“O trabalho do profissional da comunicação não é imprimir o dedo no rosto das pessoas”, acredita a jornalista Rozany Dourado

Repórter e apresentadora da TV Mirante detalha sua trajetória de 13 anos, marcada por superação e amor ao jornalismo

Ana Macêdo

Bruno Gomes

Francisco Nascimento

Gabriel Araújo

Ivanilde Morais

Lara de Andrade

Rita Sousa

Stephany Apolinario

“O jornalismo marcou a minha vida”, afirma Rozany Dourado. Mãe, esposa, missionária e jornalista da TV Mirante, ela diz ter se apaixonado pela escrita como forma de expressão quando ainda estava no ensino fundamental. Seu professor de português a inscreveu em um sarau de poesias sem que ela soubesse, omitindo o número mínimo de versos para que a jovem pudesse explorar ao máximo o seu potencial. Segundo a jornalista, seu sonho sempre foi “estar nas telinhas”, porém, ao decorrer da graduação se encontrou em diversas outras áreas.

A jornalista ressaltou que em 2006 era difícil passar no vestibular, mas com o incentivo do esposo, e o esforço de estudar em casa, foi aprovada no curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão, campus de Imperatriz. “Graças a Deus eu passei nessa primeira turma”, disse. Após dois anos de casada, quando estava cursando o terceiro período, ficou grávida de sua filha Sauanne. E ao retornar para a rotina universitária, após as férias do final do ano, seu bebê, com três meses de vida, foi junto. Ela se recorda com carinho do professor Gilbert Angerami, que dava aula com a recém-nascida no colo.

Faltando alguns meses para concluir o curso, já na fase de estágio, foi surpreendida com uma segunda gravidez, só que agora de “risco”. Os médicos advertiram que ela precisava parar de estudar, ou poderia sofrer um aborto.  A acadêmica de jornalismo tomou, então, uma decisão difícil: trancar o curso. Ela lembra que quando seu segundo filho fez seis meses de nascido, voltou para terminar a faculdade. Enfatizou mais uma vez a colaboração do seu marido, pois ele convenceu uma parente mais próxima a cuidar das duas crianças enquanto ela estudava.

Participações em rede nacional são destaque na carreira de Rozany Dourado (crédito: acervo pessoal)

Essa fase foi de luta, frisa a jornalista, pois, ao voltar, conseguiu se matricular apenas em uma disciplina, a de Jornalismo Impresso. Porém, uma semana depois, a situação mudou. Rozany foi indicada pelo professor Marcos Fábio Matos, para assumir como repórter na empresa Open Door. Prestava serviço, ao mesmo tempo, em um órgão público da cidade, trabalhando apenas um turno.“E aí eu entendi: Deus está nesse negócio”, contou.

Experiência

Ao fazer um balanço dos seus 13 anos de carreira, Rozany destaca um acontecimento marcante que a levou a refletir sobre a responsabilidade e o risco de um jornalista para preservar a memória histórica. Tendo sido uma das primeiras estagiárias do curso de jornalismo a atuar no mercado, ela tentou entrevistar uma testemunha no caso do assassinato do ex-prefeito de Imperatriz, Renato Moreira, que havia ocorrido em 1993. “Eu não posso te dar entrevista senão eu vou morrer”, alertou o suspeito na ocasião. As críticas, por outro lado, diversas vezes a fizeram desanimar. Certa ocasião, ao revelar seus planos para uma colega de trabalho, ouviu: “Você não é bonita, nem competente para alcançar o padrão Globo”. A frase a abalou naquele momento, porém, deu forças para aprimorar a sua carreira.

Repórter Rozany Dourado procura pautar suas ações na ética jornalística (crédito: acervo pessoal)

Mãe e missionária da igreja Assembleia de Deus, Rozany abordou conflitos e responsabilidades éticas que enfrenta para realizar algumas pautas como Carnaval. Embora respeite as pessoas que participam e gostam do evento, confessou que não se sente à vontade em cobrir esse tipo de festa, porque não condiz com os seus princípios religiosos.

