Diretor da UFMA Imperatriz afirma que foi preciso fazer “verdadeira mágica” nos últimos anos

Repórteres: Rennan Santana e Lucas Lima

Fotos: Rennan Santana e Lucas Lima

O professor Leonardo Hunaldo, diretor geral do Centro De Ciências de Imperatriz, é graduado em Ciências Biológicas pela UFSB (Universidade Estadual do Sul da Bahia), mestre e doutor em Zootecnia com ênfase em melhoramento Genético animal pela UFC (Universidade Federal do Ceará). Possui experiência em metodologia de pesquisa e análise estática. Experiência em ensino, tendo atuado nos níveis fundamental, pré-vestibular, técnico e superior. Foi coordenador do curso de Licenciatura em Ciências Naturais da UFMA (Universidade Federal do Maranhão) em Imperatriz por três anos, foi gestor da Sinfra (Secretaria de Infraestrutura) e há 1 ano e 4 meses está na Direção Geral da UFMA Imperatriz.

Desde que assumiu a direção da instituição, o professor Leonardo tem se empenhado ao máximo para resolver as demandas e problemas referentes aos direitos dos discente, docentes e afins. Mesmo com todas as limitações que possui a universidade, o diretor Leonardo procura com muito empenho junto às autoridades e reitoria a melhoria das condições físicas dos prédios, da qualidade do ensino e ampliação das dependências, solicitando, sempre que necessário, instrumentos e equipamentos para melhoria do ensino.

As universidades e institutos federais viveram nos últimos anos um dos períodos mais sombrios de suas existências, devido a vários cortes e bloqueios em seus orçamentos, esses que acabaram prejudicando seu funcionamento e afetando o ensino dos discentes. A frente da direção geral do Centro De Ciências de Imperatriz a pouco mais de um ano, Leonardo Hunaldo pode relatar bem como a universidade tem enfrentado esse período e os maiores desafios. O diretor falou também do período da pandemia de Covid-19, em que a universidade teve que aderir ao ensino remoto e projetou suas perspectivas futuras à frente da direção da UFMA Imperatriz.

“É importante até destacar o papel da gestão superior nos últimos 4 anos para fazer verdadeira mágica com o orçamento tão curto. Não tem como a gente descrever esses problemas que tivemos aqui nos últimos anos. Às vezes evitamos falar de política, mas ela nos afeta”.

Lucas Lima: Nos últimos anos as universidades e institutos federais sofreram sucessivos cortes e bloqueios orçamentários, o que acabou causando uma crise nessas instituições, com campus deteriorados, falta de materiais, equipamentos, prédios desativados, e algumas inclusive, tiveram o seu funcionamento ameaçado. O Sr. como diretor do Centro de Ciências de Imperatriz, poderia dizer como a UFMA, tanto campus centro como Bom Jesus, passou por esse período de incertezas, foram muitos afetados?

Leonardo Hunaldo: Então, os últimos anos foram bem desafiadores para a gente, em todos os aspectos, principalmente orçamentários. Com o orçamento que foi estrangulado, obras acabam ficando inacabadas, materiais para aulas práticas em quantidade menor do que o necessário, contratação de novos professores, a própria assistência estudantil sofreu também com a questão das bolsas congeladas há muito tempo, valores bastante defasados e a ampliação de bolsas. É importante até destacar o papel da gestão superior nos últimos 4 anos para fazer verdadeira mágica com o orçamento tão curto. Não tem como a gente descrever esses problemas que tivemos aqui nos últimos anos. Às vezes evitamos falar de política, mas ela nos afeta. E aqui em Imperatriz, como nós somos um Centro de Ciências, não temos autonomia financeira, e acaba acarretando um pouquinho mais. Porque passamos nossas demandas e muitas delas não conseguem ser atendidas como poderia ser. E consequentemente isso tem afetado a qualidade do ensino, mesmo os professores se virando nos trinta para poderem trabalhar com os materiais de laboratório, para aulas práticas. A gente não conseguiu fazer uma devida modernização em nossos laboratórios nos últimos anos e tudo isso acabou nos prejudicando muito. Mas agora estamos bem confiantes que esse cenário mude, já tem mudado, houve um aumento no número de bolsas aqui em Imperatriz. E mesmo com todas as dificuldades é importante ressaltar que, com a obra do novo prédio de salas de aula parada, troucemos todos os alunos que estavam tendo aula nas escolas para terem aula em vários laboratórios do curso de vocês (jornalismo), multimidia, laboratório de TV, Empresa Contável Júnior, sala da PPGCom. Ou seja, todos os espaços estamos utilizando com o objetivo de trazer esses alunos para dentro da universidade. Tá aqui na atmosfera, junto com os colegas, próximos da biblioteca.

