Conservatório traz Arte de graça para Santa Rita

Lugar público para estudo instrumental e dramático acolhe novos integrantes

Thalisson Freitas

Com a divulgação dos resultados de um novo seletivo neste mês de julho, o único local destinado ao ensino musical e de dramaturgia gratuito em Imperatriz, localizado no bairro Santa Rita, apresenta quatro salas de aulas com acústica específica e auditório. No primeiro semestre de 2023 o número de matriculados era de 430 alunos nos sete cursos musicais ofertados: canto coral (infantil e adulto), violão (inicial e avançado), violino (inicial e avançado), percussão, contrabaixo, flauta doce e instrumento de sopro (trompete). Além desses, há também disponível o curso de teatro.

Ao entrar no conservatório, se ouve os sons dos instrumentos que acabam ecoando através das portas entreabertas. À esquerda, vê-se um corredor, cheio de obras de artistas da cidade e cadeiras para que os alunos aguardem a chegada de seus professores. Nesse mesmo lugar, funcionam as salas de aula. À direita, um outro que leva diretamente ao auditório, no qual costumam ocorrer aulas de alguns cursos e as apresentações, que acontecem nos finais de semestre.

Corredor do conservatório, com artes plásticas de artistas regionais (Crédito: Acervo pessoal)

Processo seletivo

“O pré-requisito não é excluir, é incluir”, afirma o diretor executivo do conservatório Charles de Oliveira, que explica como funciona os seletivos, realizados no início e meio do ano. Antes do processo acontecer é liberado o edital de ingresso para que o público interessado tenha acesso. Já no seletivo, há um período de audições, quando o professor identifica em cada participante a aptidão para determinado instrumento. Após essa fase, são formadas as turmas. Charles ressalta que os alunos não classificados passam a compor uma lista de cadastro de reserva. “Durante o período do curso, em que alguns desistem, outros não vêm, a gente vai substituindo para que a turma sempre esteja com a quantidade mínima”.

A prioridade das matrículas, como informa o diretor, é para as crianças das escolas municipais, porque o conservatório é um órgão vinculado à prefeitura. Mas isso não impede a acolhida de alguns alunos da rede privada e estadual. Como Maria Eduarda, de 18 anos, estudante do Centro de Ensino Raimundo Soares, pertencente ao governo do Estado. Ela considera o local “legal, interessante” e diz que as aulas a distraem de outras situações, como ficar mexendo no celular. “Tudo que a gente aprende aqui serve, entendeu? É produtivo”. A estudante do último ano do ensino médio ainda declara que pretende seguir na área quando ingressar na universidade.

Ensino

Na sala de aula, o professor e os aprendizes decidem o repertório (Crédito: Thayná Castro)

Na instituição, os estudantes frequentam as aulas de cada instrumento duas vezes por semana, sendo que a cada semestre se matriculam em dois módulos. Para não atrapalhar o cotidiano escolar, comparecem às aulas no contraturno: se estudam à tarde, frequentam o conservatório de manhã. Entretanto, mesmo assim, docentes se queixam da diminuição dos alunos ao longo do semestre, como constata o professor de percussão Emerson Romão, conhecido como “Nêgo Fit”: “No início, a gente tem 20 alunos, 25. E aí a gente fecha com uns 10, 15, por aí”.

No conservatório, a evasão ocorre pela dificuldade financeira em bancar um transporte, devido à distância do bairro, além de ser um curso que não possui uma cobrança tão elevada e obrigações, mais comuns em uma escola tradicional. Por isso, a maioria dos alunos são da região, como Samuel Jhony, de 16 anos, que considera as aulas são muito boas. “Eu sinto que estou dando um passo pra realizar meus sonhos. Sempre quis ser um músico e agora eu estou conseguindo”, afirma Samuel. Ele planeja continuar na área, contudo, como trabalhar com música é difícil, deseja cursar algo diferente na universidade.

Sobre as reprovações, o professor de teoria musical, Orgmar Siqueira, aponta que o percentual não é expressivo, porque os educandos “já têm quase a música no sangue”. Entretanto, se o estudante não obter o rendimento necessário durante o curso, ele terá que comparecer a mais aulas que os outros, para atingir o mesmo nível dos demais.

Durante a pandemia da Covid-19, as aulas presenciais tiveram de ser interrompidas. Mas a instituição buscou manter contato com os alunos por meio das redes sociais e palestras em plataforma digital. Depois da pior fase da emergência sanitária, os módulos foram retomados de forma híbrida. “A gente não poderia estar em grupo, mas fazia as aulas no auditório, que é mais amplo”, relembra o professor Orgmar.

Equipamentos

Para se aprimorar e treinar em casa, é necessário que o aprendiz busque, ele mesmo, comprar seus instrumentos. Esse é o conselho dado pelo professor Emerson. “Alguns alunos, a gente orienta pra que quando tem condição, eles comprarem, fica melhor. Os instrumentos não podem sair daqui. É daqui da escola”.

Charles é o terceiro gestor que já passou pela direção do local e comenta que o principal obstáculo enfrentado é a dificuldade de fornecer um instrumento para cada aluno. Mas pontua que vem conseguindo superar a adversidade com a ajuda da rede municipal e também dos familiares dos matriculados. O diretor ressalta que a procura pelos cursos é muito grande, o que demanda o aprimoramento da estrutura. “A gente tem pensado em melhorar o nosso ambiente escolar, entendendo que o conservatório é importante na formação educacional da criança, do jovem e do adulto também.”

Funcionamento

A ligação da Escola Musical e Dramática com a Fundação Cultural vem desde a sua criação e facilita a organização de eventos fora do local para apresentação em datas comemorativas como: Dia das Mães, Dia das Crianças e para a Cantata de Natal. O objetivo é que os aprendizes vivam experiências fora do conservatório e a sociedade tenha acesso aos trabalhos dos educandos. Dessa forma, a vivência na área musical acaba se tornando muito importante não só para os iniciantes, mas também com quem eles aprendem no curso. O professor de contrabaixo, Juarez Sena, por exemplo, participa de uma banda fora do conservatório chamada Diplomatas, além do trio Cariri. Com essa prática, o instrumentista consegue aprimorar suas aulas.

Alunos e professor em apresentação do Coral Infantil (Crédito: Acervo Pessoal)

O Conservatório Dramático e Musical foi criado em 2019, a partir de um acordo do Ministério Público, que disponibilizou o valor de uma multa da concessionária de energia Eletronorte. A partir disso, o recurso foi liberado para construção do prédio e, após término, a prefeitura passou a administrar e manter o prédio com funcionários, professores e a parte técnica. “Acredito que se a gente tivesse um conservatório desse em cada polo da cidade melhoraria muito, porque Imperatriz precisa”, destaca o diretor.

Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística, chamado Meu Canto Também é Notícia. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar histórias jornalísticas em seus próprios bairros. Essa é a primeira publicação oficial de todas, todos e todes.