“Em vez de o coração acelerar, o coração vai ‘acerolar’”: Entrevista com o cantor e fenômeno da Internet, Murart

Repórter: Maria Eduarda Santos

Fotos: Arquivo pessoal do entrevistado

Acerola vem de uma piada com os meus amigos. A gente tava falando “acelera” e um amigo meu acabou falando “acerola”, achei aquilo muito engraçado. Eu falei “cara, eu acho que isso dá uma música muito legal”.

Trocadilhos e uma simplicidade que “aquece o coração”, como descreve o artista, fizeram de “Acerola” um sucesso na internet nos últimos dias. Contando com 383.628 reproduções no Spotfiy, a música alcançou a primeira colocação no Top 50 virais no Brasil.

Em suas redes sociais o crescimento também foi notável: em 5 dias, somente no Instagram, o número de seguidores já ultrapassava 60 mil.  

Na internet desde 2019, o cantor e compositor carioca Pedro Henrique Fernandes, de 22 anos, mais conhecido pelo nome artístico Murart, inspirado por diferentes estilos e gêneros musicais, cria no indie, suas próprias combinações. O gosto pela música surgiu na sua adolescência por influência dos pais, que apesar de não serem do ramo, sempre ouviram música, o que com o tempo, o aproximou de bandas brasileiras, indo desde Legião Urbana, até Exaltasamba.

Foi nesse convívio com a música que aos seus 17 anos, no quarto de sua mãe, escreveu sua primeira faixa intitulada “20 Minutos sobre o Fim”, que narra o mundo em um cenário apocalíptico. Atualmente, ele concilia a faculdade de Comunicação Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com a vida artística independente.

Em sua casa, via Google Meet, Murart falou da origem do nome artístico, a relação com os fãs, haters, deu detalhes sobre o hit que “acerolou” o coração dos internautas e mais.

Imperatriz Notícias: Dia 27/04, “Acerola” entrou para o top 50 faixas virais no Brasil no Spotify ocupando a primeira colocação. Pra você, qual o diferencial da música, que fez com que se tornasse um sucesso?

Murart: Eu acho que tem duas coisas. A primeira, é que essa música tem inspiração nas animações que eu sempre gostei de consumir. Eu sempre gostei muito de Steven Universo, Hora de Aventura. O pessoal que gosta de Steven Universo foi o primeiro a realmente consumir a música e dar esse apoio que me fez olhar e falar “caramba, tem um potencial bem legal, as pessoas estão escutando”. O segundo fator é pela simplicidade. Eu acho que a simplicidade é o que mais conquista na música. Porque mesmo quem não conhece, não entende de onde vêm as referências, ou não é muito disposto a ver as animações atuais, vai encontrar na música uma simplicidade que aquece o coração, sabe?

IN: E como foi o processo de criação de Acerola?

Murart: Acerola vem de uma piada com os meus amigos. A gente tava falando “acelera” e um amigo meu acabou falando “acerola”, achei aquilo muito engraçado. Eu falei “cara, eu acho que isso dá uma música muito legal”, essa brincadeira de trocar o acelera por acerola. Em vez de o coração acelerar, o coração vai acerolar. Fui escrevendo. Aí, eu falei… “Tá, mas por que isso se chama Acerola? Por que que a pessoa vai falar errado?”. Então, eu criei essa narrativa de que a pessoa que tá cantando a música, tá apaixonada por alguém, e esse alguém, sempre quando chega perto, a pessoa fala meio errado. É o que deixa ainda mais engraçadinha a música. Eu já sabia que seria meio que um reggaezinho (a melodia), uma parada meio praiana, assim. Eu fiz primeiramente com o violão. Eu não tinha um ukulele, o Joe (como apelidou carinhosamente o instrumento). Quando eu recebi de presente de aniversário, pensei ‘Ah, eu acho que combina tanto Acerola no ukulele. Vou mostrar isso no Tik Tok e ver no que vai dar’.

IN: Você criou a melodia da música no ukulele (instrumento de pequenas dimensões com 4 cordas e popularmente associado à música havaiana). Por quê esse e não outro instrumento?

Murart: Volta pro assunto da essência. Às vezes a gente faz muita coisa na impulsividade, mas no fundo tem o subconsciente pensando o que é melhor. Eu pensei no ukulele porque ele é um instrumento pequeno, simples, meigo e Acerola é uma música tão meiga, que eu acho que é um casal perfeito. A simplicidade foi guiando, mesmo sem eu perceber.

IN: Qual é a parte mais difícil de se compor uma música?

Murart: É quando você quer criar a música, só que você não num momento criativo. E aí, você tenta forçar, mas não consegue. Mas, é todo um processo que, aos poucos, vai mudando. Tem uma música, “Vou pagar pra ver”, a melhor parte da música, pra mim, não ia ter na primeira versão dela. Que é “Agora acabou, olha o que restou. Ontem nós dois contra o mundo, hoje eu contra o nosso amor”. Só que, um dia antes de mostrar essa música pro meu produtor, eu falei, “cara, faltando alguma coisa nessa música. Eu estava lá na fase de criar, e criei, pá!

IN: Numa rede social (Instagram), você afirmou que “Companhia” é a sua melhor faixa. Por que não “Acerola”?