Rennan Santana: Dados mostram que os investimentos nas universidades federais caíram quase 70% entre 2018 e 2022. O valor que foi previsto para o orçamento das instituições de ensino federais deste ano foi o menor em 10 anos. Em contrapartida o atual governo anunciou recentemente a liberação de 2,44 bilhões para recompor o orçamento das instituições. E o ministro da educação, afirmou que o governo trabalha com urgência para atender as universidades. Ou seja, se no governo anterior a educação não era prioridade, no atual é bem pelo contrário. O que o Sr. tem a dizer sobre isso?

LH: Essa recomposição que o atual governo vem fazendo é tentando chegar no orçamento que tínhamos em 2019. Hoje trabalhamos com valores menores. Ela não resolve todos os problemas, a partir dela teremos que pensar um plano a longo prazo para poder alavancar ainda mais. Então seria um primeiro aceno do governo com as Universidades e Institutos Federais para poder tentar recompor um pouquinho da verba.

LL: Sabemos que as obras do prédio do curso de medicina da unidade Bom Jesus já estão em estágio final. Porém os alunos da unidade centro pedem que olhem para eles e fazem reivindicações, alegando falta de salas, professores e exigindo melhorias na infraestrutura do campus. Que resposta o Sr. teria para dar para esses estudantes?

LH: Então, a gente é muito solicito na conversa com esses alunos, temos conversado com os chefes de CAs e esclarecido as situações. Todas as obras são diferentes. Às vezes o pessoal pensa que deixamos de priorizar aqui (campus centro) para finalizar o da medicina, mas não ocorre dessa forma. A obra de medicina começou em 2014, então aí já se vão quase 9 anos. E a gente iniciou a obra aqui em 2021. A empresa iniciou com 1 milhão em caixa para poder realizar a obra. No entanto a própria empresa quando entrou já alegou que os preços estavam defasados por conta da pandemia, realmente isso aconteceu. Só que a UFMA não pode, por questões contratuais, acordar a obra que foi orçada em pouco mais de 5 milhões e do nada ela aumentar para 8 milhões. Então a empresa deveria fazer 20-30% da obra, para a partir daí pedir os aditivos. E mesmo com os aditivos nunca iria chegar no valor. Então acabou que a empresa em janeiro de 2022 decidiu abandonar a obra. Com esse dinheiro em caixa a gestão superior teve que remanejar para outras obras da universidade não apenas em Imperatriz, pra esse dinheiro não voltar para o governo federal. E de lá pra cá, como 2022 foi o ano mais difícil em termos orçamentários, a gente vem remodelando esse projeto, inclusive agora no final de abril recebemos a equipe da superintendência de infraestrutura da UFMA. Vieram aqui engenheiros e arquitetos para verificar qual era a situação da obra. E vendo rapidamente parece que não foi feito nada ali, mas tivemos cerca de 400 mil reais em custos. Desmobilização dos prédios antigos, terraplanagem e batemos ali 120 estacas da fundação, que dá estrutura para o prédio. Então essa equipe verificou como que está a integridade dessas estacas e foi emitido o relatório. Após isso, esse relatório vai ser passado para a equipe de licitação e a gente espera que nos próximos meses com a nova licitação, recomece a obra.

RS: No dia 27 de abril foi realizada na Câmara Municipal de Imperatriz uma audiência pública para discutir a proposta de criação de uma nova universidade federal para região Sul e sudoeste do Maranhão, que envolverá as cidades de Imperatriz, Balsas e Grajaú. O que impulsionou, qual a importância desse projeto?

LH: Esse projeto é uma vontade antiga da comunidade. Eu cheguei em Imperatriz em 2011. E desde essa época já tinha a ideia de emancipar Imperatriz, Balsas e Grajaú. Com a nova universidade aqui na região nós conseguiríamos ter mais recursos e consequentemente ampliar o número de cursos ofertados, tanto de graduação como de pós-graduação. E traríamos ganhos para a população de toda a região, tanto do ponto de vista econômico e geração de empregos, diretos e indiretos, e em contrapartida social, cultural, esportes, lazer, tudo que uma universidade pode e deve oferecer para sua população. Além é óbvio de melhorar a formação dos profissionais e cidadãos críticos, que é o que a nossa sociedade precisa. Então tivemos essa audiência na Câmara dos vereadores e uma reunião com a bancada maranhense em São Luís. E o governo atual, o ministro da educação Camilo Santana, o presidente, eles já estão incumbidos dessa missão, estão bastante animados. A senadora Elisiane Gama está encabeçando o projeto, com apoio de toda comunidade. A gente fez a sessão para ter esse apoio ainda maior. E esperamos que esse ano ainda esse sonho se concretize.

