“Quando se faz com respeito você consegue entrar em diversos assuntos”, defende o repórter Hemerson Pinto

Jornalista da TV Difusora Sul lembra momentos marcantes no jornalismo policial e humanizado

Ana Oliveira

Camila Souza

Gabriel Jordan

Hellen Amorim

Laécio Rodrigues

Milisse Marques

Thayná Castro

“Já tomei porrada de preso. Rapidamente tive o reflexo, coloquei o braço para frente e consegui livrar que um soco acertasse o meu rosto. Foi tão forte, que quando bateu eu caí sentado no colo de outro colega”, contou o jornalista da TV Difusora Sul, Hemerson Pinto, durante entrevista coletiva na qual destacou detalhes de sua formação como repórter, experiências marcantes e sua cobertura na área policial.    

Completando 10 anos em televisão e 12 no mercado jornalístico, ele relatou os caminhos que o levaram a escolher a profissão. “Eu não posso dizer que eu sempre quis jornalismo. Aos 17 anos terminei o Ensino Médio e passei a trabalhar. Somente aos 26 eu vim a fazer um vestibular”. Hemerson aponta dificuldades pessoais e familiares que teve que enfrentar até conseguir ingressar em uma faculdade. Sua família comentava que queriam um filho médico, mas não tinham recursos para manter as mensalidades caras e um ensino fora de Imperatriz.

Desde muito jovem, Hemerson esteve envolvido em várias ocupações. “Era só trabalhar como office boy, entregador, vendedor, locutor de carro de som”. Na hora de escolher o curso universitário, antes do vestibular da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), teve que tomar uma decisão. “Logo pensei: ‘Vou colocar pra jornalismo’. Me identifico com essa área também [Direito], mas com o jornalismo talvez eu me dê um pouco melhor”, relembra.

Durante o curso, Hemerson tomou a decisão de encontrar empregos na área. Procurou diversas emissoras de televisão e rádio, mas as respostas eram sempre negativas por ele ainda não ter vivência profissional. Uma vez, chegou até a questionar o gestor de uma empresa: “Como é que eu vou ter experiência, se não querem me dar espaço para ter essa primeira experiência?”. Hoje, Hemerson revela que trabalha há nove anos em uma emissora que no passado disse não a ele, e confirma estar muito feliz com o que faz.

Locutor, apresentador e repórter

Para Hemerson, suas experiências como locutor de porta de loja, vendedor externo e com teatro foram essencias na sua formação como repórter, entrevistador e apresentador de rádio e televisão. Quando ainda cursava os primeiros meses do curso de jornalismo,  teve uma pequena prática como locutor de rádio em um programa católico da emissora Nativa.

Outras oportunidades, como a de apresentador na TV Difusora Sul, surgiram para cobrir férias dos colegas. Hemerson afirma que o “ao vivo” é diferente. “Te exige a não ter medo ou perdê-lo, porque você vai ser assistido por muitas pessoas e por conta da pressão de estar na frente das câmeras”. Ele diz que fica mais à vontade de saber o assunto que será abordado no telejornal, e informa que o comandante da atração tem que se adequar ao formato do programa.

Repórter Hemerson Pinto entrevista a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara (Crédito: acervo pessoal)

O comunicador comenta que precisa ser mais formal quando está apresentando um programa como o Hora D, posto que ele já assumiu muitas vezes quando o jornalista Josafá Ramalho esteve de férias. “Tem um jeito diferente dos outros telejornais. Mesmo sendo um programa que leva notícia ao público, é apresentado de maneira mais leve, com tempo de tela e dos comerciais”. Porém, ao dividir as funções de apresentador e entrevistador, é necessário alternar as maneiras de atuar diante das câmeras. Além das chamadas matérias corridas, inesperadas e ao vivo, que exigem mais agilidade do repórter.

Jornalismo policial

Hemerson expõe que seu primeiro contato com a cobertura na área de segurança se deu no jornal Correio Popular. Apesar da publicação, hoje extinta, contar, na época, com um profissional direcionado aos assuntos de criminalidade, ele acabava por cumprir matérias da editoria de Polícia quando solicitado.

