Pais e professores do ensino fundamental e infantil lidam com os obstáculos nas aulas remotas
Texto: Andréia Cabral e Larissa Pereira
Fotos: Arquivos pessoais das fontes .
Com a chegada da Covid-19, a população imperatrizense presencia um novo tempo. Mudanças de hábitos foram adotadas na tentativa de diminuir a transmissão do vírus, que de acordo com o Portal da Transparência, atualizado no dia 17 de dezembro de 2020, causou um total de 400 mortes na cidade. O distanciamento social foi uma dessas mudanças e, por esse motivo, as instituições de ensino aderiram ao ensino remoto, o que contribuiu para que o ano letivo dos alunos fosse menos prejudicado. Porém não só as crianças, como também os pais sentem dificuldades com as aulas on-line, como ansiedade, estresse, pouco acesso tecnológico e falta de tempo para desenvolver as atividades juntos dos filhos.
A dona de casa Thaís Soares da Silva, 26 anos, conta que sua filha Evellen da Silva, de 6, estuda em uma escola municipal do bairro onde moram em Imperatriz. Com o retorno das atividades remotas, a mãe percebeu que a filha demonstra uma série de momentos exaustivos nas horas dedicadas às atividades. Ela chora e reclama para não fazer os exercícios, e a mãe prefere buscar blocos de atividades impressas na escola, para que Evellen se sinta mais confortável, tendo contato com o material físico. Além do desgaste emocional da menina, Thaís relata que para assistir às aulas e ter acesso às atividades, usa um aparelho celular com internet de dados móveis. Entretanto, quando falta este recurso, a única solução é a ajuda da vizinha, que compartilha o wi-fi. “É ruim pra mim, eu não tenho internet em casa. Às vezes uso a internet da vizinha, que também fica com o sinal fraco. Isso se torna mais um motivo de estresse”, explica. A dona de casa relata que as atividades são entregues por meio do aplicativo WhatsApp, uma maneira que os pais encontraram para facilitar o envio dos exercícios para os professores.
Adaptações
A dificuldade de ensinar os filhos no novo ensino em tempo pandêmico vai além dos entraves tecnológicos, a falta de tempo dos pais também se torna um desafio. A comerciante Eynaria Rodrigues da Silva, 27 anos, relata que a sua filha Isabella Rodrigues Silva, 9, não tem se adaptado à nova realidade de ensino, e garantia, em outubro, que se as aulas voltassem ainda em 2020, ela não iria à escola por medidas de prevenção. Mas garante fazer o possível para que a menina conclua o ano letivo de uma forma que não a force tanto no quadro psicológico. Segundo a mãe, Isabela, que estuda o terceiro ano do ensino fundamental, sente falta dos coleguinhas da escola, porém a melhor maneira adotada até agora são as aulas remotas, sendo que o acesso é feito pela plataforma Geduc. A comerciante comenta que deixa a filha à vontade, pois percebe que a reação da criança é extrema diante da necessidade de adaptação. “Ela chora, porque eu disse que esse ano ela não vai voltar à escola”, ressalta Eynaria ao lembrar como sua filha reagiu quando soube que as aulas não seriam presenciais.
O desemprego, a redução salarial e a falta de serviços para os trabalhadores informais foram algumas das consequências econômicas da quarentena da pandemia do coronavírus. E para muitas famílias restou apenas a opção de transferir seus filhos de escolas particulares para estabelecimentos da rede pública de ensino. Foi o caso de Maria Elisângela Leite Pereira, 39, que é mãe de Halice Leite Lima, 7, e Heloisa Leite Lima, 11, que foram pegos de surpresa, e tiveram que se adaptar às novas mudanças, que não foram as melhores. As filhas tiveram que ser transferidas para uma escola municipal da cidade, pois devido às dificuldades financeiras, os pais não tiveram como mantê-las na escola particular. A mãe sentiu diferença no modo de ensino e conta que na rede pública as filhas não assistem às aulas remotas, somente as atividades programadas na plataforma Geduc. Para ela, é algo que deixa o aluno sem o compromisso de assistir às aulas todos os dias no mesmo horário.
