Luta além do octágono: lugar de mulher é também no MMA

Monique Bastos é um dos destaques do MMA

Texto: Rafaete de Araújo

Fotos: Arquivo pessoal de Monique Bastos

“Eu sempre gostei de esporte, jogava futebol e vi uma oportunidade para entrar no MMA, para as artes marciais”, comenta Monique Bastos sobre a sua paixão e profissão.  O MMA é a abreviação para Mixed Martial Arts (Artes Marciais Mistas) e recebe esse nome por ser um esporte que mistura golpes e técnicas do Judô, Jiu-Jitsu, Wrestling, Boxe, Muay Yhai e Karatê. Dessa forma, é uma luta que acontece tanto no chão como em pé. Surgiu no Brasil na década de 1930 e foi difundida família Gracie.

Monique Bastos tem 26 anos, é faixa marrom em Jiu-Jitsu e lutadora profissional de MMA. Entrou nesse universo entre 13 e14 anos de idade, após assistir a uma luta de Rafael Playboy. Depois do evento, chegou para ele e disse que queria fazer isso também, que desejava lutar. “No dia seguinte ele me levou para a Academia Granola e estou lá até hoje”.

O MMA teve um grande destaque com o primeiro UFC – Ultimate Fighting Championship, em 1993, que reuniu vários lutadores para um combate bem característico: o Vale Tudo, sendo na época bem improvável ver uma mulher numa competição sanguenta como essa, a não ser como uma ring girls, desfilando com uma placa, apresentando o round.

Depois de quase duas décadas, a mulher ganhou um grande destaque com a lutadora Ronda Rousey, que venceu Liz Carmouche com uma chave de braço a 11 segundos do fim do primeiro round na estreia do MMA feminino no UFC 157, em Anaheim, na Califórnia. De lá para cá não pararam mais, o que inspirou muitas outras mulheres.

“Minha primeira luta no Jiu-Jitsu eu não lembro, mas no MMA foi no Pará, com uma paraense. Foram os três rounds e os dois primeiros eu ganhei. No terceiro comecei a passar mal, vomitei e desisti, assim ela ganhou”, lembrou Monique da sua estreia no octógono.

Em 2015, Monique Bastos mobilizou um ladrão com um triângulo, um tipo de estrangulamento comum no Jiu-Jitsu feito com as pernas e o auxílio do braço do próprio adversário, quando reagiu a um assalto. O vídeo viralizou e ela ganhou visibilidade nacional.

Uma das grandes dificuldade das mulheres no MMA é a pouca visibilidade, o que dificulta conseguir patrocinadores, além das escassas categorias. “Uma das grandes dificuldades é bater o peso”, afirma Viviane Miranda, 19 anos, que estreia dia 22 de julho no MMA, categoria 62 quilos, na cidade de Grajaú. Das cinco competições profissionais, apenas quatro tem a modalidade feminina. Porém, nem todas possuem as de peso Átomo (48 quilos), Palha (52 quilos), Mosca (57 quilos), Galo (61 quilos) e Pena (66). O UFC só não tem o peso Átomo; Bellator MMA – apenas Mosca e Pena; Invicta FC (Invicta Fighting Championship) – apenas Átomo e Mosca e One Championship – todas as categorias.

Rotina

Faltando duas semanas para sua primeira luta de MMA, ela disse ser complicado conciliar tudo: “Esses dias está sendo difícil”. A rotina de treino foi alterada, agora estão treinando somente à tarde e à noite. Inicia das 15h até 17h e na pausa do descanso, Viviane vai em casa. Ela tem um filho de três anos, e ficar longe dele também é uma dificuldade. Às 19h já está de volta à academia e o treino segue até por volta das 22h30.

Viviane Miranda iniciou no Muay Thai aos 15 anos por questão de saúde, e, com passar do tempo, foi gostando cada vez mais do esporte. Recebeu um convite do amigo faixa preta Junior Big para conhecer o Jiu Jitsu.  Depois de quatro anos é faixa branca e irá iniciar no MMA, tendo como meta chegar ao UFC. “Minha família antigamente não me apoiava, mas agora estão mais tranquilos. Sabem que é meu sonho e falam para não desistir dele por nada e nem ninguém”.

Além dessas barreiras, ela depara-se diariamente com o preconceito e o machismo. “Às vezes dá vontade de falar palavrão, mas deixo quieto, finjo que nem ouvi”, relatou como reage nessas situações. Apesar de todo espaço conquistado pelas mulheres no ringue e no octógono, a cultura de que “mulher não pode fazer isso” ainda é muito grande. Kyra Gracie, penta campeã mundial de Jiu-Jitsu e tricampeã do ADCC (Abu Dhabi Combat Club) declarou em umas das muitas entrevistas, que apesar da família difundir o Jiu Jitsu e MMA no Brasil, ela nunca foi incentivada para lutar, por ser mulher.

A Academia Granola, a qual Monique Bastos e Viviane Miranda fazem parte, desenvolvem um projeto social por nome Team Bastos. Ele é dedicado a crianças e adolescentes entre 5 a 15 anos de escolas públicas, fazendo acompanhamento escolar e treinamento de Jiu Jitsu durante todos os dias. São aulas de segunda à sexta, no sábado acontece um aulão com todos e no domingo uma parte de entretenimento. O projeto recebe o nome da atleta profissional, mostrando que a luta pode mudar a realidade de uma sociedade. “Sou muito grata por eles terem me dado essa oportunidade, e não só por mim, mas por estarem tentando tirar muitas crianças que poderiam estar no mundo das drogas e da prostituição”, agradece Kaka.

Início precoce

Carla Cristina, mas conhecida como Kaka, tem 15 anos e é faixa verde no Jiu Jitsu. Iniciou aos 6 anos, treinava numa academia do chefe do pai dela. “Teve uma competição e eu estava lá lutando. Vi a Monique pela primeira vez e ela estava torcendo por mim. Ela disse que eu era guerreira e não era para parar de lutar, pois eu ia muito longe”, relembra dos incentivos. Porém, por falta de professor, a academia fechou. Por meio da amizade com Monique, após aquela competição, conseguiu uma bolsa na Academia Granola e hoje é uma aposta tanto no Jiu Jitsu, como, futuramente, no MMA.

Kaka tem o apoio dos pais e da irmã, que juntos lutam também quanto o preconceito dos familiares, que criticam o fato dela lutar e ter uma estrutura corporal diferente das demais meninas da idade dela. “É uma coisa muito boa viver nesse universo da luta, pois sempre gostei de praticar Jiu Jitsu e é o que eu mais amo fazer”, disse ela, entusiasmada. E acrescentou: “Mesmo às vezes os familiares criticando, nós nunca desistimos, pois tem aquele ditado – insista, persista, mas nunca desista dos seus sonhos”.

Futuramente, Açailândia terá outros nomes além de Monique Bastos.Viviane Miranda e Kaka são promessas na equipe Granola. “Planejo por futuro levar o Maranhão, não só com o masculino, mas também um time feminino, com as atletas que irão levar o nome do estado no MMA”, promete o proprietário e treinador Rodrigo Granola.