Universitários insatisfeitos mudam de curso e investem no sonho

[et_pb_section][et_pb_row][et_pb_column type=”4_4″][et_pb_text]

Repórteres: Daleth Jhenifer Marinho, Lívia Nicolly Soares Carvalho e Vanessa Carvalho

Pauteiros: Sara Bandeira e Joílson Barros

Fotógrafo: Arquivo pessoal

 

O número de jovens insatisfeitos com o próprio curso tem crescido nos últimos anos. Algumas pesquisas com dados do MEC (Ministério da Educação) mostram que o número de universitários que trancam a matrícula ou desistem do curso é bem maior do que o de pessoas que concluem a graduação. Dos 362.005 ingressantes, nos IFES (Instituições Federais de Educação Superior), em 2018, 64.567 (18%) fizeram o Enem mais uma vez.

Em 2018, do total de 309.266 ingressos em curso de graduação presencial da rede federal, 33.929 (11%) se matricularam em uma Unidade da Federação diferente da de sua residência. Desses alunos, 20.243 (59,7%) concluíram o ensino médio em escola pública e já no primeiro ano, 10,4% desses alunos já haviam desistido do curso e 4,1% estavam com a matricula trancada.

Letycia passou por muitas dúvidas

O estudante de Engenharia Elétrica do IFMA (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – Campus Imperatriz), Thiago dos Santos, 18 anos, passou por um período de muitas dúvidas sobre qual carreira seguir, sempre oscilando entre Direito e Medicina, porém em 2018 encontrou o curso de Oceanografia que garante ser o curso dos seus sonhos. “Algo que me chama muita atenção e que tenho bastante afinidade”, afirma. Pela distância e por motivos financeiros ele escolheu a sua segunda opção: Direito, mas não deu certo, faltaram pontos.

Por indicação de um amigo, Thiago optou por cursar Engenharia Elétrica (IFMA). Sobre o curso de Oceanografia, ele afirma que sempre foi muito apegado à área que trabalha com o oceano, com a fauna e flora, com a preservação ambiental e conta também sobre a relutância dos pais em aceitar pelo fato do mercado de trabalho não ser tão generoso nos aspectos de empregabilidade. Ele garante que irá fazer o curso dos sonhos um dia “Pode demorar um pouco, mas pretendo”, afirma.

Edjane se sentiu aliviada quando passou no curso do seu sonho

Nos dias atuais, a insatisfação com o próprio curso tem se tornado algo comum entre os universitários, uma vez que o que eles realmente querem, na maioria das vezes, não é visto de forma lucrativa ou positiva pela sociedade, como é o caso do estudante Thiago, que não está fazendo o curso dos sonhos por questões financeiras e pela possível falta de empregabilidade. Contudo, não são somente os aspectos financeiros que impedem os jovens de investirem no curso dos sonhos. É o que acontece com a estudante de Psicologia, Bárbara Holanda, que se mantém no atual curso pela sua família.

A estudante, na Universidade CEUMA, Bárbara Holanda, 20 anos, diz que gosta do curso, mas não consegue se ver atuando na área. Inicialmente, ela se identificou com o curso e tinha vários propósitos, porém, não está mais satisfeita. Relata, ainda, que só permanece na área por causa da família. “Hoje eu ainda curso pelo meu pai, minha família, e não mais pela minha satisfação. ”, diz ela.

Bárbara sempre teve como sonho da sua vida estudar Gastronomia, mas nunca tentou cursar pelo medo, pela insegurança do que os outros pensariam e pelo mercado de trabalho. Ela conta que a vontade surgiu ao assistir programas de televisão e se identificar com a rotina.

“Eu assistia muito Masterchef e ficava fascinada e também venho de uma família de cozinheiros”, afirma. Ela ressalta que pretende cursar Gastronomia quando terminar sua atual graduação.

A pressão familiar contribui para que o jovem queira ingressar rapidamente na universidade e, consequentemente, para que escolha o curso errado. É o caso da jovem que estuda Agronomia na Uema (Universidade Estadual do Maranhão), Letícya Sá, de 22 anos, afirma que passou por um longo período de indecisão, visto que estudou Engenharia Elétrica até o 7° período e decidiu largar. “Eu não tinha certeza do que eu queria”, afirma.

Ela diz que escolheu o primeiro curso porque foi influenciada pela afinidade com as exatas –  tinha feito um curso técnico de eletromecânica anteriormente – e não gostou porque não tinha perspectiva de futuro na profissão. Antes de desistir, ela pesquisou outras áreas e seguiu o curso até escolher outra opção. Apesar disso, a decisão de largar a faculdade, depois de três anos e meio não foi fácil. Conforme disse, houve muita pressão familiar para que terminasse e também para servir de exemplo como filha mais velha. “Isso foi uma coisa que sempre me foi cobrada, mesmo que implicitamente”, conta. Hoje, no 2° período de Agronomia, ela afirma ser uma pessoa mais feliz.

Assim como a Leticya, a acadêmica de Medicina Edjane Araújo, de 20 anos, conta que antes de conseguir passar para o tão desejado curso, por medo de um futuro incerto, ela optou por se matricular no curso de Direito da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), onde estudou por um semestre. “ Eu escolhi Direito porque era no período da noite e eu poderia estudar o dia todo para o Enem”, explica. Ela acrescenta que se não conseguisse passar para Medicina, o curso de Direito era uma boa opção porque abria as portas para os concursos públicos, uma vez que os assuntos das matérias que caem nas provas de concurso público são, basicamente, os mesmos vistos na graduação de Direito.

Ela confessa que aquela seria a última vez que tentaria passar para Medicina, pois alega que não poderia mais perder tempo. Com muita felicidade, conta que conseguiu passar no tão sonhado curso. “Parece que todos os problemas acabaram naquele momento”, afirma. Apesar das dificuldades e das pressões enfrentadas no atual curso, a universitária diz está feliz.

Olhar da especialista

Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Maranhão (2014), Maiara Amorim Muniz, especialista em Neuropsicopedagogia e Educação, diz que queixas sobre o curso superior é algo bem presente e constante. Ela arrisca dizer que mais da metade dos que procuram atendimento no IFMA – instituição onde atende – trazem isso entre as demandas, seja em forma de queixa principal, seja como uma das queixas. “Talvez a coisa mais importante na escolha de um curso é o autoconhecimento, é conseguir separar o que é expectativa alheia e o que são desejos nossos”, aconselha.

A psicóloga comenta que, na atualidade, há muita incerteza e insegurança quanto ao futuro, por causa das instabilidades sociais, econômicas e políticas. Nesse sentido, as pessoas estão precisando dar conta de uma série de coisas e nem sempre conseguem equilibrar tudo, o que acaba levando a escolhas precipitadas. “Não há nada de errado em mudar de curso, seja na universidade, seja na vida”, finaliza.

 

[/et_pb_text][/et_pb_column][/et_pb_row][/et_pb_section]