Membros da Banda Municipal de Davinópolis relatam experiências com o projeto
Wanderson Gomes
Davinópolis, no Maranhão, possui 14.404 habitantes, de acordo ao censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um município considerado pequeno, de pouco desenvolvimento econômico e cultural, mas que, em suas limitações, possui uma banda que coleciona premiações e transforma vidas.
A Bamuda, comandada pelo maestro Maxwell da Silva Sousa, se tornou heptacampeã no Estadual de Fanfarras e Bandas do Maranhão na categoria Banda Marcial, em 2024, em uma disputa que ocorreu na cidade de Morros (MA).

Vidas transformadas
“A música mudou completamente minha visão de futuro”, afirma Gustavo Sampaio Arruda, de 23 anos, que começou na Bamuda e hoje é músico das Forças Armadas. Em sua forma de ver a vida, antes não havia muitas opções. Ao ser questionado sobre o que queria ser, qual profissão exercer, dizia que, até aquele momento, não tinha decidido. Mas, com sua convivência na banda marcial, sua mente abriu para novas oportunidades. “Eu não tinha nenhuma perspectiva de vida. Não sabia o que queria ser. Vivia uma rotina muito limitada, sem sonhos”, comenta Gustavo.
Foi a partir do ingresso na banda que sua vida ganhou propósito. As tardes nos ensaios, os desafios das competições e o convívio com colegas e o maestro o ajudaram a visualizar um futuro diferente. “Hoje eu estou conseguindo realizar meu sonho: eu sou músico do Exército, estudei bastante para uma prova muito disputada”, rememora, com muito orgulho, sua aprovação no concurso de 2024.

Superação e multiplicação do saber
Gustavo é apenas um de muitos jovens que tiveram suas vidas transformadas pela Bamuda. “Eu consegui superar”, declara Edilson Barros dos Santos Silva, de 22 anos, membro e professor da banda Municipal de Davinópolis ao relembrar das suas dificuldades. “O maior desafio que eu enfrentei foi com a evolução” destaca Edilson, que hoje ministra aula de percussão na Bamuda Mirim, Juvenil e Master, além de atuar na bateria da igreja.

Apoio familiar
Edilson relembra que, no início, enfrentou resistência por parte dos pais, principalmente devido aos horários dos ensaios e cultos, que frequentemente se sobrepunham. Entretanto, com o tempo, seus familiares foram se adaptando à nova rotina e hoje se orgulham dele, oferecendo o apoio necessário para que Edilson viva de sua verdadeira paixão: a música. “A banda me fez acreditar em mim mesmo”, analisa.
Para Gustavo, por sua vez, o apoio incondicional da família sempre foi essencial. Nas duas edições do campeonato em que não conseguiu a vitória, ele retornou para casa desanimado, mas encontrou conforto e incentivo em seus familiares, que disseram: “Não desista, uma hora vocês vão conquistar o primeiro lugar”, relembra.
Hoje, Gustavo é exemplo para os mais jovens da Bamuda. “A minha família sempre me apoiou nessa área musical”, agradece. E faz questão de retribuir: sempre que pode, retorna para acompanhar ensaios e conversar com os alunos. “Eu sou prova viva de que a música pode transformar. A Bamuda foi o início de tudo.”
Maestro de Davinópolis
Maxwell da Silva Sousa é mais conhecido em Davinópolis e em cidades vizinhas como “Maxwell da Banda”. Filho de Odimar Fonseca Lima e de Lenir da Silva e casado com Adriana, com quem tem três filhos, ele carrega a paixão pela música. Ela atravessa décadas e transformou um jovem percussionista em referência estadual e nacional na condução de bandas marciais.

