Pesquisador ressalta importância das comunidades rurais e a ciência caminharem juntas

Texto: Lucas Lima

Maria Eduarda Veloso

Maria Eduarda Santos

Mateus Xavier

Nylla Maria Dias

Pedro Marques

Rafaela Vitória

Rayra Silva

Rennan Santana

Sabrina Alves Moraes

Virna Aguida

Ilustração: Pedro Marques

Fotos: Zilmar Soares

Gustavo Botega Serra, 16 anos, estudante do 3° ano do Ensino Médio e bolsista do projeto Cientista Aprendiz, da Uemasul, conseguiu reconhecimento recente por seu estudo sobre como utilizar os componentes do óleo da polpa e da amêndoa do tucum-mirim, fruto nativo da região amazônica, para produção de um repelente à picada de insetos. “Fui o primeiro a isolar os princípios ativos presentes nele, além de identificar como cada um deles funciona, quais são os mecanismos bioquímicos e fisiológicos que atuam no nosso organismo, a partir de um estudo empírico nas comunidades”, garante.

Ilustração do pesquisador Gustavo Botega

 

Com a sua pesquisa “Óleo do tucum-mirim – avaliação do seu potencial como repelente vinculado ao modelo experimental in vitro”, Gustavo Botega foi selecionado em 2º lugar na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec) e para participar da Regeneron ISEF (International Science and Engineering Fair), maior feira de ciência do mundo, que ocorreu entre os dias 8 e 13 de maio, em Atlanta, Georgia (EUA).

As atividades iniciaram com a coleta do fruto no povoado de Ananás, no Tocantins. Em seguida, ocorreram as fases do processamento, lavagem, sanitização e análises dos aspectos físicos, conforme detalha o resumo de seu projeto, presente no site da Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia). Depois, foi realizada uma determinação da composição química da polpa do tucum-mirim não processada.

Após vários testes laboratoriais, os resultados mostraram que, em um período de três horas, houve uma redução das picadas de insetos em até 20%, e, após 36 horas, na ordem de 100%. “Já o extrato do tucum-mirim dissolveu 100% da vermelhidão de picadas de vespas, carrapatos e pernilongos em 12 horas”, complementa Gustavo Botega em um artigo científico. A descoberta, como ele ressalta, pode contribuir para melhorar as condições de vida dos moradores de regiões rurais do Brasil que sofrem com doenças ou feridas e, em alguns casos, até morte, causadas por picadas de insetos e artrópodes.

Resposta social

Como o estudo foi pensado para auxiliar esse público, não seria viável, na opinião do estudante, realizar a coleta, análise e publicação dos resultados se as informações descobertas não fossem repassadas aos moradores. “Não adianta eu desenvolver um projeto com base naquilo que eu vi, que eu vivenciei e não devolver esse conhecimento pra eles. É muito importante essa interação pelo fato de as comunidades e da ciência, para mim, caminharem juntas”, destaca. Para Gustavo Botega, a ciência não é uma exclusividade dos municípios maiores, também deve estar presente nas pequenas cidades. “Existe ciência nos grandes centros, nas grandes universidades, mas ela também está presente nas comunidades rurais, no interior do Tocantins, no Bico do Papagaio, em Imperatriz do Maranhão”.

Gustavo Botega analisa as propriedades do óleo do tucum-mirim como repelente

 

Porém, nos projetos sociais, é preciso que o pesquisador adapte a sua linguagem ao sentido de entendimento dos moradores das comunidades. “Foi de uma maneira lúdica para ter esse conhecimento mais bem absorvido pela comunidade”. Ele exemplificou que, durante as demonstrações de sua pesquisa ao público, foi elaborado um protótipo que tinha como função mostrar de forma simples, didática e objetiva, por meio de imagens, a ação repelente do óleo de tucum-mirim, possibilitando a compreensão geral.

Gustavo contou que em sua vida pessoal gosta de ser uma pessoa  mais reservada, e, por isso, não faz muito uso das redes sociais. Mas, em relação à sua pesquisa, acredita na importância da divulgação. “Além de estar divulgando o nome da cidade, do estado e da nossa região é a questão dos frutos do Cerrado que ainda não haviam sido estudados”, diferencia. A visibilidade também é importante para incentivar outros jovens do ensino médio a fazerem pesquisas, já que ele mesmo ficou surpreso ao ter a sua imagem utilizada em reportagens após ser premiado.

Dificuldades e estímulos

Muitas vezes o pesquisador se perguntou o que teria acontecido caso tivesse abandonado as pesquisas sobre o óleo do tucum-mirim em algum momento no passado. Hoje, afirma que não vê sua vida sem elas. Gustavo disse ainda, que todo esse trabalho gerou uma transformação para melhor em sua vida. “Esse projeto mudou muito minha forma de ser, minha forma de agir”, frisou.

Durante o auge da pandemia da Covid-19,  tanto o trabalho em laboratório quanto o contato com os orientadores não pôde acontecer. No geral, Gustavo Botega precisou  adaptar experimentos que seriam realizados em laboratórios para que fossem desenvolvidos em casa. “Então a pandemia foi realmente uma grande dificuldade”, lamenta.

 

Pesquisador teve o trabalho de laboratório prejudicado durante o auge da Covid-19

 

O estudante lamentou, ainda, o fato de ter que apresentar de maneira remota suas pesquisas nos congressos. “Passei mais tempo fazendo coisas no Power Point do que no laboratório”, brincou. Mesmo assim, ficaram lições. “Muitos projetos tiveram que ser parados em todos os sentidos, em todas as áreas. E mostrar que foi possível continuar e, também, ganhar com isso, conquistar com a pesquisa”, analisa.

Desde criança o jovem pesquisador já fazia perguntas “um pouco mirabolantes” aos seus pais.  Hoje, como enfatiza, a pesquisa é uma forma de responder a essas dúvidas, de maneira científica, clara e mudando sua concepção. “Eu sempre me vi, como uma criança curiosa, eu sempre fazia perguntas para os meus pais, mas perguntas que necessitavam de respostas”, recorda. Mesmo com todas as adversidades, Gustavo Botega afirma que nunca pensou em desistir. “Houve dificuldades, mas a questão de desistir nunca foi uma possibilidade”.

Ele demonstra a segurança que tem nas suas análises e suas expectativas quanto aos rendimentos. Assim que concluir a segunda etapa do projeto, por volta do final de 2022, Gustavo anuncia que irá se envolver com novas pesquisas. Enquanto isso, destaca a importância da ciência nas comunidades, nas quais percebe o seu valor como uma espécie de troca. O pesquisador recebe um conhecimento empírico por parte dos moradores, e esse saber é analisado de forma científica. “Eu acredito no que eu estou fazendo e que isso vai gerar frutos”.

Este texto é resultado de uma atividade de entrevista coletiva da disciplina de Redação Jornalística, d@s estudantes do primeiro semestre do curso de Jornalismo da UFMA, campus de Imperatriz. A partir de um jogo de perguntas e respostas a uma fonte, foram elaborados textos individuais, que tiveram os seus melhores parágrafos selecionados, fundidos, articulados e editados. A experiência resulta, agora, na primeira oportunidade de publicação para ess@s futur@s repórteres.