Comunismo no dia a dia: entrevista com o secretário do PCB, Sandro Ricardo de Oliveira Sousa

Repórter: Isabella Franco

Fotos: Isabella Franco

“Por uma questão ideológica de apassivamento das massas, eu creio que a população em peso de Imperatriz não vá às ruas para tirar esse prefeito”

Sandro Ricardo de Oliveira Sousa, 46 anos, casado, que já trabalhou como lanterneiro, camelô e comerciante, hoje é professor contratado da rede estadual e tem formação nas áreas de computação e filosofia. Há anos, Sandro Ricardo milita nos movimentos sociais defendendo os interesses da classe trabalhadora, atuando para desencadear uma consciência de classe na sociedade, acreditando que é possível a construção de uma sociedade comunista. Sandro foi candidato pelo PCB a Prefeito nos anos de 2016 e 2020 e à Vereador no ano de 2012 em Imperatriz – MA. Juntamente com o PCB, Sandro Ricardo promove diversas discussões, manifestações e ações em Imperatriz para discutir os direitos dos proletários, palestras sobre assuntos diversos relacionados ao Comunismo, entre outros. Durante a entrevista realizada, o secretário Político conta como o comunismo está presente na sociedade atual e como isso influencia na nova geração. é possível ler, de uma forma mais técnica, como esse assunto consegue se abranger e se adaptar com o passar dos anos.

Imperatriz Notícias: De onde surgiu o seu interesse sobre o Comunismo?

Sandro Ricardo: Por sentir, né? Eu comecei a trabalhar muito cedo, inclusive tenho carteira assinada com 14 anos de idade, nesse específico que era em um supermercado, sempre foi dito “Olha, você é de menor, então você só ganha meio salário mínimo”, então como não recebi nenhum tipo de pagamento depois de ter saído, eu tive que adentrar via judicial. Aí junta-se isso que eu já tinha passado na prática, com a teoria que eu começo a ter na universidade, e aí eu começo a ver a literatura classista e vejo que tem lógica.

IN: O que você indica para pessoas que querem aprender mais sobre o comunismo em si?

SR: A melhor maneira é procurar uma organização, nós recomendamos os nossos coletivos, nós temos vários, e dependendo da categoria, ela vai passar por formações específicas, mas sempre nessa perspectiva classista, porque eu acredito que estamos em uma sociedade de classes.

IN: Você estando em um partido que debate principalmente sobre a luta trabalhadora. Quais atitudes você indicaria ser tomada por esses trabalhadores perante o descaso político atual?

SR: É uma pergunta que leva a uma discussão bem extensa, os trabalhadores, por uma questão de imediatismo, não estão unidos para tratar dessas questões, o correto seria a população se revoltar e parar de aceitar esse descalabro administrativo, mas por uma questão ideológica de apassivamento das massas, eu creio que a população em peso de Imperatriz não vá às ruas para tirar esse prefeito.

IN: Você não acha isso chega a ser um erro do partido não estar explicando para os trabalhadores e para as pessoas mais vulneráveis como funciona?

SR: Eu concordo, às vezes a linguagem não parece ser tão clara, mas é muito mais fácil para um jovem ele ficar em algum joguinho ou fazendo dancinhas do TikTok do que ele pegar um livro e decidir estudar Marx. Não são as atividades revolucionárias que tem que reduzir a linguagem, mas a classe trabalhadora que precisa se elevar e entender a realidade. Por exemplo, a prefeitura está deixando a cidade de qualquer maneira, mas quando tem alguma germinação de pessoas se manifestando, você consegue ver a prefeitura trabalhando em ações como “Tapa Buracos”, como observando que está acontecendo agora, mas é porque está acontecendo uma manifestação nas ruas, logo quando isso para, a prefeitura para de executar também.

IN: Você citou que é muito difícil explicar sobre o comunismo e o socialismo para os jovens, inclusive, muitas pessoas nos dias de hoje confundem a Esquerda com o Comunismo, existe alguma diferença? Como você define esses dois lados?

SR: Temos que verificar gradações, na política nós temos isso. O que é a Esquerda Radical? É a esquerda que preconiza por uma revolução socialista, o que é um partido que não preconiza por isso? é a Esquerda conciliadora. O que nós temos agora na presidência do país é uma Esquerda conciliadora.

IN: O que fez você se candidatar à prefeitura da cidade duas vezes?

SR: Apesar de sabermos que nós não vamos implantar o comunismo, implantar o socialismo aqui em Imperatriz, é trabalho de cada proletário dar conta do seu burguês local. Nós temos que fazer uma propaganda, nós temos que dizer que a ideologia que está sendo definida é o da classe trabalhadora. Já tentaram privatizar a CAEMA aqui em Imperatriz, nós provamos com dados para a população que, caso isso acontecesse, a água não receberia o mesmo tratamento, o preço aumentaria, aí você coloca os exemplos, aqui no estado do Maranhão, no Tocantins, em São Paulo, coloca outros locais que ocorreram a privatização desses serviços e pioraram. Você consegue observar que a população hoje é contra a privatização do saneamento básico.

IN: Podemos observar que na atualidade, o Comunismo se tornou um tópico de conversa frequente entre os adolescentes e jovens adultos que vem tomando certa “consciência” de política. Você acha que essa curiosidade irá acarretar em alguma mudança, já que essas pessoas são o futuro do nosso país?

SR: Certamente vai acarretar em algum momento, o proletariado faz a ruptura, o futuro é necessariamente socialista. Não tem como se sustentar o planeta nesse modo de produção. Nosso rio está sendo sujo, a margem do rio Tocantins está sendo suja e o modo de produção capitalista não está se preocupando com isso. Esses debates eles devem ocorrer e a juventude deve estar organizada percebe-se então que ela necessita de participar de entidade que sejam revolucionárias. Como por exemplo o coletivo UJC que é a união da juventude comunista.

IN: De que forma você acha que os estudantes de Jornalismo da UFMA podem ajudar o partido de alguma forma?

SR: Quanto mais votos um partido revolucionário receber, vai demonstrar à burguesia local que o povo está insatisfeito, se não está ocorrendo isso, significa que o povo está alienado. O curso de jornalismo na eleição passada promoveu um debate online, uma maneira de ajudar mesmo, é justamente tendo essa consciência de classe, saber da classe da qual pertence, é necessário fazer as leituras e fazer debates, rodas de conversas, é levar a ideologia proletária ao proletariado