“Eu me apaixonei pelo real e deixei um pouco a ficção de lado’’, diz jornalista cearense

Emmanuel Montenegro encontra no livro-reportagem uma maneira de contar histórias de vida

Jornalista Emmanuel Montenegro dedicou-se a narrar histórias de pessoas comuns do interior

Texto: Andréia Liarte

Fotos: Divulgação

Nascido em Iguatu, no Ceará, o jornalista e escritor Emmanuel Antunes Montenegro Maia, 42 anos, sempre foi apaixonado por ficção. Mas foi cursando a faculdade Estácio Fic, em Fortaleza, na qual se formou em jornalismo, que o amor por histórias da vida real nasceu. Em seu livro Tramas de Calçada, que foi seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), Montenegro, além de relatar um pouco da história de sua cidade natal,  também conta a trajetória de cinco amigas que, nas décadas de 1980 e 1990, se reuniam todas as noites na calçada da casa de uma delas para conversar. ”Quando a faculdade foi caminhando eu fui descobrindo as histórias de vida, eu me apaixonei pelo real. Eu deixei um pouco a ficção de lado. E desde então tenho me dedicado à vida real e essa história das novelas ficou meio que algo que alimentou o que eu sou hoje”, afirma.

Montenegro trabalhou em meios de comunicação importantes do estado, como a TV Diário e O Povo. Atualmente é dono da Edições BPM-Biografias, Perfis e Memórias, que é um selo editorial criado por ele para registrar os seus livros.

Livro conta as histórias de personagens de Iguatu, no Ceará

A calçada que conta histórias

O autor encontrou dificuldades para publicar o livro Tramas de Calçada, como, por exemplo, o medo de algumas personagens, como Marilu, que era vítima da repressão do próprio marido. “Quando foi pra publicar, ela simplesmente não queria.  E ela ficou com receio tanto dele, apesar deles serem separados hoje, mas são amigos, quanto dos filhos ficarem incomodados com essa história que ela falou”, revela o jornalista. Montenegro levou um mês argumentando para convencê-la de que o depoimento deveria ser publicado.  “Ela faleceu, teve um câncer. E os filhos e os parentes agradecem por aquela história estar num livro, a história dela. Imagina se ela não tivesse autorizado, se não tivesse dado certo”.

O jornalista diz que o intuito da criação do livro foi para homenagear a sua cidade natal, que lhe traz boas lembranças de sua infância. “Eu fui criado nessa calçada que elas se reuniam e eu lembro que de repente essa minha aptidão e vocação pra contar histórias é porque eu era criança, três, quatro, cinco, anos. Aí sentava na calçada, vinham os amigos e todos ficavam conversando. E eu só ouvindo, ouvindo… Então acho que por isso hoje eu conto histórias, porque eu gosto de ouvir e de contar”.

De acordo com Emmanuel Montenegro, após a publicação da primeira edição do livro, muitas mulheres de Iguatu lamentaram, porque as suas histórias não foram contadas. Montenegro pensa em um projeto futuro sobre a segunda edição.  “Então eu até pensei: ah, quem sabe eu não publico uma segunda edição e trago novas histórias, com novas mulheres, acho que seria bacana. É um projeto que tá guardado aqui”.

Processo de elaboração dos livros

Para Emmanuel, o processo da escrita vai mudando à medida que ele vai escrevendo. “É um processo orgânico, eu acho. E por mais que você tenha traçado tipo, primeiro capítulo é assim, segundo é assim, tudo muda na hora da escrita. A escrita tem vida, né?”. O jornalista conta que toma todos os cuidados com as declarações que colhe dos entrevistados na produção de seus livros.  “Eu acho que a gente tem que ter esse cuidado com o biografado. Quer dizer, ele falou aquilo, ok, mas quando você bota aquilo na escrita, você fala: ‘Hum, acho que isso não vai ficar legal’. Então você volta pro biografado: ‘Tem certeza que você quer falar isso num livro?’”, porque é como um fato histórico errado”.

O escritor afirma que prefere uma linguagem mais simples em seus livros para que todos possam compreender melhor a obra. “Claro que eu escrevo pra todo tipo de leitor, mas assim, eu quero escrever pra alguém que não tenha o ensino completo leia e compreenda aquele texto da mesma forma que um culto. E por isso eu não preciso escrever de forma difícil”, acredita Emmanuel.

A entrevista original com o jornalista foi feita no contexto da pesquisa Jornalistas escritores de livros-reportagem no Nordeste, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa Jornalismo de Fôlego, do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, pela estudante e pesquisadora Yanna Duarte Arrais.