Pesquisa da UFMA desvenda onde trabalham e o que fazem os fotojornalista maranhenses

Repórteres: Ana Luiza Palmeira e Virna Águida

Fotos: Ana Luiza Palmeira e Virna Águida

“A grande maioria me disse que voltariam a ser fotojornalistas, mesmo achando que a profissão é difícil e desvalorizada”, conta pesquisadora da UFMA que faz dissertação sobre a temática”

Nesta entrevista, que traz aspectos sobre os fotojornalistas, a historiadora, jornalista e fotógrafa Rosana Ferreira Barros, revela detalhes de como é atuar como fotojornalista no Maranhão. A pesquisa intitulada “Fotojornalismo contemporâneo: carreira, trajetória e desafios na rotina dos profissionais nas duas maiores cidades do Maranhão” conta as mudanças no mercado de atuação, devido às evoluções tecnológicas, a digitalização das redações, e a dificuldade de conciliar as exigências de diversas funções atribuídas a esse profissional, pois, agora além de tirar as fotos precisa editá-las, revela que às vezes precisam exercer até mesmo a função de assessor. Todas essas demandas são feitas para complementar a renda do fotojornalista, tendo em vista que, atualmente, seu piso salarial é, em média, de R $3.711,74 de acordo com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

Ela é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E em sua dissertação, resolveu desenvolver uma pesquisa sobre os perfis dos fotojornalistas no estado do Maranhão. “Quero entender esses profissionais que trabalham com fotojornalismo no Estado”, informa.

Por meio disso, busca entender como as mudanças que ocorreram na comunicação afetaram esses profissionais, que tiveram que sair do analógico para o digital, portanto, cria-se um panorama histórico desse campo do jornalismo na região maranhense.

Ao concluir a graduação em Jornalismo, decidiu abrir sua própria empresa de fotojornalismo em Imperatriz, chegou a fotografar grandes eventos do estado como o Salimp, a Fecoimp e a Expoimp e até mesmo fez coberturas para revistas de renome nacional, como a Época e o Globo Rural. Atualmente trabalha como técnica de áudio na UFMA, embora seja concursada como técnica de fotografia.

Seu interesse na área surgiu ainda na infância e a acompanhou durante toda sua jornada acadêmica, utilizou essa paixão como temática em seus Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) de ambas graduações. Ao entrar no mestrado decidiu expandir os horizontes de sua pesquisa e para isso foi a campo estudar sobre as adaptações, desafios, rotina produtiva e história dessa profissão no Maranhão, conversou com 18 fotojornalistas, sendo eles de São Luís e Imperatriz, para coletar as informações necessárias para a sua dissertação. Confira:

Imperatriz Notícias: O que diferencia a fotografia “comum” das imagens dos fotojornalistas?

Rosana Ferreira Barros: Quando a gente faz uma foto comum ela pode até ser interessante, chamar a atenção das pessoas, quando ela é apenas uma imagem né, uma imagem representativa daquele momento que você visualizou. A fotografia feita pelo profissional do fotojornalismo, normalmente ela tem uma pauta específica e que é decidida na redação ‘Ah nós vamos cobrir esse fato que está acontecendo ’ e ela traz consigo informação. Então não é só uma imagem meramente ilustrativa, é uma imagem que também informa, às vezes mais do que o texto ou em casamento com texto. Por que a fotografia, o texto jornalístico, a legenda, são imprescindíveis para você poder entender aquele contexto e a foto feita pelo profissional é justamente isso. Ela traz consigo informações, que basta você olhar que irá ter emoções a partir do olhar daquela foto.

IN: De que forma a era dos smartphones afetou a “visão” da imagem dos fotojornalistas?

RFB: Não seria nem tanto a visão deles da imagem influenciada pelo smartphone, mas, sim de como o smartphone dificultou o trabalho do fotojornalista. Hoje em dia, praticamente todo mundo tem um celular que tira foto e que tem acesso à internet. Quando você tem uma câmera e acontece qualquer evento perto de você, só o que se observa são pessoas com as câmeras de celulares registrando aquele evento e o mais engraçado é que essas pessoas fazem questão de mandar essas fotos para os jornais. Então, não há mais a necessidade do fotojornalista profissional fazer essa cobertura porque a população tirou a foto e levou para a imprensa. Então assim qual a necessidade de eu, quanto profissional fazer uma foto que já foi recebida de graça. Logo, o que acaba afetando os profissionais do fotojornalismo na verdade é essa super participação popular, porque não há mais necessidade deles irem a campo.

IN: Vimos que você já apresentou trabalhos sobre a precarização do trabalho fotojornalístico no XVI – Simpósio de Comunicação da Região Tocantina (SIMCOM) e a crise nessa profissão no Encontro de Pesquisa em Comunicação na Amazônia – EPCA 2020. Por que acha que isso acontece?

RFB: Teoricamente, principalmente pelo autor Jorge Pedro Sousa, fala-se que mais ou menos na década de 80 e 90, o fotojornalismo esteve na sua década de ouro,  a gente tinha revistas ilustradas, vários jornais sendo abertos, então existia uma grande necessidade do profissional de fotojornalismo, pois sempre tinha muita demanda de sair para fazer coberturas. E aí depois veio a fotografia digital, que acabou gerando uma crise, na verdade a crise não é só do fotojornalismo e sim da comunicação como um todo, que afeta o fotojornalista. Então, desde essa época que começa a digitalização, vemos essa transformação da profissão e isso afeta o profissional que se vê sem mercado, porque as revistas tornaram-se digitais. Até a Playboy fechou (risos), eles tinham grandes ensaios fotográficos, querendo ou não é estudo de luz. As revistas fecharam,  as bancas de revistas fecharam e quase não existem mais os jornais impressos. Quando essa comunicação vai para o digital, o fotojornalista não vai junto, porque as empresas não tinham mais aquela grande publicidade, que era feita no jornal, então é mais difícil captar recursos. Para solucionar isso o que eles fizeram foi: pegaram o jornalista e colocaram nesse pobre desse profissional diversas funções. Inclusive é por isso, que aqui na graduação de jornalismo a gente também aprende a ser fotojornalista.