As filhas continuaram na escola particular por quatro meses durante a quarentena. De início as aulas eram via whatsApp, passando em seguida para atividades gravadas pelos professores e adicionadas na plataforma Plural. “A adaptação está difícil, pois também sou estudante no mesmo horário das minhas filhas e ainda faço estágio da faculdade. Então muitas vezes não tenho como acompanhar nas suas atividades, confesso que fico sobrecarregada, e às vezes não temos bons resultados”, explica a mãe. A forma das crianças se comportarem mudou e vários pontos negativos foram percebidos pela mãe, como a aproximação e tempo maior delas no uso do aparelho celular, o que causa relaxamento total e as deixa desatentas. “O ano letivo vai ser concluído, só que um pouco atrasado, e sem muito aproveitamento. Minhas filhas estão com muitas saudades da escola e vivem falando que não veem a hora de poder voltar”, comenta Elisângela.
Professores
As adversidades em torno das aulas remotas também atingem os professores do ensino fundamental. Jessica Conceição, 26, leciona na rede municipal de Imperatriz e seus alunos têm em torno de dez a 16 anos. Com a volta às aulas on-line, ela ressalta as dificuldades na adaptação à plataforma de ensino e a falta de recursos tecnológicos dos estudantes, o que os prejudica na aprendizagem. Para possível resultado positivo no ensino, a professora se adequa ao novo método com o uso de vocabulários, textos e inserção de mídias como vídeos para dinamizar as aulas, além das atividades que podem ser realizadas com a ajuda dos pais. Jessica explica que as tecnologias que os alunos utilizam são apenas as proporcionadas pelos pais e que a maior parte de sua turma usa o aparelho celular para estudar.
Mesmo assim, a aprendizagem é bastante prejudicada, pois os alunos que não possuem acesso às tecnologias necessárias não conseguem desenvolver suas aulas a partir de um plano de estudo. “Desde a adaptação das atividades propostas, aquisição de tecnologias pertinentes ao ensino e aprendizagem foi um grande obstáculo para os alunos. Vale ressaltar as inúmeras dúvidas que os alunos possuem com relação aos conteúdos”, destaca a professora. “São dias difíceis que estamos passando e tem todos os aspectos da humanidade, mas com fé e esperança superaremos tudo isso”.
Para a professora Delcina Oliveira da Silva Pereira, 43 anos, o período é de muita dificuldade relacionada à tecnologia. Para se adaptar à didática da nova forma de ensino, ela teve que fazer modificações em um espaço da casa para trabalhar. Desde o começo das aulas remotas, a professora já fez inúmeras mudanças no modo de aplicar aulas, sempre buscando alternativas para melhorar e facilitar o conhecimento dos alunos. “Mas pouca coisa podemos fazer com o meio que foi destinado ao trabalho. A plataforma que usamos vive em manutenção, todos os dias é modificada. É de difícil acesso para todos da comunidade escolar”, comenta Delcina. A professora resume inúmeras complicações relatadas pelos responsáveis dos alunos, como a falta de tempo, paciência e dificuldades tecnológicas, além de destacar que boa parte deles são criados pelos avós e muitos são analfabetos e não compreendem os exercícios recebidos pelas crianças. “Alguns não confiam no que os pais dizem, falam que os pais não sabem, quem sabe é a tia da escola. Já para os alunos, não foi dado nenhum aparato tecnológico. E os alunos e pais que não tem internet em casa, pedem aos vizinhos, pois somente os dados de internet dos celulares não são suficientes para realizar as atividades todos os dias”, ressalta a professora. De acordo com Delcina, para tirar dúvidas e eventuais perguntas sobre as aulas, os professores criaram não só grupos de WhatsApp, a melhor maneira acessível para todos, como também disponibilizaram atividades físicas para os estudantes com dificuldades ao acesso da plataforma.