Quadrilha foi pioneira no uso de intérpretes de sinais nos eventos que participa
Luana Cristina Souza
Com mais de 25 anos de história, a Junina Arrasta Pé, uma das maiores quadrilhas do Brasil, encanta o público com seus espetáculos emocionantes e cheios de energia. Foi em 2022, apresentando-se no festival “Arraiá da Mira”, que o público presente se surpreendeu com algo novo nos tablados: a presença de uma intérprete de Libras como parte do espetáculo. Tornou-se assim, a primeira junina do Brasil com essa modalidade de interpretação.
Formado em 1999, o grupo ao longo desses anos rapidamente conquistou seu espaço no cenário cultural do Nordeste. Reconhecida entre as grandes juninas, acumula títulos e uma quantidade expressiva de seguidores nas redes sociais: são mais de 40 mil admiradores do grupo, entre eles a comunidade surda. “A gente queria que o espetáculo fosse prestigiado por toda a população”, destaca Victor Sabbag, diretor artístico do grupo.

“O espetáculo não era entendido por todos, precisávamos ir além. Baseado nisso a gente quis prestigiar a comunidade surda da nossa cidade pra que eles pudessem também ter acesso as festividades do São João”, comenta Sabbag. A ideia de colocar uma intérprete iniciou-se pela necessidade de levar cultura junina a todos.
Foi nas apresentações da temporada de 2022 que a inclusão foi destaque no grupo. A presença de uma pessoa ao lado, traduzindo todo o espetáculo por meio da linguagem de sinais, encheu os olhos do público presente e virtual, já que o festival começou a ser transmitido pelas redes sociais ao vivo.

“Sinto uma responsabilidade enorme e uma honra em ser a primeira a proporcionar essa modalidade de interpretação, ampliando ainda mais os espaços inclusivos para a comunidade surda”, explica Joyce Micaele, a intérprete de Libras.
Essa representatividade para comunidade surda foi de grande relevância, pois o sentimento de acolhimento os deixou mais felizes. Além de acompanhar as lindas apresentações também poderiam entender toda a narrativa. A acessibilidade nos espaços culturais é indispensável, pois ajuda a reduzir a discriminação e exclusão dessas pessoas. “Ao realizar a interpretação dentro dos tablados, os surdos podem, além de entender em sua língua, sentir o ritmo, o balançar, a emoção”, explica Joyce.
Desafios
Mesmo após três anos desde a primeira apresentação com a inclusão da linguagem de sinais, persistem algumas dificuldades. No local onde ocorrem as apresentações, por exemplo, ainda falta um espaço prioritário para a comunidade surda nesses eventos. A grande questão é que eles precisam estar em um lugar específico, de frente à intérprete, para conseguirem ter uma melhor visualização.
“Acredito que hoje é muito mais na questão organizacional. A junina faz a parte dela, que é levar e anunciar que tem uma intérprete para que as pessoas possam ter esse acesso. Mas, infelizmente, não temos a capacidade de mexer na estrutura”, expressa Victor Sabbag.

Reconhecimento
Em 2022, o grupo foi indicado pelo vereador Francisco Messias, para receber uma moção de aplausos pelo ano brilhante que tiveram entre títulos e o trabalho que tem feito pela cultura da cidade e com os jovens. A Câmara de Vereadores de Imperatriz recebeu os componentes reconhecendo a importância do seu trabalho na cultura do município.
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.