Músicos independentes buscam espaço em Imperatriz

Apesar do engajamento nas redes sociais, músicos independentes sofrem com a falta de incentivo público

 

Texto: Gabriel Henrique e Giuliana Piancó/Fotos: Acervo Pessoal dos entrevistados

 

Plataformas digitais, redes sociais e streamings como Spotify, Deezer e SoundCloud mudaram o contexto de produção e circulação de músicas na internet. Além da possibilidade de mediar o espaço entre artistas e o público, esses meios permitem a divulgação de conteúdos produzidos de forma independente.

“É chocante ver o quanto a internet pode quebrar fronteiras”.

Em Imperatriz, nos últimos anos, surgiu uma leva de músicos que produzem seus próprios trabalhos, seja na composição, produção e compartilhamento de produtos autorais, principalmente na web. O músico e produtor imperatrizense João Neres conta que, nesse cenário, os streamings colaboram na construção da carreira do artista independente. “Atualmente, você monta sua carreira. As redes sociais ajudam o artista a levar suas músicas para muita gente. Isso é um ponto fundamental, pois investimos nessas plataformas para divulgar o nosso trabalho”, diz.

A cantora Ananda Miranda é autora do EP Sobre Essas Coisas, disponibilizado em diversas plataformas digitais. Segundo a cantora, as redes sociais são o principal meio de divulgação disponível para o alcance do público. “As redes ajudam porque a gente não fica delimitado. Tem gente de todos os lugares ouvindo nossas músicas, e só sabemos quando a plataforma nos fornece os dados. É chocante, pois vemos o quanto a internet pode quebrar fronteiras”.

“O meio independente vem crescendo bastante. Ele não está estagnado, é um estilo que vem tomando espaço lentamente, mas vem”.

Ainda que a internet tenha ampliado o processo de compartilhamento de músicas, os conteúdos podem não chegar com facilidade ao público local. Muitas vezes, tem-se que recorrer ao impulsionamento de publicações, como alternativa para levar conteúdo a um público alvo. Para o cantor João Neres, há sempre uma forma de manipular as ferramentas disponíveis. “No Facebook, você consegue impulsionar publicações as dirigindo para um determinado segmento, então dá para atingir pessoas que nunca viram seu trabalho, mas curtem aquele estilo”.

Cenário e oportunidades

Recentemente, Jefferson Carvalho, músico e fotógrafo, lançou seu primeiro EP na internet, intitulado Surreal. Ele explica que as plataformas digitais abrem espaço para diversidade. Em paralelo, o músico percebe que não há incentivo do público local e da prefeitura para o maior desenvolvimento desse trabalho.

“Aqui, não tem nada que envolva o artista independente, cultura e movimentação de arte. Muitas vezes temos que criar eventos e festas, e isso é ruim. Por exemplo, quando fazemos uma festa, são só nossos amigos. Mas quando é um evento oficial da prefeitura, mostrado através da mídia, as pessoas têm mais interesse, dão mais atenção”, afirma o cantor.

”A maior dificuldade que a gente enfrenta é justamente a independência, a falta de informação. Quem está começando só quer mostrar o seu trabalho”.

A Fundação Cultural de Imperatriz (FCI) tem como finalidade desenvolver políticas públicas para a promoção de manifestações culturais no município. Porém, segundo o coordenador de difusão cultural da Fundação, Axel Brito, falta um envolvimento maior entre a instituição e os artistas. “Fico feliz com a iniciativa de alguns cantores ao se lançarem através das redes sociais, gerando os trabalhos autorais”. Ele completa que ainda assim, a instituição não tem conhe

cimento sobre os músicos independentes por conta de um distanciamento entre as partes.  “No cenário regional, nós temos poucos nomes de nosso entendimento que chamamos de velha-guarda. Adoraria conhecer esses novos cantores e compositores”, finaliza.

Além do projeto “Abrindo o Mercado” que leva música de artistas locais para diversas feiras e mercados públicos da cidade, a Fundação Cultural está implementando um projeto chamado “Amostra de Cordas e Canções”, que ocorrerá na Beira-Rio. A finalidade é promover uma competição entre compositores, os desafiando a compor uma música de acordo com uma palavra disponibilizada no dia da amostra.

Uma forma encontrada por artistas independentes para o desenvolvimento de trabalhos autorais é a colaboração. Isso acontece em prol do crescimento desses artistas no cenário local: o músico precisa ser multifacetado conhecendo um pouco de todas as vertentes da produção.

Por isso, as parcerias são estratégicas. A cantora e compositora Ana Letícia produziu, em 2017, o EP Sete Flores, juntamente com os cantores Jefferson Carvalho e João Neres. Ela conta que esse processo foi determinante para a concretização do EP. “Desde o ano passado, comecei uma parceria com o Jefferson e o Neres. Para mim, foi muito importante, porque a gente ajuda um ao outro: se um não tem tanta facilidade em fazer algo, o outro faz, seja compondo, produzindo, gerenciamento as redes sociais. É como se a gente se sentisse mais capazes juntos”.

Você pode ouvir os EPs citados na matéria nas plataformas abaixo:

Jefferson Carvalho – EP Surreal: Spotify, DeezerYouTubeSoundCloudGoogle Play.

JoãoNeres – EP Origens: SpotifyDeezerYouTubeSoundCloudGoogle Play.

Ananda Miranda – Sobre Essas Coisas: SpotifyDeezer, SoundCloudGoogle Play.

Ana Letícia – EP Sete Flores: SpotifyDeezerYouTubeSoundCloudGoogle Play.

O cantor, Jefferson Carvalho também preparou a playlist “Alô, Maranhão?”, com cantores independentes do cenário maranhense, você pode conferir clicando aqui.