Psicanalista explica as principais características da intersexualidade

Jovem intersexo atendida pela psicanalista Maria Antônia, resolveu ser uma menina. Com o consenso de especialistas, fez a cirurgia que transformou o pênis em uma vagina, há cerca de 11 anos.

Por Marcela Lima

Especialista em sexualidade humana, atendeu a uma jovem intersexo, em Imperatriz. foto: Arquivo pessoal.

“Eu já atendi uma pessoa intersexual, no tempo ela não se aceitava. Tinha o corpo de menina, mas tudo nela era menino”, afirma Maria Antônia Rodrigues, 57 anos, imperatrizense, psicanalista clínica, linguista, psicóloga e especialista em sexualidade humana e psicopedagogia clínica.

“Essa paciente começou a descobrir quando ela menstruou, tinha o pênis no corpo de uma menina”

Maria Antônia relata que a paciente tinha o pensamento suicida, porque não sabia definir se era menino ou menina. Após um consenso junto a profissionais, a jovem decidiu fezer uma cirurgia, há 11 anos, em São Paulo. Transformou a genitália masculina em feminina e hoje ela é uma menina.

Existem diversas variações de pessoas intersexuais, a maioria só sabe porque é visível. “Essa paciente começou a descobrir quando ela menstruou, tinha o pênis no corpo de uma menina. As pessoas intersexuais mais comuns são essas”, explica a psicanalista.

A especialista em sexualidade humana comenta que tentou buscar a paciente para esta reportagem, mas é um passado que ela não quer lembrar. “Então a gente tem que respeitar”, diz. Hoje o ser intersexual não é raro, estatísticas apontam que 1,7% a 2% de pessoas no mundo nascem com características intersexuais.

No contexto da biologia, algumas células das pessoas intersexo podem ter cromossomos XX e outras XY. ”A anatomia sempre se revela no nascimento, na puberdade, quando a pessoa se depara com a infertilidade, ou quando morre e fazem a autópsia”, explica a especialista. No Brasil, quando os bebês nascem intersexo, muitos deles são submetidos a um tratamento hormonal, para não precisar operar e começar a fazer todo processo de mudança no sentido de que o corpo se torne parecido com menina ou menino. Mas é uma prática que ainda não é muito aprovada, segundo Maria Antônia.

Mudanças – Para a psicanalista, uma pessoa intersexual não é rosa e nem azul, elas não se encaixam nestas categorias. Por exemplo, uma pessoa pode nascer com uma aparência exterior feminina, mas a anatomia dela ser masculina. Outro exemplo citado pela especialista é quando uma criança nasce com a ausência da abertura da vagina e o rapaz com o pênis anormalmente pequeno, ou com o escroto dividido, com o formato mais semelhante aos lábios vaginais.

Marcas – Uma das principais dificuldades enfrentadas pelo intersexo é a estigmatização de serem taxados de uma forma que os machucam muito, como anormal, hermafrodita e monstro. “Hoje o preconceito ainda é muito grande no Brasil. Tanto que quando eles descobrem que são intersexuais, se escondem”, relata Maria. Segundo a psicanalista, a família antigamente tentava esconder o filho, com medo. Percebia quais eram as suas características mais marcantes, afeminada ou masculina e os vestiam de acordo. “Hoje os pais deixam crescer para decidir o que vão querer ser, porque até então eles não sabem o que são, se é menina ou menino”, conta.

Operação – As cirurgias são benéficas para alguns. “Já ouvi casos de pessoas que se arrependeram de ter escolhido ser mulher e depois de ter feito a cirurgia não ter mais como ela transformar em um pênis novamente. A partir de várias leituras também podemos ver situações que nos chocam”, comenta Maria Antônia. A psicanalista e especialista em sexualidade humana deixa uma mensagem para as pessoas intersexuais. “Se ela se sentir bem, mais como menino, pois ela deve levar a vida como menino. Porque a nossa visão hoje está bem diferente”.