O início e a vida de três mulheres que trabalham como acompanhantes de luxo

Dinheiro “fácil” único meio de sustento de suas famílias é um dos motivos que as levam ao trabalho

Por Angela Lima

“Vestido justo e salto alto, esse é o uniforme da zona. Foto: Arquivo Pessoal”

Os motivos pelo qual mulheres acompanhantes de luxo ingressam nesta profissão são bastante distintos, mas um em comum se dá pelo “dinheiro fácil” que o trabalho pode proporcionar, muitas vezes sendo o único canal que essas mulheres encontram para sobreviver e sustentar suas famílias. A maranhense Laura Alcântara (nome de guerra), 25, fez seu primeiro atendimento há três anos atrás, por meio de um site de acompanhantes.

 

“A noite era uma realidade que eu não fazia ideia que existia”

O mundo interconectado da internet tornou essa realidade muito próxima para algumas acompanhantes de luxo, que muitas vezes nunca haviam pensado em entrar nessa vida. Laura conta que recebeu a proposta de um cafetão para trabalhar em uma boate na cidade de Passos, interior de Minas Gerais, sendo sua primeira experiência em uma casa noturna. Para ela, “a noite era uma realidade que eu não fazia ideia que existia”, num horário de funcionamento que ia de segunda a sexta, das 21 às 04 da manhã.

Morando na casa durante dois meses, o valor dos programas custava a partir de R$ 200, e o local também pagava comissão nas bebidas, sendo pago às sextas-feiras. “O valor mínimo da casa era 200 reais, mas já fiz programa até de 800 reais quando era saída”, conta. No Brasil, casa de prostituição não é crime desde que não haja aliciamento a prostituição. A lei 12015/09 alterou o artigo 229 do código penal brasileiro passando a exigir que para tipificação do crime de casa de prostituição é necessário que haja a exploração sexual.  

“O crime está em manter a pessoa na condição de explorada, obrigada ou coagida e em más condições. Importante mencionar que a lei penal não pune a prostituição em si”, explica a bacharel em direito Nara Santana.

Laura é mãe de uma menina de seis anos. Questionada a respeito dos motivos que a fizeram entrar nessa vida, ela diz que “dificilmente você vai ver uma moça entrar na noite porque quer, apenas pelo dinheiro rápido. Penso que todas tem uma razão. Acredite, a mulher que entra pelo luxo vai desiludir fácil. Não há empresa que pague sete mil por mês ou semana, dependendo”, explica.

 

“As meninas de hoje vivem na ilusão de que isso é fácil”

Há seis anos atrás, a paraense Ana Júlia (nome de guerra) deixou seu estado para viajar trabalhando como acompanhante. Hoje, com 27 e um filho, ela relata uma vida difícil e solitária. “Não vou dizer que é ruim toda vida, mas as meninas de hoje vivem na ilusão de que isso é fácil. Não é só clientes bons que a gente atende, nem sempre são os bonitões, tem clientes nojentos que você fica com nojo de si mesma após o ato”, desabafa.

O trabalho de acompanhante lhe permitiu dar ao filho e à mãe uma vida mais confortável. “Eu venho de família pobre, a casa da minha mãe era de taipa, hoje minha mãe tem a casa que ela desenhou”, relembra ela.

Ao contrário de Laura, Ana Júlia nunca atendeu nos sites, mas sempre em boates. Para ela, a impossibilidade de conhecer previamente o cliente [como acontece nos sites] a assusta. “Não tenho essa coragem de [trabalhar no] site, não sei quem tá do outro lado do telefone. Pessoalmente, já passamos por situações difíceis, imagine em site. Eu mesma já sofri calotes no começo. Não adianta ninguém chegar e te dar todas as dicas, você só vai aprender vivendo”, explica ela.

Ana Júlia fala que são coisas que você vai aprender com o tempo, “a gente sempre tem que receber antes, em hipótese alguma depois do ato”, explica.

Para Ana Júlia, a boate se mostra um vínculo mais confiável, pois pelo perfil do cliente dá pra saber se ele é problemático ou não. Segundo ela, o encontro começa com um flerte, “sendo a boate o ponto de encontro perfeito, ele vai e te paga várias bebidas, rola toda uma conversa e só depois acontece o programa”.

 

Funcionamento das boates

Geralmente as boates funcionam de 21horas as 4horas da manhã sendo o lucro da casa em bebidas e saídas (o valor pago para tirar uma menina da casa). “Quando você chega na casa o gerente já te explica como a casa funciona, eles sempre fala que você tem que beber, você só tem que beber, fazer o cliente gastar na casa, seu programa é limpo e pago direto para você”, explica Ana.

 

“Macaca Velha”

A gaúcha Eduarda Campos (nome de guerra), 32, já se denomina “macaca velha” na noite. Mãe de uma menina de seis anos, a acompanhante de luxo conta que iniciou neste trabalho ao se separar do ex-marido. A filha fica com a avó, enquanto Eduarda viaja a trabalho. “A gente que trabalha na noite tem que rodar. Onde o movimento tá bom, a gente tá indo. É sempre bom ser a novidade da casa”, conta ela.

Sobre o preconceito que a sociedade expressa, ela desabafa que “não importa se eu sou uma mulher bem sucedida, que tem casa e carro bom, eu sempre vou ser a puta que faz programa”. Para Eduarda, as pessoas sempre vão associar tudo o que se conquista à prostituição. Um estigma difícil de se separar.

A acompanhante ainda relata que já nota sinais de cansaço desse trabalho. “Antes, há seis anos atrás quando eu comecei, a gente trabalhava também para ajudar a família, mas se vivia no luxo, se trabalhava para luxar e fazer cirurgia plástica, hoje a gente trabalha para sobreviver, se parar de trabalhar o dinheiro acabou e aí já era”.

 

Salário

Eduarda conta que já ganhou até 30 mil de um cliente só, mas fora isso trabalhando todo dia em uma boate a mulher consegue tirar de 4 mil por semana, mas isso depende do movimento da casa.

“A gente pega muito dinheiro, mas o segredo do sucesso, acredito eu, é entender que hoje eu ganhei mil e amanhã posso não ganhar nada, em uma semana posso fazer sete mil e na próxima tirar nada, é muito incerto”.

 

Nome de Guerra

Toda mulher quando vai fazer cadastro para trabalhar em uma casa noturna precisa de um nome, e esse nome vai ser como todo mundo vai te chamar dentro da casa, você cria um personagem.

“Um garçom me falou que é importante criar outro nome porque ali é teu personagem com um único propósito: ganhar dinheiro. E isso é bem real porque ali na zona eu sou a Eduarda que só tá ali pelo dinheiro e fora daquele ambiente eu sou uma mulher como qualquer outra que tem uma família”, conta Eduarda.