“A grande dificuldade que eu percebo das mulheres que, na verdade, não é só das fotojornalistas, é ser respeitada enquanto profissionais capacitadas”

IN: De que forma os profissionais dessa área de atuação acreditam que podem influenciar a visão que a sociedade tem de um lugar?

RFB: A gente, às vezes não se vê como uma pessoa que está fazendo a diferença, mas, se cada pessoa fazer ali o seu papel, tirar suas dúvidas, tirar suas fotos, principalmente, os fotojornalistas que fazem a cobertura dos acontecimentos diários, de fatos que podem se tornar históricos. Depois você vai revisitar aqueles fatos “olha essa foto aqui tirada por fulano”, É interessante, eles podem até ser entrevistados por isso, às vezes você registra algo simples que pode tornar-se história. Outra forma é ao relatar,  onde a imagem tá, como aquilo aconteceu e como foi a profissão deles, como modificou, como é hoje. Tudo isso, já é uma contribuição para a sociedade, de como foi essa história, até porque a gente precisa conhecer a história da evolução da comunicação nesses últimos 20 anos. De certa forma, eles me contaram essa história.

IN: Qual um elemento que diria que não pode faltar em um fotojornalista?

RFB: O olhar. Na verdade, quem trabalha com fotojornalismo às vezes passava por um local todo dia e você nunca reparava aquele local, porém a partir do momento que você começa a capturar pequenos quadros da sociedade ou pequenos fragmentos do tempo, que é isso que a fotografia faz, congela aquele instante. Começa a reparar as coisas de uma outra forma, às vezes aquele local que você passava todo dia, você pensa “nossa aqui dá uma foto maravilhosa que poderia ter vários contextos”. Então o que é indispensável para o fotojornalista é esse olhar fotográfico que faz toda a diferença. até para a foto ser informativa precisa ter a carga emocional que ele coloca naquele registro.

IN: Você acredita que esse olhar mudou?

RFB: Não acredito que mudou, porque a gente tem décadas diferentes, talvez a gente pense que mudou por conta do processo de evolução da câmera fotográfica.  Até brinco que a minha câmera já é um dinossauro e ela foi lançada em 2010, mesmo assim já é um dinossauro tecnológico, porque hoje já tem muito mais tecnologia, mas, independente da câmera fotográfica vou conseguir fazer um registro bom, por conta do meu olhar fotográfico. Então, acho que não há muito essa diferenciação, o que há diferenciação é que alguns fotojornalistas trabalhavam muito bem com a câmera analógica e tiveram que se adaptar ao digital, principalmente a gente que nasceu dos anos noventa para cá.

IN: Onde estão os fotojornalistas no Maranhão e em Imperatriz?

RFB: Estão basicamente nas assessorias, boa parte deles saíram dos impressos e foram para a assessoria. Temos muitos profissionais também que são autônomos, ou têm estúdio. Mas não trabalham exclusivamente como fotojornalista, eles trabalham também com outras áreas, temos fotojornalistas que pesquisam, em agências, temos fotojornalista exclusivo de rede social. O fotojornalista em Imperatriz, pelo que eu pude ver da minha pesquisa, ele começa junto com o curso de jornalismo, a gente tem fotógrafos que registram a cidade mas não tinha, pelo menos ao meu ver, tanta preocupação com a informação e é quando a gente começa a ter realmente o curso de jornalismo que começa a disciplina de fotojornalismo. Algumas pessoas que fizeram a disciplina despertaram o seu olhar fotográfico a partir dali, a gente tem mais essa preocupação, até digo que é um fotojornalista bebê, ainda tá começando (risos).

IN: Eles são felizes?

RFB: Perguntei isso para eles, caso pudessem voltar ao passado e mudar a sua profissão, se eles seriam fotojornalistas de novo. A grande maioria me disse que sim, que voltariam a ser fotojornalistas, mesmo achando que a profissão é difícil, é desvalorizada e desafiadora, inclusive fiz uma nuvem de palavras-chaves na época da minha pesquisa só com esses adjetivos que me deram.

IN: Na sua pesquisa, você dedica uma parte para falar sobre as mulheres no fotojornalismo, quais foram as dificuldades que elas relataram nessa profissão?

RFB: Me falaram basicamente, em ser respeitadas enquanto profissionais, que elas saiam para fazer coberturas, mas às vezes as pessoas passavam à frente delas, ou faziam comentários maldosos, sofriam assédio, ganhavam salário menor do que o outro profissional que trabalhava junto com ela. Então a grande dificuldade que eu percebo das mulheres que, na verdade, não é só das fotojornalistas mas nós mulheres, como todo, é ser respeitadas enquanto profissionais capacitados e tão maravilhosas quanto qualquer outro profissional.

IN: Para finalizar, como acredita que seria o jornalismo, sem a presença da fotografia?

RFB: Aí seria muito descritivo, será que as pessoas se interessaram tanto em ver as coisas sem a parte lúdica? Sem ver refletido naquela imagem fotográfica aquilo que diz no texto. Então assim o fotojornalismo, ele serviu por muito tempo para vender jornais, justamente por isso né, por causa daquela imagem impactante, aquela imagem que conta ali uma história, que atrai o olhar das pessoas e a curiosidade sobre aquele espaço, acho que o jornalismo sem o fotojornalismo seria sem graça.

A banca de defesa da pesquisa está agendada para sexta-feira, na UFMA Centro.