Feira do Ribeirãozinho: espaço de vendas e vivências

Feirantes contam relações afetivas e de trabalho com a feira do município de Governador Edison Lobão

por Solange Oliveira

O relógio marca 7h30 da manhã em ponto, o domingo parece mais animado na Feira do Ribeirãozinho, clientes e feirantes parecem eufóricos. Carros e motos buzinam por toda parte, as pessoas conversam alto, umas pedem desconto com um sorriso no rosto na intenção de convencer o feirante, outras compram felizes da vida por ganharem quatro itens a mais do que o comprado. Um bom negócio, os dois lados se beneficiam.

Alimentos típicos são comercializados na principal feira da região. Fotos: Solange Oliveira

A feira é conhecida pela variedade de produtos orgânicos, caseiros, de todos os tipos e preços. Lá se vende de tudo: frutas, verduras, legumes, feijão, farinha, leite, peixe, temperos caseiros naturais, mudas de plantas, chapéus, formas de bolo e pão, utensílios de cozinha e até café da manhã. Dessa forma é possível apreciar a diversidade de cores, sabores e cheiros de alimentos típicos da região. Todas essas iguarias e artigos ficam em barracas improvisadas com caixotes e guarda-sol, aqueles grandes usados na praia, alguns feirantes optam por “carrinhos ambulantes”.

Um desses carrinhos é de Nilton Vieira da Silva, 56 anos, cearense, veio sozinho para o Maranhão há 30 anos, acabou conhecendo sua companheira e esposa Maria da Cruz Silva, assim formou sua família com três filhas. Há sete meses Nilton foi sozinho morar em Estreito, deixando a família, segundo ele, quando se estabelecesse voltaria para buscar tudo que ficou. E assim iniciou uma busca de melhores condições de vida e renda, no entanto meses depois acabou voltando para o Ribeirãozinho. “Tudo fica mais difícil quando estamos longe de casa, da família, sabe”, conta com os olhos marejados, a comodidade e saudade das raízes o trouxe de volta.

Venda de alimentos típicos são a principal fonte de renda das famílias, mas comércio é inconstante.

Depois de tudo isso, Nilton relata que acabou dando mais valor ao que tem, passou a reconhecer o real valor da Feira do Ribeirãozinho. A feira é praticamente dentro de casa perto de tudo e de fácil acesso, para os feirante e consumidores. De acordo com relatos, a feira é um bem precioso para os moradores principalmente para Nilton.

“Faz bem para a saúde do corpo e da mente, eu gosto do movimento da feira, distrai muito a gente, faz bem pra mim sabe, aqui eu fico em paz”.

O feirante conta que apesar do pouco tempo que trabalha na feira, foi capaz de adquirir conhecimento. “Construí família e amizades que vou levar pra vida toda, tenho amigo demais, graças a Deus”. Ele relata que já participou de muitas feiras em outros lugares, no Estreito, Montes Altos, Porto Franco, Imperatriz e João Lisboa, mais nada se compara a feira do Ribeirãozinho. “Aqui é meu lar, meu lugar de conforto e paz”, diz e completa que o melhor é não ter que se preocupar em pegar ônibus ou van para poder chegar ao local de trabalho. “Às vezes a gente perde horas e horas esperando condução, e acaba chegando atrasado”. Ao se despedir faz uma leve propaganda de seus produtos. “Aqui tem uma saladinha completa, eu trabalho com a fôrma de pão caseiro, fôrma de alumínio para bolo, batedor de ovos, abridor de lata, chapéus, bolas de futebol, tábua de cortar carne, kit para churrasco, facas de cozinha, tem até bainha para foice”.

Temperos como o açafrão e o corante são facilmente encontrados no local.

Um pouco mais a frente, Rosângela Maria Silva Batista, 54 anos, uma senhora negra e alta, com cabelos grisalhos, simpática balança um cordão na mão, ela está sentada em uma cadeira verde feita de madeira. Na sua frente dá pra ver uma mesa mediana, sobre ela há bandejas cobertas, dois potes um escrito leite em pó e o outro açúcar, três garrafas térmicas, manteiga, alguns talheres e pratos. A vendedora menciona que às 6h já está com tudo pronto, só esperando os clientes chegarem, vende café da manhã. Antes das nove horas é visível, já não resta mais nada para comprar. Ela conta sobre sua rotina e deixa claro que sua vida sempre foi uma peleja.

“Minha infância foi trabalhando na cozinha alheia, ajudando minha mãe em casa e cuidando dos meus irmãos, precisava ajudar financeiramente em casa pra não morrer de fome”.

A vida é melhor agora do que antes, Rosângela descreve suas memórias com tom de liberdade. Sua renda financeira vem exclusivamente das vendas no domingo, consegue se sustentar e viver com conforto, sem preocupações. “Minha vida é essa aqui, vendo café da manhã na feira, quando chego em casa vou cuidar do almoço, estou com saúde, é o que importa”.

A verdade das vendas

O som dos automóveis começa a invadir o local, a hora do almoço se aproxima. No início da rua, há uma grande extensão de caixotes e quatro guarda-sóis, uma ótima escolha para dar destaque as variedades de frutas e verduras. A barraquinha improvisada é de Maria Sandra Mourão Barboza, 48 anos. Diferente dos outros domingos, esse não foi tão lucrativo. “Domingo passado uma hora dessas minha filha, eu já estava indo pra casa”.

 Às vezes é difícil sustentar família só com o que lucra da feira, realidade de muitos feirantes da localidade. De acordo com relatos as feiras são inconstantes, estão sujeitas a momentos bons e ruins. “Tem dias que vende mais e dias que vende menos”. Sandra nem sempre trabalhou com feira, dois anos atrás era assalariada em um curtume da cidade – indústria que trabalha com couro animal – saiu do emprego por ter adoecido. “Os produtos químicos eram fortes demais, acabaram comigo por dentro”. Por esse motivo, ela resolveu ser dona do próprio negócio, tem um sacolão na rua principal, vende frutas e verduras de todo tipo. “Vendo pimenta, mel, azeite de coco babaçu, banana, maçã, quiabo, temperos caseiros, atendendo todos os gostos”. Para ela, a única dificuldade de trabalhar na feira é conseguir os produtos. “Trabalho com essa mercadoria, mais ela não é minha. Eu pego e na segunda tenho que pagar, mesmo se eu não conseguir vender”.

Ao ter contato com a vida dos feirantes, foi possível saber mais sobre as condições de vida, as dificuldades e esperanças escancaradas à medida que falam, O lado bom e ruim desta realidade. A beleza se mostra nos pequenos detalhes, desde um “bom dia”, até um “volte sempre e até mais”.A feira é um lugar onde se encontra de tudo, inclusive sentimentos de aconchego, superação, esperança e momentos de partilhar vivências.

  • Reportagem de vivência produzida na disciplina de Técnicas de Entrevista e Reportagem (2023.1), orientação da profa. Yara Medeiros