“E esperamos que esse ano ainda esse sonho se concretize” (Sobre uma nova universidade no Maranhão)

LL: A pandemia de Covid-19 chegou pegando todos de surpresa, inclusive a UFMA. Nesse período a universidade teve que se adaptar ao modo remoto para continuar com as aulas. Quais foram as maiores dificuldades enfrentadas, quais soluções foram geradas e os impactos que ela causou na aprendizagem dos discentes?

LH: A primeira dificuldade que nós tivemos foi sobreviver. Ninguém sabia como seria a pandemia. Apesar de termos tido perdas, muitas pessoas se foram com a pandemia, os danos foram um pouco menores. Poderia ter sido até menor se o governo tivesse investido no momento certo nas vacinas, que foi o que controlou a pandemia. Aqui eu destaco o grande papel da gestão superior da UFMA, que agiu rápido. Nós tivemos uma interrupção das aulas em março de 2020 e já em maio a universidade estava pronta para iniciar as atividades de maneira remota. Dizer que houve ou não perdas, isso é bem complexo, mas com certeza foi um desafio para todo mundo. Os alunos terem que se adaptar, a UFMA foi a primeira universidade do Brasil a fazer doação de tablets e chips com internet para a população carente da universidade. Nós tivemos vários treinamentos, web hinários, o pessoal da STI (Superintendência de Tecnologia da Informação) se movimentou ligeiro, propôs soluções, fizemos vários treinamentos com professores que não sabiam nem mexer direito na parte. E conseguimos continuar, regularizar o nosso calendário, isso foi uma das coisas mais importantes, tem universidade que até hoje ainda não regularizou o seu calendário. Mas eu particularmente como professor que sou ainda, não escondo que prefiro aula presencial, interação. Mas o remoto veio pra ficar, as reuniões muitas delas estão ocorrendo de forma remota, as orientações. Vamos supor, eu tenho um aluno que mora no Ribeirãozinho e preciso fazer uma orientação de meia hora, antes esse aluno tinha que se deslocar para UFMA. Hoje então eu consigo fazer essa reunião de forma remota. As reuniões que nós temos da gestão superior então, uma reunião do Consul por exemplo, íamos 7 conselheiros, passagens, diárias e tudo. E hoje a UFMA não tem mais esse custo. Então tivemos também o lado bom da tecnologia. E a gente vem trabalhando para melhorar as condições também da tecnologia para vocês (acadêmicos). Mas digamos que o saldo foi positivo apesar de todos os problemas. No ano passado retornamos com as atividades presenciais, inclusive alguns cursos até vão continuar utilizando um ou outro componente de maneira remota.

RS: De acordo com o Ranking Mundial de Universidades 2023 a UFMA foi considerada a 42ª melhor Universidade brasileira, 25ª melhor Universidade Federal Brasileira, 8ª melhor Universidade do Nordeste e a 6ª melhor Universidade Federal do Nordeste. Para o Sr. o que esses resultados significam, e o que precisa ser feito para mantê-los ou quem sabe melhorá-los?

LH: Só dessa informação que você falou aí, faltou que nós somos a melhor universidade dos estados que compõem a Amazônia legal, que é outra informação é que saiu nesse mesmo ranking. Então aqui envolvendo os estados do norte, Pará, Maranhão, Tocantins, até o Mato Grosso, a UFMA ainda é o primeiro lugar. Esses rankings para gente soam com bastante clareza do que tem sido feito pela Universidade Federal do Maranhão, apesar de todas as dificuldades. A pesquisa, a extensão, o ensino, a formação de profissionais não param. Então esse ranking leva em consideração todos esses indicadores. Se pegarmos por exemplo só no Maranhão, a gente chega a realizar quase que 60-70% de toda a pesquisa e conhecimento gerado no estado. Se pegarmos os projetos da Fapema, vamos perceber que as premiações a maioria são a UFMA que ganha. E para a gente continuar evoluindo e crescendo, precisamos de investimentos. Eu preciso que vocês alunos possam ir para os eventos da área de comunicação, a gente precisa ter laboratórios equipados, dá condições para esses professores, dá salários mais dignos. Estamos 4 anos sem ter reajuste. Toda a classe dentro da universidade, tanto técnicos como docentes. Então pensamos que dando condições, a Universidade Federal do Maranhão consegue até atingir números melhores.

LL: A UFMA possui diversos grupos de pesquisa, nos quais muitos discentes estão inseridos. Quais valores esses grupos agregam aos alunos?

