“Entendi que dentro do jornalismo eu poderia trabalhar a parte social”, diz Idayane Ferreira, do Portal Assobiar

Jornalista lembra sua formação e revela bastidores do site que coordena ao lado da repórter Daniela Souza  

Camyle Macatrão

Iago Sousa

Karla Oliveira

Luana Rodrigues

Renata Sousa

Thallison Freitas

Formada em Comunicação Social há oito anos, Idayane Ferreira, em entrevista coletiva aos acadêmicos de Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), comentou sobre como se descobriu nessa área. “Minha trajetória vem de uma vontade muito grande de ser jornalista, por gostar de escrever e de querer entender que dentro do  jornalismo eu poderia trabalhar a parte social”, contou a hoje sócia-fundadora do Portal Assobiar.

Idayane afirma que sempre teve interesse por movimentos sociais. Por causa disso, assim que entrou para o curso, em 2011, decidiu fazer parte de grupos de pesquisa que trabalhassem com esse tipo de pauta. Foi então, que ela se envolveu com o projeto Alcântara Maranhão (Alma). “Era um grupo multidisciplinar, formado por estudantes de diferentes cursos, que acompanhava comunidades impactadas pelo Centro de Lançamentos de Alcântara [MA]”.

Ela relembra que, depois do projeto Alma, migrou para o Programa de Educação Tutorial (PET). De acordo com o portal oficial do Ministério da Educação (MEC), trata-se de um grupo de pesquisa e extensão desenvolvido por alunos de diversos cursos e    supervisionado por docentes de várias instituições de Ensino Superior do país. Nessa época, Idayane participou de estudos e levantamentos acerca do perfil de catadores de material reciclável de Imperatriz (MA).

Depois de terminar a graduação, enquanto trabalhava na Justiça dos Trilhos, uma organização com sede em Açailândia que assessora comunidades afetadas pela mineração, Idayane foi percebendo que nem sempre era fácil pautar questões sociais e de direitos humanos. Como esses assuntos tinham pouco espaço na mídia, não despertavam  o interesse do público.

Em agosto de 2020, durante a pandemia da Covid-19, junto da repórter Daniela Souza, uma amiga que também atua no Terceiro Setor, decidiu criar uma  nova iniciativa de mídia independente. “Foi a partir da percepção de que a cobertura desses tipos de pauta ainda era muito enviesada que a gente criou o Portal Assobiar.” A primeira versão funcionou até março de 2021 e, depois de um período de estudos estratégicos, o projeto foi reativado em dezembro do mesmo ano, sendo que as atividades do site foram retomadas em setembro de 2022.

Bastidores

A gente tem muitas ideias, mas ainda não temos recursos e nem pessoas”, destacou Idayane sobre o Portal Assobiar. Trata-se de um projeto jornalístico colaborativo regional e digital, que visa combater os desertos de notícias no Maranhão e na região Tocantina. As pautas principais são as questões de meio ambiente, direitos humanos, cultura e feminismo.

Idayane Ferreira e Daniela Souza experimentam novos olhares jornalísticos no Portal Assobiar (crédito: Darlane Ferreira)

A dupla fundadora gere a iniciativa de maneira híbrida. “Mudei de estado assim que a gente iniciou o projeto”, diz a jornalista. Daniela ficou responsável por fazer as coberturas presenciais e externas, enquanto Idayane cuida da parte administrativa e criativa do portal, de forma remota.

“Tudo que nós aprendemos do Terceiro Setor foi na prática”, declara Idayane com relação à sua formação universitária. Até 2021, o curso de Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), não oferecia a disciplina de Gestão de Empresa Jornalística. Os discentes se formavam sem nenhuma base administrativa, situação que se modificou com a reformulação do currículo e implantação de uma nova grade de matérias. 

Para contribuir com sugestões mais diversificadas e plurais para a área, a entrevistada revela ter em mente um projeto de extensão para os futuros graduandos da universidade. A partir dele, pretende indicar a dimensão administrativa do curso e aprofundar os conceitos sobre o Terceiro Setor, ampliando os conhecimentos dos estudantes. “É sobre ajudar os alunos a perceberem que eles têm muitas possibilidades, podem ir pro Terceiro Setor, para a TV, web. Podem criar os seus próprios canais”, considera Idayane.

A jornalista também comentou a respeito do mais recente projeto do Portal Assobiar: um podcast sobre quadrilhas juninas estilizadas da região Tocantina, lançado em junho de 2023.  “O nosso intuito era que a gente pudesse trabalhar de forma regional, que as pessoas pudessem se identificar com os temas e com questões que a gente aborda”.

Repercussão

Quando o Portal Assobiar atingiu a marca de 13 mil impressões após seis meses de reativação do site, Idayane e Daniela ficaram surpresas. “A gente não tem conteúdo diário. Temos uma produção pequena, mas estamos conseguindo chegar em vários lugares”, confirmou Idayane. Ela destacou que as impressões no Google significam que um usuário viu um link para o Assobiar na Pesquisa, no Discover ou no Google Notícias. Na última medição já haviam ultrapassado 25 mil impressões. “Pra gente é um feito, porque não pagamos anúncio nem impulsionamentos”, analisa.

O Assobiar traz notícias, reportagens e textos opinativos sobre questões ligadas aos direitos humanos. Geralmente os conteúdos são atualizados todas as segundas-feiras. Porém, certa vez, devido à necessidade de realizar ajustes no site, Idayane e Daniela não conseguiram publicar no horário habitual. Logo começaram a receber mensagens das pessoas perguntando se o site tinha “caído”. Foi aí que elas tiveram a noção do alcance do portal.

Idayane relata que ela e Daniela estão empenhadas em entender a audiência. Elas ficam atentas ao que o público está interessado, mas também não deixam de tratar assuntos necessários. “A gente tem tentado verificar o que as pessoas gostam, mas também colocar aquilo que propusemos. Falar de meio ambiente, de cultura, fazer perfis de mulheres”.

Os temas das matérias são tratados de forma que as pessoas se identifiquem, conforme frisou Idayane. “Teve muita gente que chegou no Portal Assobiar, porque começamos a produzir sobre as quadrilhas juninas. E aí ficaram porque gostaram dos outros materiais que encontraram lá”. A gestora acredita que essas iniciativas culturais são “muito afetivas”, o que proporcionou, inclusive, mais audiência para o portal.

Este texto foi produzido a partir de uma experiência de entrevista coletiva com a jornalista Idayane Ferreira, realizada pelos acadêmicos do primeiro semestre do curso de Jornalismo da UFMA, campus de Imperatriz (MA). Estudantes da disciplina de Redação Jornalística elaboraram as perguntas, transformaram em textos jornalísticos as respostas e depois editaram uma matéria única. Esta é a primeira publicação desses futuros repórteres.