“O Animacon se baseia em um sonho”: Entrevista com Jader Moreira, precursor dos eventos Geek em Imperatriz

Repórteres: Aline Castro e Caroline Duarte

Fotos: Aline Castro

Aos 33 anos Jader Moreira, promoter de eventos, é o precursor dos eventos geek em Imperatriz. Nascido no município de Riachão, no interior do Maranhão, soube desde cedo a sua paixão e correu atrás para conseguir sustento com ela. Quando era criança sempre gostou de assistir desenhos e animes e o interesse por esse universo só foi aumentando com o passar dos anos.

Mesmo com a falta de apoio dos pais, já que como vinha de uma família humilde, a sua prioridade para eles era conseguir um emprego para ajudar dentro de casa, Jader decidiu fazer o que lhe interessava e mergulhou no universo dos desenhos, mangás, livros, filmes e séries. Assim, foi surgindo o projeto de transformar o seu sonho em realidade.

O primeiro evento geek da cidade ocorreu em 2013, e mesmo com muitas pessoas desacreditando do projeto, três mil pessoas compareceram para compartilhar as suas experiências e interesses no universo nerd. E assim nasceu um dos eventos geek mais frequentados da cidade, o Animacon.

Ainda que o Animacon seja um sucesso entre os adolescentes, o promoter encontra alguns desafios, pois a falta de reconhecimento do segmento nerd, torna ainda mais difícil de ampliar o evento, já que alguns não consideram o projeto de cunho cultural, assim não há patrocinadores ou nenhuma parceria com a prefeitura.

Hoje, mesmo com os desafios e dificuldade Jader é dono de uma agência de Marketing voltado para o segmento geek e ainda trabalha na promoção destes eventos, em entrevista com o Imperatriz Notícias ele conta mais sobre a sua experiência e como o mundo geek o transformou em um empreendedor. Confira:

 

IN- Como surgiu essa paixão na sua vida e quando começou a ser colocado em prática nos eventos?

Jader Moreira:O Animacon se baseia em um sonho, digamos assim, eu era um moleque de cidade pequena que sempre tive contato com televisão, pelo menos os canais abertos e ao que eles ofereciam na minha época. A TV Manchete era o auge: Jaspion, Jiban, Jiraya, Super campeões, cavaleiros do zodíaco e Pokémon …Então vinha desse período. E eu sempre gostei e por não ter grana, como eu era de família pobre, e meus pais nunca viram isso como prioridade na vida, como você sabe a prioridade de pobre é trabalhar para poder ajudar dentro de casa. Então quando comecei a ter condições próprias comecei a desenvolver as minhas coisas. Eu sempre fui muito fã de Harry Potter, então comecei a ter produtos, ter livros, frequentar cinemas, e quando comecei a trabalhar no shopping foi interessante, pois começamos um evento de cultura nerd e a própria administração achava que não ia dar muita gente e conseguimos 3 mil pessoas, e nós mesmos ficamos surpresos e com medo. Nunca havíamos trabalhado com um público tão grande, e daí surgiu o Animacon, um evento cultural voltado para o universo geek e para o público nerd em geral.

IN- A cultura nerd conta com uma grande variedade de segmentos como filmes, mangás, quadrinhos, entre outros, todos eles contam com o envolvimento de muitas pessoas. Você já conseguiu trazer pessoas de referências do meio para suas edições Geeks?

JM: Sim, nós conseguimos trazer muita gente famosa, trouxemos os irmãos Piologo do mundo canibal, o Charles Emanuel o dublador oficial do Rony do Harry Potter e do Mutano de Jovens Titãs, Ricardo Júnior que é o intérprete das músicas que são traduzidas de Animes, fez show aqui, trouxemos o pessoal do Stars Wars e trouxemos 13 fantasias oficiais da Disney Brasil. 

 IN- O que mudou para você depois do sucesso do primeiro evento? Quais oportunidades surgiram?

JM:O evento surgiu de um sonho de um garoto de uma cidade pequena que viu uma oportunidade de trabalhar e empreender com o que ama através do segmento nerd. Hoje esse segmento só cresce, então é um empreendedorismo também. Criamos uma empresa, não é mais uma brincadeira, é algo bem sério que gera renda para o nosso pessoal, gera renda para as pessoas que vendem os produtos, gera renda para o pessoal que aluga o espaço para os eventos. Virou uma empresa que envolve o trabalho de muita gente.

IN- Animes, Cosplay, cultura Geek , mangá , geralmente o público tem uma preferência?

JM:Existe um público para cada segmento. Tem a galera que gosta só de animes, ou só de mangás. Hoje na cidade o que está em alta é o K-pop que é a música pop koreana, ela está bem forte, tanto é que nós fazemos um evento e dá 300 ou 400 pessoas. Para um segmento nerd são muitas pessoas e é muito importante.

IN- Como o evento já possui várias edições, hoje em dia, você já consegue contar com parcerias para a realização dos próximos evento?

JM: Acontece uma coisa muita chata que acontece aqui em Imperatriz, é que as pessoas não acreditam que isso seja cultura. Eu já escutei de um secretário de cultura daqui que o anime, mangá, o segmento nerd no geral, não é cultura. No último não tivemos colaboradores, se eu tivesse parcerias, garanto que conseguiria fazer um evento com umas 6 mil pessoas na Beira Rio.

IN- O evento proporciona interação dos apaixonados pelo movimento nerd, além de troca de informações e conhecimentos sobre o assunto. Foi aí que você viu a necessidade de realizar mais vezes o evento?

JM: Sim, nós entendemos que precisava fazer mais eventos para sempre enaltecer a cultura nerd, tanto para os que conhecem quanto para os que não conhecem, e o objetivo do evento é justamente esse, despertar o interesse dos jovens por esse universo.

IN- Quais são os maiores desafios para a realização do evento?

JN:O lugar por algum tempo foi um desafio a ser enfrentado já que quando fizemos em um  Shopping da cidade, algumas pessoas ficaram incomodadas com o evento e com as pessoas que estavam fazendo cosplay, por que alguns personagens têm incluso no figurino armas, mas mesmo as armas sendo de papel as pessoas não gostaram. Esse foi um dos motivos que nos levou a mudar o espaço.

IN- A paixão pelo universo geek contribuiu muito para o seu crescimento, tanto pessoal, quanto profissional, o que você falaria para os jovens que têm os mesmos interesses que os seus, mas que são desacreditados por pessoas que dizem que o segmento não é cultura?

JM:Espero que continuem gostando e investindo, conheço várias pessoas que começaram com esse hobby e hoje empreendem. Então assim, é não dar bola para essas pessoas, todos temos nossos gostos, e nem todos são iguais, e se a gente fosse igual não seria tão legal, né? Eu acredito que devemos manter essa pegada de gostar do que a gente faz, por que tudo vale a pena no universo geek.

IN- Qual a importância de um evento como esse para uma cidade como Imperatriz?

JM:É importante porque assim como as novas gerações de outras cidades, principalmente as capitais, estão antenadas nesse universo, nas novas tecnologias que ele envolve, Imperatriz também precisa estar inserida nesse segmento. Já pensou ir morar fora só por se interessar nesse segmento, porque na sua cidade não tem nada sobre? Ou alguém não empreender nessa área? É importante os jovens aqui começarem a empreender nesse segmento, e não só servir para o lazer, mas para o trabalho também.