Natural de Imperatriz, no Maranhão, Maxwell iniciou sua jornada musical ainda na adolescência, aos 13 anos, tocando o tarol na Fanfarra Municipal de Davinópolis. “Fui atrás porque queria participar de uma fanfarra”, recorda. Sem grandes expectativas, foi nos primeiros ensaios que ele percebeu a magia dos sons: “Ver as ondas sonoras que os instrumentos produziam me fazia bem demais.”
O encantamento logo se transformou em dedicação. Com apenas 15 anos, passou a estudar partitura musical e iniciou seus estudos no trombone de pistão. Entre os 15 e os 18 anos, mergulhou em tocatas e experiências que o levaram às Forças Armadas, as quais serviu como músico militar.
Após um período afastado da fanfarra, em 2015 recebeu o convite para assumir a regência da Banda Municipal de Davinópolis. Aceitou o desafio com entusiasmo e inaugurou uma nova era para o grupo.
Formação e liderança
Maxwell é graduado em Contabilidade e em Música, com licenciatura plena. Além disso, possui especialização em musicalização infantil e adulta, com ênfase em docência e regência. Sua formação acadêmica complementa a vasta experiência prática acumulada ao longo dos anos, refletindo-se diretamente na metodologia aplicada no projeto. “A Bamuda não é só uma banda, é um projeto de transformação social. Uma escola de vida que acolhe quem precisa e ensina a sonhar alto”, define o maestro.
Sob sua regência, a Bamuda tornou-se referência: sete vezes campeã estadual, com títulos nacionais e regionais. Desde 2015, o maestro lidera a banda com um olhar comprometido com as questões sociais, formando músicos, cidadãos e líderes.

Desafios e metas
A missão de comandar uma banda marcial em um município pequeno exige mais do que técnica. É preciso criatividade, articulação política e, sobretudo, paixão. “Falar de música no movimento de fanfarras e bandas é desafiador, porque queremos entregar uma apresentação de grande estilo mesmo com poucos recursos”, explica o maestro.
Atualmente, a Bamuda trabalha para viabilizar sua participação no Campeonato Nacional de Bandas e Fanfarras (CNBF), previsto para acontecer no Rio de Janeiro em 2025. Os custos logísticos – transporte, alimentação e hospedagem – são um obstáculo comum a quase todas as bandas do país. “Sempre planejamos a longo prazo para não sobrecarregar ninguém. É um sonho coletivo, e todos se envolvem.”
Acolhida
A Bamuda nasceu oficialmente em 2013, por meio da Lei Municipal nº 175/2013, com aulas de musicalização e prática de instrumentos de sopro, percussão e componentes coreográficos. Em 2025, conta com 190 integrantes, divididos entre a banda principal e a Bamuda Mirim, que acolhe crianças de 6 a 13 anos.
A filosofia de Maxwell vai além da técnica musical. A banda é organizada por níveis de aprendizagem – do básico ao avançado – em um sistema de meritocracia: os músicos mais experientes auxiliam os iniciantes, criando um ciclo virtuoso de aprendizado e pertencimento. “Os que se destacam nos níveis mais avançados já vão se preparando para os seletivos das Forças Armadas. É uma escada de crescimento”, afirma.
Mais do que um grupo musical, a Bamuda se tornou um espaço de acolhimento para crianças, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social. “Queremos uma sociedade mais justa. A música alivia problemas sociais, fortalece vínculos e desperta a cidadania. Aqui não fazemos distinção de gênero ou classe. Todos são bem-vindos.”
Durante a pandemia de Covid-19, em 2020 e 2021, o projeto permaneceu ativo com aulas remotas por meio de aplicativos, demonstrando a resiliência do grupo mesmo nos tempos mais desafiadores. “Foram anos de muito aprendizado. A música continuou sendo um refúgio.”
“Essa banda é mesmo de Davinópolis?” Essa é a pergunta que o maestro Maxwell gosta de provocar em quem assiste a Bamuda. Com formações completas – trompetes, flug, trompas, trombones, eufônios, tubas, percussão e componentes coreográficos – a banda impressiona tanto pelo nível técnico, quanto pela beleza estética de suas apresentações. O segredo do sucesso, contudo, reside no espírito de família que Maxwell cultiva entre os integrantes.
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.