Moradores mais antigos lembram os fatos marcantes do povoado
Silmara Gomes Reis
O Centro dos Calixto é uma comunidade que resiste ao tempo. Tudo começou com um conjunto de migrantes de Colinas (MA), nos anos de 1940, quando dois jovens, ambos órfãos, um de mãe e outro de pai, se encontraram. “E então foi assim, um conjunto de bênçãos, que eles se toparam, casaram-se e daí pra cá, foram surgindo essa família” relata o membro mais velho, Cosmo Nunes da Paixão.
Após a chegada dos primeiros filhos, Calixto Nunes da Paixão e Augustinha Siqueira Brito resolveram sair de Colinas – MA rumo ao estado do Tocantins, que antes era o norte de Goiás. Ele trabalhou como empregado durante um tempo, até que um amigo o convidou para se estabelecerem em São Miguel (TO).
Reuniram 32 famílias nesse período, e migraram em 1952. “Foi quando surgiu esse negócio de terra devoluta. Aqui era Goiás, nesse tempo trabalharam seis anos em São Miguel e sempre procurando um local para se fixar para criar a família”, comenta Cosmo.
Naquela época, o trabalho das quebradeiras de coco representava a força econômica mais ativa entre as mulheres e os homens caçavam. “Meu pai encontrou esse baixão aqui dentro, que é a três quilômetros do final da nossa terra”, diz Cosmo.

Houve problemas no início para permanecer neste local, a tentativa de invasão era maior no começo. Para conquistar essa terra, foram 12 anos de briga com pistoleiros e fazendeiros. Augusta Siqueira Brito, mãe de Cosmo, foi a Brasília, andou por diversos lugares, até conseguir finalmente o título definitivo daquela terra, em 1985, diretamente com o presidente da República da época, João Figueiredo (1979 a 1985).
Hoje são 41 alqueires de terra, onde moram mais de 32 famílias, e todos eles têm o mesmo direito. Mas seu Cosmo é o responsável nomeado pela família, tudo é decidido em prol de todos. Viúvo e sem filhos, ele é respeitado e chamado de pai Cosmo “Quando chego na rua perguntam: ‘Quantos filhos você tem?’ Pois todos da família me chamam de pai Cosmo”, menciona ele, sorrindo.

Todos trabalham, mas o forte é a horta, o babaçu e as frutas de diversos gêneros. “Aqui não impedimos ninguém de plantar, só indicamos onde plantar, a gente tem esse domínio. Mas não é coisa que eu mando, a gente só orienta o lugar certo, assim a gente vai levando”, cita o fundador.

Antônio Osmundo, morador há 25 anos do local, é casado com a neta do primeiro ocupante do povoado. Agricultor e técnico em ecologia, cultiva hortaliças e expõe satisfação com seu trabalho. “Aqui ganho muito bem, melhor que trabalhar para os outros, tiro R$ 5 mil a R$ 7 mil, trabalho com o que gosto e ganho bem. Não usamos agrotóxicos, tudo é limpo e natural.”
A produção é toda vendida no centro da cidade de São Miguel e para as escolas com parcerias com o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE) e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Maria Liane, outra habitante da área, faz parte das quebradeiras de coco, ofício com o qual trabalha desde os 8 anos de idade, e de onde tira seu sustento. “Eu quebro oito latas de coco e dessas eu tiro quatro litros de azeite. Mas quebro pouco e tem quem consiga quebrar mais”, declara.

“Do coco se aproveita tudo. Da amêndoa fazem o azeite, da casca o carvão e da entrecasca, o mesocarpo, que serve para fazer mingau para crianças. Mas o ganho vem mais da venda do azeite, que custa R$ 35 o litro. Aqui no povoado temos uma vida de trabalho. Tudo que se planta dá dinheiro só basta saber administrar”, explica.
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, desenvolvido em parceria com a disciplina Laboratório de Produção de Texto I (LPT), chamado “Meu canto tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.