Jornalista maranhense narra a história dos indígenas Awá-guajás

Jornalista considera sua primeira obra uma experiência de amadurecimento

Félix Alberto foi o primeiro jornalista a retratar a vida desses indígenas

Texto: Andréia Liarte

Fotos: Divulgação

O jornalista maranhense Félix Alberto Gomes Lima, 54 anos, é natural de Presidente Dutra (MA). Formado em jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e pós-graduado em Comunicação Organizacional também pela UFMA, é autor dos livros Guajá, a odisseia dos últimos nômades (EDUFMA,1998),Almanaque Guarnicê (Edições Guarnicê e Clara Editora, 2003), O que me importa agora tanto (Editora 7Letras, Rio, 2015),Um pouco mais de mil palavras (Clara Editora, 2017),Maio oito meia (Clara Editora, 2017) e Filarmônica para fones de ouvido (Editora 7Letras, Rio, 2018).

De acordo com Félix Alberto, a elaboração da obra Guajá, a odisséia dos últimos nômades teve início quando ele ainda estava no curso de jornalismo.  “Eu estava conversando com um professor e com um amigo e estava com outro tema na cabeça. Aí, meu amigo: ‘Cara, porque tu não pensa nos índios Guajá, que é uma tribo nômade aqui do Maranhão e de repente você poderia escrever sobre isso?’ Aí eu topei o desafio”, lembra o escritor.

O jornalista conta que teve muitas dificuldades para conhecer a rotina dos indígenas Guajá. “O acesso até eles não era uma coisa muito fácil. Eu fui clandestino. Tentei por vias normais ter acesso à aldeia, mas eu não consegui a autorização da Funai. Graças a Deus consegui fazer isso umas duas ou três vezes. Foi muito legal’, relembra.

Para Félix, suas investigações foram essenciais para que o mundo descobrisse a cultura desses indígenas. Outro fator determinante foi o fato de a Ong inglesa Survivor encampar a defesa da sua cultura. “Depois desse livro descobriram os Awá-guajás, como eles se autodenominam. De uns dez anos para cá, o fotógrafo Sebastião Salgado já esteve lá. Os jogadores do Chelsea, lá da Inglaterra, vestiram a camisa com ‘Salve os Guajá’”.

Experiência

O trabalho do primeiro livro com os Guajá é considerado pelo escritor uma importante experiência em sua carreira. “Eu era um garoto saindo da universidade, sem a maturidade que a gente adquire com o tempo. Claro que se fosse hoje, eu escreveria ele de outra forma. É um livro limitado e tem coisas que eu diria de uma outra forma, mas o propósito dele seria o mesmo”. O escritor diz ter vontade de fazer uma reedição da obra “com uma outra pegada”, mas com a mesma proposta.

Félix diz que hoje em dia é muito mais cauteloso quando está escrevendo, diferenciando a sua produção daquela mais comum no jornalismo diário. “Eu sou um cara muito criterioso com o que eu faço. Tanto que eu não consigo fazer para publicar na pressa. Outro livro, o Maio Oito Meia, eu demorei de três a quatro anos juntando textos, ideias, memórias e tudo para poder compor aquilo que eu chamo de crônica de uma geração em movimento”.

O escritor lamenta, no entanto, as dificuldades financeiras que muitos escritores encontram no Maranhão.  “Você tem que matar um leão todo dia para se virar de outra forma. Você é um autor, um escritor de livro-reportagem em um cenário como o nosso, no Maranhão. No Nordeste, você tem que ter uma outra atividade para ter renda. Você vai fazer o livro conciliando o seu tempo com a sua outra atividade”, explica Félix.

A entrevista original com o jornalista foi feita no contexto da entrevista Jornalistas escritores de livros-reportagem no Nordeste, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa Jornalismo de Fôlego, do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, pelo estudante e pesquisador João Marcos dos Santos Silva.