Vendas, amor e dor: a Luta Silenciosa de um Vendedor de Rua

por Lucas Lima

Nilvan à espera de clientes em seu ponto de vendas no calçadão (por Lucas Lima)

Natural de Dom Pedro, no interior do Maranhão, Nilvan Ximenes de Barros, 40 anos, sempre sonhou em crescer por meio do comércio. Em 2010, deixou sua cidade natal com destino a Salinópolis, no Pará, disposto a transformar seu sonho empreendedor em realidade. Por lá já estava sua irmã mais velha, Francinete Ximenes — a Bia, de 46 anos — que também trabalhava com vendas, especialmente bijuterias como colares, anéis e pulseiras.

Nilvan, por sua vez, apostava em acessórios como óculos escuros, bonés e chapéus. Enquanto buscava estabilidade financeira, viveu um relacionamento com Daniela Batista, com quem teve uma filha, Vitória. No entanto, a união não durou e o casal acabou se separando.

No ano seguinte, em 2011, Nilvan decidiu tentar novamente, desta vez em Imperatriz, no Maranhão, em busca de melhores oportunidades. Já a irmã seguiu para São Luís. Em Imperatriz, o comerciante sabia que precisava de um bom ponto para garantir movimento e lucro, e encontrou no calçadão da cidade, bem na esquina da Avenida Getúlio Vargas com a rua Simplício Moreira, o local perfeito.

“Se for alugar um ponto desses aqui, é uns 15 conto (R$ 15.000,00). Se for ali mais pra baixo, paga três e não vende. Aqui os cara encosta de carro, de moto, compra e vai embora”, explicou Nilvan, evidenciando seu olhar aguçado para negócios.
Morando no bairro Bananal, pertencente ao município vizinho de Ribeirãozinho, Nilvan encara uma rotina puxada. Todos os dias, acorda cedo, prepara suas mercadorias e segue de moto para Imperatriz, onde trabalha das 7h às 18h, de segunda a sábado. Uma rotina que mantém firme há 14 anos.

Atualmente, Nilvan continua vendendo óculos, bonés e chapéus — seus produtos tradicionais — e incorporou também as bijuterias deixadas por sua irmã. Segundo ele, as vendas variam conforme a estação. Durante o verão, a procura por óculos e chapéus cresce até 50%. Já no fim do ano, os colares e anéis são os mais vendidos. “No Natal, na virada… o pessoal quer ficar mais elegante, aí vem e compra cordão, anel. O meu forte mesmo é cordão, anel… tudo vende”, conta com orgulho.
Apesar de ter encontrado um novo rumo profissional, a vida em Imperatriz também trouxe duros desafios pessoais. Foi na cidade que Nilvan conheceu Elita Pereira, com quem construiu uma relação sólida por quase 15 anos. Elita já era mãe de duas meninas — uma com oito meses e outra com quatro anos — que Nilvan criou como filhas. Para ele, o amor sempre falou mais alto.

Mas em maio deste ano, a família foi abalada por uma tragédia: Elita faleceu após uma intensa batalha contra um câncer de mama. Ela chegou a ser internada no Hospital São Rafael, mas não resistiu. “Agora é entregar pra Deus, deixar que Ele faça a vontade d’Ele. É muito difícil passar por isso, mas é confiar em Deus”, desabafou Nilvan, com os olhos marejados.
As filhas de Elita atualmente vivem com os avós, mas mantêm Nilvan como figura paterna — um homem que, mesmo sem laços de sangue, dedicou amor, cuidado e presença.

Nilvan continua tentando reconstruir sua vida, entre as perdas e os desafios diários de um vendedor autônomo. A rotina cansativa, a ausência da companheira e as responsabilidades que persistem mostram que, embora o recomeço em Imperatriz tenha trazido oportunidades, nem tudo são flores. Ainda assim, Nilvan segue, como sempre fez: de cabeça erguida e fé no coração.