Em 2013 foi chamado para a TV Nativa, para trabalhar diretamente nesse tipo de pauta. No programa Balanço Geral a rotina era intensa, das 18h até meia-noite em coberturas externas. Em 2014 aceitou o convite da TV Difusora Sul para assumir o programa policial Bandeira 2, por 90 dias, e após esse período, permaneceu na emissora, onde está até hoje. Além de ter tido inúmeras outras passagens no mesmo programa, ele integra o quadro do noticiário  nas participações ao vivo, todos os dias, a partir das 6h da manhã.

“Me identifiquei com a área, com a maneira de fazer, mas sempre com muito respeito, com muito cuidado para não fazer como pessoas que se destacam em algumas situações e por exemplo, zombam da fonte”, ressalta o repórter. Ele reflete que isso se deve ao fato de que já existem as instâncias da justiça e não cabe a ele julgar e desrespeitá-las.

Experiência de reportagem na rua é uma das marcas do repórter (crédito: acervo pessoal)

Ao iniciar sua carreira no jornalismo policial, o repórter decidiu que queria mostrar os bastidores do trabalho das forças de segurança. No processo para conseguir informações, já foi agredido e ofendido, mas garante que nunca desrespeitou uma fonte. Acredita que a experiência garantiu o aprimoramento da sua ética profissional, baseada no respeito que lhe foi ensinado desde os primórdios de sua vida.    

Com relação ao incidente relatado na abertura dessa matéria, o jornalista declara que poderia simplesmente ter levantado, pegado seu instrumento principal de trabalho, o microfone, e acertado quem lhe golpeou. “Não vou cometer uma agressão que me sujeitaria a perder minha carreira. Quando se faz com respeito, você consegue entrar em diversos assuntos sem se prejudicar e nem prejudicar ninguém”.

Personagens comuns

Em 2011, o jornal Correio Popular apresentou aos seus leitores uma nova coluna intitulada “Aqui Imperatriz”, assinada por Hemerson Pinto. A proposta era trazer, em cada edição, o perfil de um personagem comum.

Antes, o jornalista mantinha um informativo chamado Vitrine, com quatro páginas. “O pessoal do Correio Popular leu, pegou na rua, onde era distribuído, e me chamaram: ‘Você quer contar essas histórias aqui no jornal?’. Eu disse: ‘Quero!’”. Ao todo, 500 entrevistados do povo tiveram suas vidas contadas por Hemerson na coluna “Aqui Imperatriz”. Alguns já faleceram, como o “Doutor do Mercadinho”, que alegava ter 47 filhos. A história foi posteriormente confirmada por um deles ao repórter.

Ele citou como exemplo inesquecível de sua relação com as pessoas comuns a matéria televisiva “O Catador”, na qual, além de fazer entrevistas, se colocou no lugar de um trabalhador de um lixão. “Eu lembrei várias reportagens que eu já vi com equipes, com repórteres lá no lixão, mas não lembrei de ninguém catando lixo”, enfatizou. A reportagem foi transmitida pela TV Difusora Sul em 2017. “Se eu fosse fazer novamente, não sei se eu conseguiria fazer melhor. Encontraria outros personagens, teria histórias interessantes para contar também, mas assim, é uma reportagem que pra mim marcou bastante”.

Na ocasião, sua intenção era ser reconhecido por alguém em meio ao lixo, algo que não demorou: uma senhora descobriu o disfarce. “E se eu pudesse encontrar ela hoje, de repente a gente faria um Aqui Imperatriz, poderia registrar algo ali fora do vídeo, impresso mesmo. Talvez seria, sim, uma situação a ser recontada”.

Este texto foi produzido a partir de uma experiência de entrevista coletiva com o repórter Hemerson Pinto, realizada pelos acadêmicos do primeiro semestre do curso de Jornalismo da UFMA, campus de Imperatriz (MA). Estudantes da disciplina de Redação Jornalística elaboraram as perguntas, transformaram em textos jornalísticos as respostas e depois editaram uma matéria única. Esta é a primeira publicação desses futuros repórteres.