Casa de Passagem: lugar de acolhimento

Crianças esperam um lar adotivo em ambiente de afeto

por Raica Thawanny

Mais de 30 mil crianças e adolescentes vivem em instituições de acolhimento no Brasil, segundo dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). E para conhecer melhor esta realidade, vamos conhecer uma das Casas de Passagem, de Imperatriz – MA.

Ao chegar, há um belo jardim na fachada da cor verde, com plantas de várias espécies, e atrás listras brancas, rosas, e amarelas, pintadas na parece. Ao lado, há ilustrações de crianças com mãos unidas, o que dava ainda mais cor, um bonito significado, e alegria ao local. Apertada a campainha, veio nos receber Maria Gorete Batista, vice coordenadora da Casa de Passagem, que sanou todas as dúvidas sobre o funcionamento da instituição durante toda a vivência, mesmo estando com muitas demandas naquela tarde de sexta-feira. Na sala de Gorete, há um grande quadro, contendo a relação de crianças abrigadas, e um fluxograma de acolhimento, explicando todo o processo que a criança e/ou adolescente passa ao chegar na casa.

Local oferece equipe com psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e cuidadoras. Fotos: Raica Thawanny

Maria Gorete conta que atualmente 30 crianças de até 10 anos residem ali. Quando passam desta idade, são encaminhadas para outras casas, onde vivem adolescentes maiores. O tempo máximo e ideal que a criança deve passar no lar, é de dois anos, à pedido da própria Justiça. Passando disto, a criança e/ou adolescente pode permanecer, até seu caso ser solucionado. Maria Gorete explica que “as principais causas para estas crianças se encontrarem na Casa de Passagem são negligência; maus tratos; abuso sexual; e abandono”. Embora estas crianças tivessem seus direitos desrespeitados, a partir do momento que são acolhidas pela casa, passam a ter assistência por parte de psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, cuidadoras, entre outros profissionais. “Estudam em escolas próximas, têm lazer, vão ao médico, ao dentista…uma vida normal”, conta Maria Gorete.

No interior da casa, após a sala de entrada, no fim de um corredor há um quarto com alguns berços, ocupados por crianças de colo, até mais ou menos três anos de idade. Estavam assistindo, numa pequena televisão, desenhos animados com cantigas famosas. Um dos bebês estava de pé dentro do berço, apoiado na grade.

Logo após o corredor, fica uma cozinha que dá acesso ao pátio, onde as cuidadoras participavam de uma reunião. A pauta era sobre os cuidados com relação ao local onde deveriam armazenar produtos de higiene, para dificultar o acesso das crianças e evitar acidentes por intoxicação.

Ao lado do pátio, há salas onde ficam meninas e meninos, de forma separada. Duas cuidadoras ficam em cada sala. Primeiro visitamos a dos meninos, que nos receberam com sorrisos no rosto, mesmo que de forma tímida. Depois fomos conhecer as meninas. Logo ao abrir a porta, uma delas correu para abraçar Maria Gorete, com um lindo sorriso. Todas aquelas crianças possuem histórias de vida diferentes, cada uma com sua particularidade, mas com algo em comum: o desejo de serem amadas.

Trinta crianças residem no local com idade até 10 anos.

A adoção no Brasil, é um processo burocrático por causa das leis e regulamentos que foram criados para proteger os direitos das crianças, e garantir que elas sejam colocadas em lares seguros e amorosos.

É comum que os pais adotivos tenham que passar por um processo de preparação e avaliação, que inclui entrevistas, visitas domiciliares, exames médicos e psicológicos, entre outros requisitos. Depois de aprovados, os pais adotivos podem começar a busca por uma criança ou adolescente que se encaixe em seus perfis e necessidades. “Esse processo pode levar tempo e exigir muita paciência e perseverança”, segundo Maria Gorete.

Quando a criança ou adolescente é finalmente adotado, começa uma nova etapa de adaptação e convivência. É importante lembrar que a adoção não é apenas uma questão legal, mas sim uma experiência emocional, que envolve a construção de laços de afeto, confiança e respeito. Como conta Aureni Fernandes, mãe adotiva de Marcela de Moraes, que a escolheu como filha quando ainda era bebê de colo.

“Para mim, foi a melhor experiência que aconteceu na minha vida…os desafios foram grandes, porque a gente [os pais adotivos] não sabia como era ser pai e mãe… aprendemos na convivência…tem sido maravilhoso”, relata

A partir dos dados sobre adoção, percebe-se que há muito trabalho a ser feito para garantir que todas as crianças e adolescentes em situação de acolhimento tenham a chance de encontrar um lar. Isso inclui ações de conscientização, investimento em políticas públicas e aumento da disponibilidade de informações e recursos para os pretendentes à adoção.

Em resumo, a adoção é uma experiência única e emocionante, que requer coragem, comprometimento e muito amor. Para quem está considerando adotar uma criança ou adolescente, é importante buscar informações e apoio de profissionais especializados, e estar preparado para enfrentar os desafios e as recompensas que virão pela frente.

  • Reportagem de vivência produzida na disciplina de Técnicas de Entrevista e Reportagem (2023.1), orientação da profa. Yara Medeiros