Pesquisadora premiada é agente de transformação em comunidade com o estudo do buriti

Texto: Isabella Franco

Jeciane Chaves

Julia Eduarda

Kainan da Silva

Karina Santiago

Lenícia Trindade

Ilustração: Pedro Marques

Fotos: Zilmar Soares

“Não fui lá para ensiná-los, porque às vezes eles sabem mais do que a gente. Então, juntos, nós aprendemos como coletar o talo do buriti, como eu poderia trabalhar e manusear a palmeira de forma correta, sem destruí-la”. A pesquisadora imperatrizense Ana Beatriz de Castro, 17 anos, recém-formada no Ensino Médio e integrante do projeto Cientista Aprendiz, explica desta maneira sua aproximação com as comunidades rurais onde desenvolveu  um bioplástico, um bioacrílico e um biofilme não prejudiciais ao ambiente a partir do fruto do buriti. Sua pesquisa ficou entre as oito melhores, entre 2,5 mil inscritas, no Informatix Word Finals, que aconteceu na Universidade Autônoma de Guadalajara, no México, no início de junho.

Ilustração da pesquisadora Ana Beatriz

 

Ana Beatriz lembra que, ao entrar em contato com as comunidades ligadas aos buritizais, percebeu que eles não costumavam fazer uso das cascas, base utilizada para produzir os produtos biodegradáveis. Para elaborar os biofilmes, ela diz respeitar o limite de uma quantia fixa de 20% dos frutos naturalmente coletados, além de só recolher talos secos a cada 90 dias.  Tudo para que não seja afetada a produção natural das comunidades, além de ajudar na manutenção da fauna e da flora. “Se eu falo sempre do meio ambiente e da preservação, como que eu vou destruir aquela palmeira?”, questiona a pesquisadora.

Desde o cuidado com a coleta, até o momento em que o material é jogado fora, com um descarte de forma sustentável, a preocupação com o meio ambiente é constante na pesquisa. “Eu sempre brinco que o projeto tem todo um ciclo. Vou coletar o que ela descarta, vou utilizar a favor de toda a sociedade e, no fim, eu vou devolvê-lo de forma consciente e sustentável”, exemplifica Ana Beatriz. Ela acrescenta que os trabalhadores aprenderam a lidar com os lados econômico e ambiental, o que desperta um sentimento de cuidado com a árvore e de querer preservá-la. “Essa é uma forma de comovê-los, para que eles possam olhar de forma sustentável também para a palmeira”.

Economia e preservação

A pesquisadora conta que o objetivo central do projeto, que faz parte do programa Cientista Aprendiz, coordenado pelo professor do curso de Biologia, Zilmar Soares, na Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul) é de incentivar a preservação ambiental. “Além de contribuir, também, para a economia dessas famílias”, ressalta Ana Beatriz em vídeo publicado em seu canal do YouTube, Biocompósito. A estudante considera que conhecer mais da região rural do sudoeste maranhense foi o que a fez desejar trabalhar diretamente com as comunidades, que viviam em situação precária em termos de infraestrutura, economia e nutrição.

Outra questão frisada por Ana Beatriz é a meta de não só apresentar o bioplástico em feiras de ciência, mas industrializar a sua produção e contribuir para a mudança socioeconômica das comunidades. “Se caso vire ali em uma escala industrial, eles vão poder ter o seu próprio ganho também. Porque eles podem vender a matéria-prima, e, em forma de cooperativismo, produzir o biofilme”, destaca.

Pesquisadora Ana Beatriz em meio à comunidade, no trabalho de coleta

 

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, mais de 200 mil famílias dependem dos recursos do buritizeiro no Brasil. “Com o crescimento da preocupação com o ambiente, vem se desenvolvendo polímeros biodegradáveis com o objetivo de solucionar o problema de descarte do grande volume de material polimérico”, complementa a aluna no artigo científico “Nanotecnologia biobaseadas no pecíolo da (Mauritia Flexuosa) para aplicação em design sustentável”. No mesmo texto, ela reforça que o material é  inovador e apresenta possibilidades de novas propostas de uso do buriti na indústria e no mercado.

Detalhes do projeto podem ser encontrados no Instagram da pesquisa, (@biocomposito), como as curiosidades sobre o fruto do buriti, além das várias entrevistas, palestras e conquistas que conseguiu com o trabalho. “O plástico biodegradável é um produto ecológico que se decompõe com mais rapidez em solo e em água e serve também como adubo para plantas”, afirma em uma de suas postagens.

Trajetória e sonhos

Desde os 15 anos, Ana Beatriz já realizava trabalhos manuais com a palmeira. Foram anos de testes, erros e pequenos acertos para finalmente conseguir alcançar seu objetivo. “Na ciência vão sempre existir empecilhos, mas o desejo de contribuir, a persistência para que aquele sonho ou aquele objetivo se realize, é o que vai fazer você chegar lá na frente”, afirmou.

Ana Beatriz analisa materiais no laboratório

 

Ana lembra que a maior dificuldade foi conciliar a pesquisa com seus estudos externos, como o final do Ensino Médio e a preparação para o Enem. “Eu falei assim: ‘Nossa, está muito cansativo, tem escola, tem vestibular, tem mil e uma coisas. E agora, o que eu vou fazer da minha vida?’”. Para se concentrar, sempre mantinha anotado qual era o sonho que desejava alcançar. “Olhava para aquele meu caderno e pensava: ‘Eu quero chegar aqui!’. Mas para que eu consiga chegar, eu preciso persistir. Então o que sempre me incentivava era esse desejo de contribuir”, destaca a pesquisadora.

Apesar das dificuldades do isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19, o desejo de ajudar as pessoas com a ciência é o que não a faz desistir das pesquisas. “O que faz nós sermos cientistas é essa persistência. É o desejo de contribuir para que ela se realize. Então eu lidei com isso pensando no meu foco”. Ana Beatriz acredita que o âmbito social, o relacionamento com a comunidade e com o seu objeto de estudo, são elementos essenciais para desenvolver o seu projeto. “A intenção é plantar uma semente e, juntos, mudarmos o mundo que vem aí futuramente”.

Este texto é resultado de uma atividade de entrevista coletiva da disciplina de Redação Jornalística, dos estudantes do primeiro semestre do curso de Jornalismo da UFMA, campus de Imperatriz. A partir de um jogo de perguntas e respostas a uma fonte, foram elaborados textos individuais, que tiveram os seus melhores parágrafos selecionados, fundidos, articulados e editados. A experiência resulta, agora, na primeira oportunidade de publicação para esses e essas repórteres.