Nascida de um núcleo de 12 fundadores, entidade transforma sonhos em ações filantrópicas
Yasmim Araújo
A história da Associação Comunitária de Ananás é também a de Wilson Saraiva, como cidadão ananaense. Tudo começou em 1988, quando ele perdeu uma eleição para prefeito da cidade de Ananás (TO). “Eu perdi essa eleição por apenas 59 votos. Meus amigos estavam muito tristes. Então, eu disse: ‘Nós perdemos uma eleição, mas não perdemos o nosso sonho nem a coragem de trabalhar. Por que não fundar uma entidade e fazer com que aquilo que era um ideal, um sonho, se transformasse em realidade?’”, recorda Wilson.
Ele sabia que enfrentaria muitas dificuldades, pois uma entidade carece de recursos, precisa de pessoal e de apoio para funcionar adequadamente e levar benefícios às famílias mais vulneráveis, o que era e continua sendo o objetivo principal.
Foi então que 12 pessoas se uniram, entre elas Silvestre Nery e Edson Gomes Fonseca (já falecidos), além de vários outros integrantes do quadro de sócios fundadores, e, no dia 30 de abril de 1989, fundaram a entidade. Reunidos em uma mesa simples, sentados em um tamborete de couro de boi, eles tinham uma intenção clara e objetiva: mudar a vida das pessoas para melhor, transformando suas realidades sociais.

Nos primeiros anos da associação, havia muitas dificuldades. O primeiro prédio era alugado e, mesmo assim, atendia às famílias, distribuindo cestas básicas, travesseiros, colchões e cobertores em seus momentos mais difíceis. Muitas crianças em situação de vulnerabilidade apresentavam problemas de alimentação, e, por meio da Legião Brasileira de Assistência (LBA) — entidade que foi extinta em 1995 —, conseguiram um tipo de mingau com diversos sabores: chocolate, baunilha, laranja, tangerina, entre outros. Era de preparo rápido, e essas famílias o ofereciam aos filhos.
“Além disso, trazia também bem-estar, ficavam bem mais gordinhos, bem mais saudáveis. Também foi implantada uma escola de datilografia, naquela época era máquina de escrever, para treinar essas pessoas, para que elas pudessem ter acesso a um emprego de melhor qualidade”, comenta Wilson Saraiva. A escola de corte e costura, outro benefício, ocupava um imóvel alugado, em plena avenida Brasil. “Agora, imagine a dificuldade que foi não tendo um prédio próprio, não tendo um recurso”.

Ele reforça, entretanto, que a entidade é apolítica. Ao longo de todos esses anos de existência, ela sempre manteve essa postura, segundo garante o sócio fundador: “Nós não tratamos de política aqui. A nossa política é a social”. Ainda assim, Wilson destacou que sempre houve parlamentares mais próximos, que atuaram como ponte, fazendo a interligação e mantendo o contato com Brasília (DF) e com Palmas (TO).
“Nos primeiros anos, o deputado estadual Everaldo Barros, muito atuante, prestou grande ajuda”, ressalta Wilson. Também havia João Ribeiro, que era deputado federal, e o ex-governador Siqueira Campos, idealizador da criação do estado do Tocantins, que sempre acreditou no trabalho das entidades, enumera. Por muitos anos, esse apoio foi fundamental para a sustentação da associação, conforme destaca o fundador.

Fundação da rádio
No dia 20 de julho de 2003, foi implantada oficialmente a Rádio Cidade FM 87,9. No entanto, muito antes disso, o projeto já era um sonho. Arriscaram montar uma emissora que ainda não era registrada, e trabalharam com ela durante muito tempo. Como era vinculada à associação e incomodava certas pessoas que não gostavam do trabalho realizado, ela acabou sendo denunciada.
A Polícia Federal veio e fechou as portas da emissora. “Muita gente chorou. As pessoas vinham até nós, os sócios, principalmente a mim, e diziam: ‘Senhor, a nossa rádio fechou, como é que vai ser agora? Não vai ser mais a nossa emissora’”, conta Wilson Saraiva. A partir daquele momento, iniciou-se o processo de regularização da documentação, com o objetivo de tornar a rádio legalizada.
A primeira transmissão oficial contou com a presença de Wilson, que levou ao estúdio alguns líderes estaduais. Segundo ele, não havia como deixar de convidar aqueles que trabalharam, direta ou indiretamente, para tornar o sonho realidade, era uma forma de demonstrar gratidão.
Estavam presentes João Ribeiro, “que teve papel importante no processo”, o prefeito de Arapoema, na época, Baltazar Rodrigues (Tazinho), amigo do ministro das Comunicações, “que foi quem assinou a autorização da rádio”, o deputado Onofre Marques e o então prefeito da cidade, José Geraldo da Silva. Durante a cerimônia de descerramento da placa, falou aos microfones o deputado estadual da época, César Hallum. “E a gente deu o primeiro alô de forma oficial”, concluiu Wilson.

Ações atuais
“No momento, a ACA está só finalizando um programa de 2022, 2023, por aí”, respondeu a atual presidente, Leomar Santiago. “São os programas que Wilson vai lá para os assentamentos, com as máquinas, fazer um arado para os assentados, uma barragem”. acrescentou.
Sobre os planos futuros, revelou que a instituição pretende expandir sua atuação para municípios vizinhos, como Nazaré, Guadalajara e Xambioá. Em primeira mão, informou que a Arca foi uma das 11 entidades selecionadas no Brasil para receber apoio financeiro de empresas como Visa e Mastercard. “Como tudo na vida, tudo muda. Então, de lá para cá, foram implantadas em todos os estados, e no governo central, uma modalidade chamada emendas impositivas”, explicou.

Ao apresentar de forma adequada as demandas às autoridades, é possível ser contemplado com recursos públicos, conforme destacam os sócios-fundadores. Leomar destacou que a Arca está adimplente e mantém uma ficha limpa após anos de atuação com convênios, o que permitirá a construção de unidades habitacionais, a distribuição do Cheque Reforma, a implantação de um programa de habilitação solidária e a aquisição de maquinário como tratores e caminhões. Tudo está previsto dentro de um plano de trabalho, que poderá ampliar a capacidade de atendimento da entidade, conforme planejam seus organizadores.
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, desenvolvido em parceria com a disciplina Laboratório de Produção de Texto I (LPT), chamado “Meu canto tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.