novo serviço funerário na cidade, porém para que pudesse funcionar era preciso legalizar todo os documentos além de ter o profissional necessário para realização dos serviços, com toda a documentação encaminhada faltava ainda o profissional em tanatopraxia, e como já tinha experiencia observando atividades de um amigo me coloquei a disposição principalmente pela curiosidade.

 IS: É a única mulher tanatopraxista da cidade de Imperatriz?

“Sempre faço pesquisas sobre novas técnicas de utilização do tanato, e busco sempre me manter o máximo informada sobre o assunto”

NFC: Sim, conheço o serviço de todas as outras funerárias da cidade e não existem outras tanatopraxistas mulheres com formação.

 IS: Acha que sendo a única mulher a realizar esse serviço em Imperatriz, serve de inspiração para outras?

NFC: Sim, com certeza. Quando elas tomam conhecimento da minha área de atuação elas ficam interessadas, questionam e se mostram bastante curiosas inclusive em sua maioria as enfermeiras.

 IS: Nina Maluf é conhecida nacionalmente por ser uma referência no ensino de tanatologia, necromaquiagem e reconstrução facial entre as mulheres. A história dela serviu de alguma forma como inspiração para ingressar nessa área?

NFC: Sim, conheci a história dela durante o curso, achei maravilhosa, uma excelente profissional, sempre buscando se atualizar com novas técnicas tanto no campo de tanatologia quando na parte de embelezamento do falecido, em resumo uma expert na área.

 IS: Como tem buscado se manter atualizada neste tipo de mercadoe você tem interesse em algum novo curso na área?

NFC:Sempre faço pesquisas sobre novas técnicas de utilização do tanato, e busco sempre me manter o máximo informada sobre o assunto oferecendo um serviço de excelência, além disso é sempre bom fazer uma reciclagem a cada 6 anos para aprimorar o conhecimento, desenvolvendo técnicas ainda mais avançadas.

IS: E como sua família ou filhos lidam com esse tipo de profissão?

NFC:Eu tenho um filho de 6 (seis) anos, ele sabe que eu trabalho em uma funerária, mas nunca teve acesso ao laboratório. No máximo ele fica na sala de administração fazendo as atividades dele, por enquanto acho que ele não tem entendimento para saber com o que realmente eu trabalho. Com os demais familiares houve uma surpresa muito grande, mas de maneira geral se mostraram desinteressados com exceção do meu irmão Michael.

IS: Existe alguma preferência de mercado entre homens ou mulheres tanatopraxista?

NFC:De maneira geral, muitos familiares tem a preferem que mulheres façam o procedimento de higienização e embelezamento do falecido.

 IS: Como é trabalhar em uma funerária?

NFC:Funerária é um ramo como qualquer outro, mas, quem trabalha em uma funerária tem que ter amor ao próximo mesmo, e tem que ter a mente sadia porque é complicado mexer com a família.

IS: O profissional sofre preconceito?

NFC: Sofre, eu não costumo falar a área que trabalho porque uns tem medo outros tem nojo e todos se assustam quando eu falo. Inclusive, no início da minha carreira peguei um Uber atendi o telefone e sem querer falei “-pega o corpo coloca ai que eu estou chegando.” quando eu terminei a ligação o motorista perguntou “-você mexe com o que?” E ai eu falei minha área de atuação. Aí ele disse “-Se eu soubesse eu não tinha nem pego a senhora”Aí eu perguntei “-Porque se é uma área qualquer, é uma área que é quase como a de um médico a diferença é que médico mexe com vivo e eu mexo com morto” ele disse que era esquisito mas não soube explicar contudo ele me deixou em casa mas repetiu que se soubesse teria recusado a viagem.

 

 [/et_pb_text][/et_pb_column]
[/et_pb_row]
[/et_pb_section]