Jornalista Elbio Carvalho mostra os bastidores da cobertura da maior tragédia aeroespacial brasileira
Texto: Andréia Liarte
Fotos: Divulgação
José Elbio Carvalho Nascimento,56 anos, natural de Grajaú (MA), formado em jornalismo pela faculdade de São Luís, é autor do livro-reportagem Centro de Lançamento de Alcântara: Tecnologia Derretida, que conta os bastidores da tragédia ocorrida no local, em 22 de agosto de 2003. Na ocasião, o Veículo Lançador de Satélites (VLS), que tinha 21 metros, foi acionado de forma acidental antes da hora. Assim, a torre de lançamento explodiu e o evento vitimou 21 pessoas que trabalhavam no local, nesse que é considerado um dos maiores acidentes em bases espaciais do mundo.
De acordo com Elbio, tudo começou por meio de uma ideia que ele teve durante a produção de uma série de reportagens para um telejornal local da TV Mirante, mas que não se concretizou. ”Eu resolvi fazer diferente: aprofundar a pesquisa e publicar o livro. E foi aí que eu tive que mergulhar no jornalismo investigativo para ter o novo e o que não tinha sido abordado até então. O que eu tinha em mãos já tinha sido mostrado, não daquela forma, mas na TV. Nessa pesquisa, eu fui agraciado com bons personagens, com informações até sigilosas’’, explica.
Na opinião do autor, é importante a apuração de todos os dados para a produção de uma grande reportagem. “Você tem, por exemplo, uma informação, mas você precisa checar. Não é só porque ela chegou que você traduz ela ali, traz pro seu computador, traz para sua pasta e usa de acordo com teu pensamento. Não. Você tem que checar, você é obrigado a checar’’.
O jornalista destaca a importância do meio acadêmico para a construção do seu livro. “No nosso caso, no trabalho jornalístico, a universidade nos dá o anzol e nos mostra o lago e nós temos que ir lá buscar o peixe. Com certeza eu não faria um trabalho dessa magnitude se eu não tivesse o conhecimento teórico da universidade, se não tivesse me dado a oportunidade de aprendizado. Poderia até avançar, mas não poderia ir tão longe”, destaca Elbio Carvalho.
Vida de escritor
Mesmo com a pouca recepção do seu livro no Maranhão, o repórter diz que o seu trabalho teve uma ótima aceitação em outros lugares. “Para fora do Brasil, eu tenho até hoje comigo, guardado, um grande documento da Biblioteca do Pentágono pedindo dois exemplares desse livro e eu tenho eles lá, no Pentágono. Só para você ter uma ideia, esse livro me rendeu duas indicações ao prêmio de Jornalismo Investigativo do instituto de Paris’’, informa.
Carvalho desabafa, porém, sobre as dificuldades que os escritores maranhenses encontram no estado. “Uma editora te compra uma ideia. ‘Vou publicar para ti’, mas só que você precisa vender no Maranhão 20 mil exemplares”. O escritor pondera que esse volume de vendas só pode ser alcançado por escritores como Josué Montelo ou José Sarney. “O Elbio Carvalho, ou outro escritor, não consegue passar de 5 mil exemplares. Porque o nosso mercado é pobre. Mas a pobreza não é financeira, é intelectual. Falta incentivo à leitura. Você roda dos 207 municípios, você vai encontrar 50 bibliotecas. E mais nada’’.
A entrevista original com o jornalista foi feita no contexto da pesquisa Jornalistas escritores de livros-reportagem no Nordeste, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa Jornalismo de Fôlego, do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, pelo estudante e pesquisador João Marcos dos Santos Silva.