Conforme argumentou Rozany, o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros garante o direito de o profissional se recusar a cobrir assuntos que possam ferir suas posturas de fé. Apesar disso, ela já fez matérias sobre a comunidade LGBTQIA+ e mesmo da religião católica, procurando manter o respeito, o diálogo e a imparcialidade. “O trabalho do profissional da comunicação não é imprimir o dedo no rosto das pessoas, e não cabe opinar sobre as suas decisões”.

Redes sociais

Para a profissional, as redes sociais podem ajudar a descobrir eventos e acontecimentos, mas é preciso ter um olhar jornalístico aguçado para filtrar e apurar essas informações. Embora elas permitam o acesso a dados em tempo real e reduzam as distâncias geográficas, é fundamental compreender, na opinião da repórter, que, em si, não fazem jornalismo.

“As redes sociais, hoje, são um suporte fortíssimo e importantíssimo nas redações”, considera Rozany. No entanto, em vários momentos vale mais a experiência profissional do repórter. “O jornalista é aquele que pega a informação da rede social e, também, usa a pesquisa a seu favor.”. Na sua opinião, os profissionais da imprensa precisam manter contatos exclusivos em locais estratégicos, como presídios, hospitais e necrotérios. As redes sociais podem, inclusive, “derrubar o trabalho” dos jornalistas que “confiam cegamente” em suas informações, pois é necessário ter certeza de que elas estão corretas.

Rozany se recorda do alerta de uma tentativa de homicídio dentro de um hospital que foi divulgada em grupos de mensagens. Porém, antes de noticiá-la, foi necessário que a emissora de televisão a checasse com fontes oficiais. A jornalista utilizou seus contatos e encontrou um informante seguro dentro do próprio hospital, que confirmou o ocorrido. Somente após essa certeza, a notícia foi divulgada com a devida apuração.

Pandemia

A repórter expôs as dificuldades da profissão durante a época do isolamento social. “A Covid-19 é uma doença que mexe também com tuas condições psicológicas”. Ela aponta os conflitos que teve ao perder amigos de trabalho e o afastamento entre membros de sua família, por consequência da pandemia.

Cobertura da Covid-19 representou momento marcante na carreira da repórter (crédito: acervo pessoal)

Um dos desafios específicos em transmitir as informações ao vivo durante a pandemia ocorreu em relação à comunidade surda de Imperatriz (MA). “Como profissionais, tivemos que noticiar com uso de máscaras, o que era ruim pra nós. E os surdos reclamavam muito. Já é difícil pra eles assistirem e consumirem o jornalismo”. Rozany salientou, ainda, as limitações na hora de realizar uma entrevista, por conta das restrições de contato, e percebe como isso afetava nas relações com seus entrevistados.

Foi difícil, também, noticiar a morte de amigos e colegas de trabalho. Exemplificou com as angústias que sua família sofreu, já que também foi infectada junto com o seu marido. “Quando a gente percebeu que tava com Covid-19, mandei as crianças pra casa da minha irmã, pois meu filho tem asma. Tínhamos muito medo dele pegar”. A repórter acentua que, durante o seu isolamento, foi disseminada uma informação mentirosa  de que ela e o esposo estariam muito doentes. O boato foi tão forte que os moradores do bairro Itamar Guará, onde moravam, desejaram que eles saíssem de lá, “porque iriam passar Covid-19 pra todo mundo”.

Para ela, foi um período em que os jornalistas poderiam levar esperança para as pessoas já que, de certa forma, foram acusados de causar pânico. Após Rozany passar, juntamente com sua família, todo o transtorno da enfermidade, foi convidada para fazer uma matéria com uma perspectiva positiva das pessoas que venceram o vírus, tendo ela mesma como personagem. “Eu assisto aquela reportagem orando”. Ela pontua que conheceu um pouco mais de sua história com uma outra visão.

Este texto foi produzido a partir de uma experiência de entrevista coletiva com a repórter Rozany Dourado, realizada pelos acadêmicos do primeiro semestre do curso de Jornalismo da UFMA, campus de Imperatriz (MA). Estudantes da disciplina de Redação Jornalística elaboraram as perguntas, transformaram em textos jornalísticos as respostas e depois editaram uma matéria única. Esta é a primeira publicação desses futuros repórteres.