LH: O grupo de pesquisa é uma das coisas mais importantes que temos dentro da universidade. Porque agrega um número grande de pesquisadores e alunos trocando informações acerca de determinado tema. Então esses grupos são como se fosse o pilar da pesquisa dentro de uma universidade. E temos incentivado a ampliação do número de grupos de pesquisa, a qualidade e também a parte da extensão, que muitas vezes falamos em ensino e pesquisa e deixamos de lado a extensão, que é muito importante, pois é o retorno que damos para a sociedade. Então, tudo que eu produzo de conhecimento dentro da universidade eu levo para a comunidade, seja indígena, quilombola, zona rural ou até mesmo fazer oficina na escola do lado, eu estou realizando extensão, que é levar o conhecimento da universidade para sociedade.

RS: Recentemente por todo o país ocorreram ataques a instituições de ensino. Em meio isso, alguma medida protetiva foi tomada para as unidades centro e Bom Jesus?

LH: Sim, desde o ano passado, quando entrei na direção, a gente vem conversando com o comando da Polícia Militar para fortalecer, principalmente o início e término das aulas aqui na universidade. Tivemos uma conversa com os nossos vigilantes para estarem cada vez mais preparados para agirem nas situações. E próximo da época dos acontecimentos, tivemos uma reunião com o coronel Santana, que é o comandante de 25 municípios aqui da região, e com os tenentes coronéis aqui da região do centro, do Bom Jesus e do moto patrulhamento. Se vocês perceberem ali por volta de 6-7 horas da noite e 22 horas, sempre tem uma viatura por ali ou passando para poder fortalecer esse policiamento. E foi passado também um aviso para os professores para que fiquem ligados em qualquer atitude suspeita e possa estar denunciando pra gente ou para os nossos vigilantes.

LL: A Universidade Federal do Maranhão tem um grande respeito quando se trata de inclusão social. Que tipo de ações tem sido tomadas para os discentes que possuem algum tipo de deficiência?

LH: Esse é um grande desafio nosso. A UFMA é uma universidade inclusiva, tivemos recentemente a colação de grau do Raimundo de pedagogia, ele é uma pessoa com deficiência visual. Os desafios são enormes, porque todo dia chega uma novidade. A gente recebeu um aluno de jornalismo agora, que necessita de ajuda praticamente o tempo todo, e estamos correndo atrás da solução. Tivemos uma reunião com a Proen em São Luis, dentro dela tem a diretoria de acessibilidade. E a Nilsinha, que é a nossa diretora, já está com essa solução em mãos para poder passar para PPGT. Esse aluno vai precisar de um cuidador né? A UFMA vem trabalhando em cima disso, alguns desses alunos foram agraciados com notebooks adaptados. No entanto como o número de tipos de deficiências são bem extensos é um grande desafio para todos nós, todo dia precisamos dar uma solução para um problema diferente. Mas é importante que essa solução esteja sendo dada e se a universidade diz ser inclusiva, ela realmente tem que ser. Eu enquanto diretor às vezes chega um problema, um aluno dizendo que vai no Ministério Público procurar seus direitos, eu apoio sem problema nenhum, porque eu sei que ele está no direito dele e a gente tem que dar as condições para ele poder estudar.

RS: Passado esse período conturbado que vivemos tanto por conta da pandemia como também pelos cortes orçamentários que as universidades sofreram. Agora é possível sonhar com novos horizontes, mais promissores para as universidades?

LH: Com certeza, o horizonte é bem positivo e mesmo com todas as dificuldades nesses últimos 15 meses que eu estou à frente da direção, a gente conseguiu avançar em várias frentes, estando mais próximo dos alunos. No ano passado, mesmo com o orçamento bem apertado, conseguimos mandar alunos para eventos, apoiando os cursos de graduação e pós-graduação na medida do possível. Conseguimos fazer substituição de vários computadores, data-shows e a luta continua. Agora a gente já recebeu mais alguns computadores, vamos receber alguns data-shows agora na próxima licitação e o mais importante de tudo isso é que a gente tem estado próximo de toda a comunidade, seja professores, técnicos ou alunos. Ouvindo as suas demandas, sentando juntos e fazendo o planejamento. Tudo isso em prol de avançar ainda mais. Tivemos um aumento de 10 bolsas em janeiro, só para imperatriz, mais 20 agora nesses editais que finalizou no dia 26 de abril e vamos dobrar o número de auxílios do restaurante universitário, que tinha 50 gratuidades e agora vamos ter 100. Então é importante destacar o papel da gestão superior, que mesmo em frente todas as dificuldades vêm fazendo mágica. O nosso reitor Natalino Salgado conseguiu nesses 4 anos algumas verbas extras, fora do orçamento das universidades. Estamos aqui para poder trabalhar e servir, não apenas Imperatriz, mas toda UFMA, quando falamos que somos um centro Imperatriz, uma das 9 cidades que a universidade pertence. E o sonho maior esse ano é emancipar e criar essa nova federal aqui na região, Imperatriz, Balsas e Grajaú inicialmente e a ideia é que se expanda para outros municípios.