Bombeiras de Imperatriz: luta por mais espaço

Soldadas falam da dificuldade de inserção

Texto e foto: Rafaela Pinheiro

Atualmente o 3ª GBM (3º Batalhão de Bombeiros Militar), em Imperatriz é composto por 62 homens e quatro mulheres, sendo elas a soldada Maria Antônia Marques Pinheiro, Claudia de Sousa Fidelis, Cacilene Vieira Parentes e Luana Carolina Mustafé Mendonça. Foram incluídas na corporação no ultimo concurso de 2013 e 2015.  Elas representam as mulheres no Corpo de Bombeiros, que são poucas, pois em alguns concursos públicos, há um déficit de vagas, apenas 10% para mulheres. Como foi o caso do ultimo realizado nessa área, que ofertou duas vagas femininas no 3GBM em Imperatriz. Nessa matéria, elas falam como é sua rotina nessa profissão, da inter-relação com seus colegas de trabalho e outros aspectos relacionados à profissão.

A soldada Antônia Marques Pinheiro, de 34 anos, conta que o que a levou a integrar o Corpo de Bombeiros, há quatro anos, foi a paixão.  Revela ter se apaixonado pela profissão depois que a conheceu. Já para a soldada Cláudia, no primeiro momento não houve uma motivação especifica para ser bombeira. “Na verdade há muito tempo eu estudo para concurso público e aí foi apenas mais um”, confessa. Contudo, Cláudia conta que depois que entrou na corporação e conheceu o serviço passou admirar a profissão.

Para a soldada Luana, sempre foi um sonho ser militar e no concurso do Corpo de Bombeiros, ela viu uma oportunidade de realização. “Era um sonho meu e quando vi uma profissão que ainda encaixava com muita coisa que eu já sabia e gostava, eu falei: ‘Pronto, é o concurso’. Eu me inscrevi e passei, graças a Deus”.

Para as mulheres que desejam ingressar no Corpo de Bombeiros, primeiramente, é necessário ser aprovada no concurso público, ter altura mínima de 1,65 e uma boa condição física. E, além disso, também é preciso ter vocação para enfrentar e conviver com o dia a dia de uma profissão perigosa, como explica a soldada Cassilene: “Nossa rotina é de 24h. É um serviço que a gente vê que às vezes é muito braçal. Por isso que muita gente pensa que é especifico para homem. É tanto que foi tardia a entrada da mulher nesse tipo de corporação”.

Rotina

As mulheres desenvolvem diversos trabalhos dentro da corporação. Atuam como recepcionistas, atendem ocorrências na rua, combatem incêndios florestais e também realizam Atendimento Pré-Hospitalar (APH), resgate em altura, operação de mergulho, serviço de proteção em aeroporto, defesa civil, vistoria técnica e palestras educativas. Essas atividades exigem muito esforço físico, pois as bombeiras trabalham em turnos alternados de 24 horas para que as ocorrências sejam atendidas efetivamente.

Esses trabalhos demandam, além de um bom preparo físico, muita saúde emocional, pois, dado a profissão, elas presenciam muitos momentos trágicos. Segundo o relato da soldada Maria Antônia, a ocorrência que participou e ficou marcante em sua memória foi o resgate de uma família que estava voltando do aeroporto e o carro em que estavam capotou. Dentro, estavam dois filhos do casal e um deles morreu.

Para a soldada Cláudia a ocorrência determinante ocorreu em São Luís, onde uma residência muito humilde pegou fogo. “Tive que conter toda aquela família, porque, desesperados, eles queriam entrar e não queriam deixar que a gente apagasse o fogo. Pois já não tinham nada e o fogo tinha queimado tudo. Isso foi o que mais me marcou”, relembra.

“O que mais me marcou foi um acidente no inicio da minha carreira, eu presenciei a morte de dois adolescentes de um acidente de moto. A gente fica pensando às vezes em nos colocarmos no lugar da pessoa e pensa na dor da família. Mas, ao mesmo, tempo a gente tem que lidar com essa situação porque temos que trabalhar bastante o emocional para que isso não venha acarretar doenças para gente”, conta, por sua vez, a soldada Cassilene.

Admiração da população

Hoje, as mulheres ocupam praticamente todas as áreas que eram tradicionalmente masculinas, e por esse motivo, quando as bombeiras atendem uma ocorrência, a população fica admirada em ver uma mulher desempenhando um ofício em que grande parte da corporação é composta por homens, como comenta Cassilene. “Nós somos vistas em uma ocorrência pela sociedade com grande admiração, de ter uma mulher no meio onde muita gente pensa que só homem deveria estar”.

No entanto, no estado vizinho, Tocantins, não há mais essa divisão. O governo oferta ampla concorrência para ambos os sexos. Em contrapartida, no Maranhão a concorrência mais igualitária em alguns concursos ainda não é uma realidade. E isso prejudica a mulher a avançar em algumas carreiras, conforme a opinião de Cassilene: “Quando abre concurso principalmente para instituição militares, eles colocam apenas uma porcentagem mínima de 10%. Então, quando a gente olha o concurso, nós sentimos inferiorizadas em relação à categoria homem e mulher”.

É justamente por esse motivo, pela dificuldade que a mulher enfrenta, que Cassilene diz se sentir privilegiada compor a equipe da corporação e por poder somar com cada atividade. “Em relação a ser uma das quatro, a gente sente esse privilégio, porque, querendo ou não, muitas querem, mas apenas poucas conseguem”.

Preconceito

Questionadas se há preconceito por parte dos colegas homens na corporação, Luana afirma ter sido bem recepcionada e que não houve nenhuma manifestação desse tipo vindo dos colegas. Pelo contrário, há, sim, motivação para que atendam as ocorrências, façam captura de animais, enviam-nas para linha, estimulam-nas a combater. “Então eu fui bem recepcionada na corporação”, garante.

Já Claudia confessa ter se sentida excluída pelos colegas do sexo masculino em seu ambiente de trabalho. Segundo ela, eles acham que as mulheres não estão habilitadas para atender todo tipo de ocorrência. Sobre armas, ela diz que alguns homens se consideram mais habilitados do que as mulheres. “Eles acham que nós, mulheres, ainda não sabemos manusear, que não temos tanta habilidade”. Cláudia acrescenta que, na sua opinião, a corporação ainda não está preparada para receber mulheres.

No Corpo de Bombeiros Militar, os cargos são por patentes. A menor é a de soldado, e nesse caso, a mudança só ocorre após cinco anos, se houver vagas disponíveis naquele momento.  Em relação a esse aspecto, Cláudia afirma que, se pudesse mudar algo na corporação, tiraria o militarismo. “Eu deixaria todo mundo igual, e que algumas ocorrências fossem atendidas por quem realmente estivesse capacitado, e não porque é tenente ou sargento.Porque, às vezes, mesmo quando se é soldado, que é a patente mais baixa no militarismo, ele tem um conhecimento até maior do que outros”.