Murart: Eu falei e corroboro com isso. Mas é porque eu tenho um apego muito grande por Companhia. Acho que foi a segunda música que eu compus na minha vida e eu não sabia por onde começar a produzir ela. No meu coração, eu sabia que se eu produzisse com 17 anos, ela não ia sair da forma que eu gostaria. Então, eu tinha que esperar. E eu odeio esperar, eu odeio, odeio, odeio! (risos). E quando vi ela pronta, o Pedro de 2017, com 17 anos, estava muito feliz. É por isso que eu gosto tanto dela, mais do que as outras. Mas todas tem um lugarzinho no meu coração.

IN: Existe uma versão da letra da música em inglês, mas que não possui o trocadilho com as palavras. Se em português o nome da música é “Acerola” por causa da palavra “Acelera”, como se chamaria a versão em inglês?

Murart: Eu mostrei (na internet) mesmo sem o trocadilho, aí depois as pessoas comentaram: “em vez de usar ‘beat’ (bate), você pode usar ‘beet’ de beterraba” e eu falei “caramba, é verdade!”, ainda teria o trocadilho de alimento, só que em inglês. Poderia ser ‘beet’ mesmo, também é muito engraçadinho.

IN: Como surgiu o nome artístico Murart?

Murart: Muralha é meu apelido. Veio nos meus 11 anos de idade, no ensino fundamental. Na minha turma tinha 4 Pedros, e aí, tinha outro que também era Pedro Henrique Fernandes. Por isso que veio esse apelido, o Muralha era para saber que era eu. Tem gente até que acha que Muralha é o meu sobrenome. Então, às vezes eu me olho no espelho e falo: ‘Meu nome é Pedro mesmo?  Pra mim eu sou Muralha’”, sabe? É até engraçado.

“Se eu posto alguma coisa, o pessoal vai lá, comenta e isso me deixa muito feliz, porque é sinal que o público que está me seguindo é um público que também tem uma vibe (vibração, no sentido de sensação ou energia, sobre alguém ou algo) igual a minha”

IN: No dia em que a música entrou no top virais no Brasil, só no Instagram você contava com 27 mil seguidores, atualmente esse número já ultrapassou 60 mil. Como é a sua relação com esse público?

Murart: Eu estou descobrindo, sabia? Estou conhecendo essas 60 mil pessoas que decidiram me seguir e dar essa oportunidade para me conhecer. Se eu posto alguma coisa, o pessoal vai lá, comenta e isso me deixa muito feliz, porque é sinal que o público que está me seguindo é um público que também tem uma vibe (vibração, no sentido de sensação ou energia, sobre alguém ou algo) igual a minha. E eu quero saber o que elas ouvem, gostam de fazer, o que acham engraçado ou o que não acham. Acho que é uma parada que o futuro ainda vai me fazer responder com mais certeza.

IN: Houve também uma minoria que não recebeu tão bem a canção. No Twitter, por exemplo, já foram vistos comentários negativos. Como você tem lidado com essas críticas?

Murart: Eu amo saber que tem haters (pessoa que não gosta de algo ou alguém). Acho maravilhoso! (risos). Isso significa que eu alcancei realmente um número muito grande de pessoas. Mas, tem algumas questões envolvendo isso. Primeiro que, quando você lança uma música, você tem que ter noção de que vai ter um grupo de pessoas que não vai gostar da sua música. E quanto mais você cresce, mais vão ter pessoas que vão estar dispostas a gastar energia para falar mal do seu trabalho. E Acerola é uma música que é uma música que fica na cabeça. Então, vai ter gente que vai odiar por odiar, entendeu? É uma parcela pequena em comparação com a quantidade de mensagens positivas que eu estou recebendo.

IN: Muita gente, principalmente no Instagram e TikTok usam as suas músicas sem dar os devidos créditos. Por causa disso, algumas pessoas demoram para descobrir que você é o dono da canção. Como você se sente com isso?

Murart: A partir do momento que isso aconteceu, foi um mix feeling (misto de sentimentos).Uma parte de mim fica muito feliz, né, é sinal de que a música saiu do controle e está no Brasil, isso é muito bom, mas também tem o trabalho de 24 horas por dia de deixar bem claro que a música era minha. Tinha gente que sabia que a música era minha e não dava crédito, mas a maioria mesmo, não sabia. Justamente por isso eu preciso aparecer e chegar nas pessoas, para saberem que a música é minha e associarem ela a mim.

Bate bola 

IN: Uma música?

Murart: Preciso Dizer Que Te Amo.

IN: Uma fruta?

Murart: Maçã. Acerola é muito óbvio (risos).

IN: Uma bebida?

Murart: Água? (risos)

IN: Uma frase?

Murart: O novo precisa de amigos.

IN: Um sonho? 

Murart: Conseguir viver de música e arte no geral. 

Serviço: 
Para acompanhar o Murart e seu trabalho, acesse:
Spotify:https://open.spotify.com/artist/4NdgoC7JkkljrX2Q0sY5ax?si=KTsBTlFZS6mb9LP8yHBZdg
Instagram: @murart_
Twitter: @muralhakun
TikTok: omurart