Vencer é uma Escolha: Três anos de resiliência até superar o câncer

Por: Sarah Rocha

Aos 14 anos de idade, Thais Lourrany dos Reis Silva, foi diagnosticada com leucemia, no qual passou 3 anos de sua vida especialmente dedicada ao tratamento em São Paulo. Morava na zona rural, município do Brejo Grande do Araguaia – PA, vicinal Brasispanha. Filha do meio de Gilberto e Tina e única filha mulher, irmã de Thalison e Fernando. Hoje aos 22 anos conta essa história com muita gratidão por toda essa trajetória e conquista, ao ter superado o câncer. 

“Minha vida era simples e comum como a de todas garotas dessa idade”, relata. Uma garota que gostava de andar a cavalo com seus irmãos, ir para beira do rio pescar, subir em árvores, colher frutas com sal escondidas. Na escola era a aluna nota 10, sempre com as melhores notas e desempenho, amava educação física, tinha um ótimo condicionamento físico e amava nadar. “Eu era muito ativa, quase que hiperativa, não parava quieta um segundo”.

No mês de agosto de 2015 começou a sentir os primeiros sintomas e no mês seguinte foi intensificando. “De repente aquela garota super ativa que não parava quieta, começou a ficar indisposta pra tudo, as energias foram se esgotando”. Quando ia para a escola, na aula de educação física, praticava cinco minutos e já parava chorando de dores na costela e falta de ar, não conseguia levantar da cama cedo, sem energia até mesmo para se alimentar. Chegou até a pensar que era preguiça. Os dias se passaram e os pais notaram que tinha algo errado com ela, até os próprios professores notaram e mandaram recados aos pais. 

No primeiro momento, sua mãe a levou a uma cidade próxima, no qual fez alguns exames e o médico disse que era algo normal, somente dor do crescimento. Thais e seus pais voltaram para casa inconformados com o diagnóstico repassado pelo médico. E cada dia ficava mais fraca. “Perdi toda minha energia e disposição, tive perda de apetite, não tinha forças nem pra andar e fui perdendo peso”. 

Seus pais, já preocupados com sua filha, tomaram dinheiro emprestado com seu vizinho para ir em uma cidade maior. Fizeram consultas particulares, no qual a doutora pediu o mesmo exame duas vezes para ter certeza do diagnóstico.

“O clínico geral que me atendeu também se assustou com o resultado, mas não me deu nenhum diagnóstico, disse que eu teria que passar com um especialista”. A adolescente foi para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), fez mais exames e mandaram interna-la de imediato e veio a suspeita de câncer. Logo foi encaminhada para o hospital regional de Araguaína- TO e veio a confirmação da doença. 

Quando eu descobri no primeiro momento eu fiquei muito assustada, com medo, chorei, achava que ia morrer”
Thais teve apoio de toda família quando descobriu a doença

Na manhã seguinte, a médica conseguiu uma Unidade de terapia intensiva (UTI) aérea para levar a adolescente de Araguaína para o Hospital Boldrini em Campinas-SP, local em que a médica conseguiu uma vaga para o tratamento. Thais e sua mãe chegaram à cidade no dia 23 de outubro de 2015. “Fui direto para UTI, estava com 95% do sangue já contaminado, hemorragia interna, água nos pulmões, baço inchado e pneumonia e ali foi o início de uma longa jornada”.

No começo do tratamento, ela estava debilitada que não conseguia falar direito, andar, comer sozinha, banhar (tomava banho na cama), sua boca e garganta por dentro e por fora ficaram cheias de queimaduras das quimios e sentia muita dor nos ossos. “O início do tratamento foi o mais difícil, pois meu organismo não reagiu aos remédios, às quimioterapia não estavam tendo efeitos e a doença só estava crescendo”. 

Com dois meses de tratamento, a situação mudou, os remédios começaram a fazer efeito e ela começou a progredir no tratamento. “Um determinado dia Deus me curou, fui dormir à beira da morte e amanheci curada da doença, um caso quase perdido, Deus fez o milagre e trocou minha medula”. No período em que ela não estava internada, ficava em uma casa de apoio, no qual ficou por 8 meses. Depois conseguiram alugar um apartamento para ficar com a família.

Durante os três anos de tratamento, a adolescente desenvolveu várias doenças, como diabete no qual tinha que tomar dois tipos de insulina e o endócrino disse que ela teria que tomar insulina pelo resto da vida, mas ao décimo primeiro dia a glicemia controlou e nunca mais precisou tomar insulina.

Teve também tromboflebite nos braços. “As minhas veias encheram de nódulos que impediam o soro de ser distribuído em minhas veias”. Neste período a equipe médica decidiu que era o momento de colocar um cateter port cat, um dispositivo implantado que permite fácil acesso às veias do paciente. Por esse dispositivo ela tomou medicação durante os 3 anos. 

Eu tive pneumonia também, fiquei desmaiada por 2 dias seguidos, os médicos achavam que eu nem ia sobreviver mais, mas no terceiro dia eu acordei”. No quarto dia já recebeu alta com os pulmões 100%. 

Foto esquerda: segundo mês do tratamento/ foto direita: última quimioterapia

Durante o tratamento ela não parou os estudos, continuou estudando no hospital, no qual tinha uma sala de pedagogia, sempre com professores que ajudavam nas tarefas que a escola mandava. Ela fez o primeiro e segundo ano de dentro do hospital, o terceiro ano fez metade no hospital e o resto do ano conseguiu frequentar escola. 

“Esses anos me ensinaram muitas lições. Simples coisas como escovar os dentes e pentear os cabelos sozinhas eu era incapaz de fazer. Pude ver os milhões de motivos que temos todos os dias para agradecer e deixarmos passar despercebidos o quanto somos privilegiados”
“Estou casada a 4 anos, e tenho uma filha de 2 anos, que também para medicina as chances de tê-la eram pouquíssimas devido o tratamento, mas hoje está aqui nossa princesa com 2 aninhos, e com muita saúde”
Hoje com 22 anos casada e com sua filha Radassa Vitória