COMBATER A DEPRESSÃO, um caminho para evitar o suicídio

Por: Keila Regina Gadelha, Thaynara Leite Freitas Carneiro, Wyldiany Oliveira dos Santos

 

Remédios e tratamento:  forma de se reerguer da depressão

A depressão é um transtorno mental considerado uma das principais  causas do suicídio. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alega que no Brasil 5,8% da população sofre com a depressão. Essa patologia é mais comum do que se pode imaginar e afeta pessoas de diferentes classes sociais, sem fazer distinção de cor, faixa etária ou etnias.

Segundo dados recentes da OMS, a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo. Referente a isso, o Brasil está na oitava posição mundial em números de casos de suicídio. A depressão e o suicídio são silenciosos, são temas vistos como tabus pela sociedade e de difícil aceitação, impossibilitando o diagnóstico, a prevenção e consequentemente o tratamento.

“Quando alguém quebra a perna, todos querem ajudar essa pessoa, de alguma forma ela será assistida e compreendida, ninguém vai chegar para ela e dizer que isso é coisa à-toa. Com a depressão não é assim, o que não é visto, não é lembrado e nem entendido. Quando a pessoa está deprimida ela está doente e ninguém a entende, e é comum dizer: larga disso deixa de besteira! É a mesma coisa que falar para uma pessoa com a perna quebrada pra jogar futebol que sara”, afirma o psiquiatra João Eli de Oliveira. “Depressão é um sentimento e todos nós temos sentimentos, de alegria, estabilidade e um sentimento deprimido que advém da depressão. Ela é uma doença gravíssima, que causa tristeza tão intensa que para a pessoa nesse estado o tempo para”.

SUICÍDIO, A SEGUNDA MAIOR CAUSA DE MORTES NO MUNDO

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda causa de mortes no mundo e que até o ano de 2022 será a primeira causa. A psiquiatra Maria Dilma Alves Teodoro, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), afirma que o Brasil é o oitavo país no mundo em número de suicídios, 32 pessoas por dia se suicidam e ao ano acontecem cerca de 12 mil suicídios, a maior parte entre jovens de 15 a 29 anos.

Ao pararmos para compreender os sentimentos do suicida, percebemos que não era a vida que ele queria tirar, muito pelo contrário tem-se uma necessidade de viver, e o que se pretendia era arrancar a dor que sente. É o que afirma a estudante Maria*, de 22 anos. Maria contou que apesar da sua idade, ela sentia-se pressionada e cobrada pela sociedade e a sensação de inutilidade deixava-a bastante triste.

Antes do suicídio,  ato em que o indivíduo quer tirar a  própria vida, faz-se necessário lembrar que há uma ideação suicida. Segundo a psicóloga Dayse da Silva Chaves, “a ideação leva a pessoa a pensar que em algum momento da sua vida morrer seria melhor, isso é visto como uma opção para se livrar da angústia”.

Conhecemos a jornada de Alexsander*, 27 anos, no caso dele suspeitava-se de um diagnóstico de depressão no qual depois foi se tornando mais profundo até chegar no nível de surto psicótico e de tentativas de suicídio. O diagnóstico de Alexsander* é a esquizofrenia, uma doença mental que tem como sintomas delírios e alucinações e o seu tratamento é feito com medicamentos e terapia. As ideações suicidas do rapaz são imaginar que a todo momento irá ser atingido por um raio, bala perdida ou acidente de trânsito. Em análise feita pela psicóloga, fica esclarecido que neste caso, não seria ele próprio que atentaria contra a vida, mas talvez colocasse essa questão como ideação suicida, porque estava com o desejo de morrer mesmo que não fosse ele quem executasse o ato.

AS VÁRIAS FORMAS DA DEPRESSÃO

João Eli: “Tem-se que lutar muito para sair dessa situação difícil”

É comum na vida diária termos altos e baixos, porém isto está inserido entre uma faixa de normalidade que é como um nível normal e comum de tristeza, quando o índice cai abaixo dessa faixa, o indivíduo está dentro da depressão. Além disso, a depressão tem várias formas: tem a que começa na adolescência, a bipolar, a unipolar, que se inicia depois dos 30 anos, a depressão pós-parto e as depressões reativas, causadas por algum trauma ou pressão psicológica. São muito comuns e ocorrem em qualquer período. Para o psiquiatra João Eli de Oliveira, a depressão está potencializando os suicídios em todo o planeta.

Porém, além da depressão existem outras causas que levam ao suicídio como: a dependência química de álcool e drogas, a dependência das substâncias psicoativas como a cocaína e o ecstasy, entre  outros fatores. “Em países subdesenvolvidos como o Brasil, a questão da depressão é causada por fatores econômicos ou por transtorno de estresse pós-traumático, por luto e separações”, explica a assistente social do ambulatório de saúde do Centro de Atenção Psicossocial III (Caps), Ana Cristina Assumpção Oliveira.

DEPRESSÃO E SUICÍDIO: UMA RELAÇÃO LIGADA POR SENTIMENTOS E DIFICULDADES

 

COMO SUPERAR E ENCONTRAR UMA SAÍDA

Um dos códigos da superação: encontrar um motivo essencial para viver

O tratamento é realizado com antidepressivos e psicoterapia, conversas com grupos, e quando, necessário, o agente da saúde mental recorre à família para ajudar o paciente. Quando a pessoa tem acesso e acompanhamento à saúde mental e ao tratamento de qualidade, 85% dos casos de suicídio podem ser evitados, segundo a OMS.

Em Imperatriz, o Hospital Municipal de Imperatriz (HMI) tem sido uma porta de entrada para aqueles em surto psicótico e que tenham tentado o suicídio. A princípio, se “ao ser atendido pelo HMI e ser analisado patologicamente, se ele tiver só o surto, esse paciente vai para o Caps”, afirma o especialista em saúde mental, Anginaldo Ribeiro Mendes.

O Centro de Atenção Psicossocial (Caps) atua na cidade como uma instituição responsável pela área da saúde mental. O serviço é oferecido à população pelo estado e tem sido de grande auxílio a todos aqueles que apresentam os mais variados transtornos psicológicos.

Como retrata Alexsander*, paciente do Caps há sete anos, diagnosticado aos 22 anos com esquizofrenia e depressão, há muitos desafios a ser enfrentados para a superação da depressão.  “Tem que existir a força de vontade, as pessoas que estão em uma situação dessa não tem força para lutar. A pessoa tem que encarar com unhas e dentes, é uma briga que não é com o mundo e sim consigo mesmo”.

No caso de Maria*, ela diz que foram duas tentativas, uma em 2013, a mais recente e a outra em 2012. “Na primeira consegui pedir ajuda e minha amiga chegou na hora, estava com soda cáustica em casa. A segunda vez, eu estava me cortando, cortei, e aí desmaiei. Um amigo me encontrou e pediu ajuda. Apesar de ser bem jovem, sempre houve uma cobrança da sociedade, de tudo, em cima da gente. No momento, senti uma sensação de fuga, de desespero. Em 2013, foi o ano em que eu engravidei, foi uma forma de sair da depressão, de sair do fundo do poço, esperança de uma vida diferente. Hoje se eu tiver triste, eu tento me expressar de uma forma que as pessoas possam me ajudar”.

* São nomes fictícios para resguardar a identidade das pessoas entrevistadas e de suas famílias.

** Reportagem realizada para a disciplina Técnicas de Reportagem (2017.1)