Um CrossFit sem lesões: entrevista com o treinador Mohammed Dávila

Repórter: Saiury Lima

Fotos: Saiury Lima e arquivo pessoal

 

No começo de uma manhã de segunda-feira 13 de junho de 2022, cheguei à porta da CrossFit Imperatriz, a primeira Box afiliada ao esporte no sul do Maranhão e esperei. Logo após um tempo, a esposa de Mohammed, Fabiane Batalha me recebeu e avisou que seu esposo já viria. Passado um tempo, o treinador me direcionou a sua sala e estando lá começamos esta entrevista. Uma conversa que ao passo seria sobre um significado do CrossFit, foi carregada de especificações e curiosidades que nem sempre nos atentamos acerca do esporte.

Enfatizando um lado do CrossFit sob o ponto de vista de um treinador, que não só demonstra sua paixão pela atividade que exerce, como também conduz em suas respostas razões explicativas para praticar a modalidade. Além de demonstrar que a alta intensidade não está somente atrelada ao caráter corporal, mas que também existem outros pilares presentes no CrossFit.

Mohammed Dávila Vieira Lima, nome de origem árabe, brasileiro, 39 anos, casado há 11 anos, nascido em Imperatriz onde reside presentemente, não tem filhos. Mohammed é proprietário da CrossFit Imperatriz, Instagram: @mohammeddavila, formado em Educação Física nem sempre esteve atrelado ao esporte.

O treinador segue uma rotina de treinos ativa e conta com mais de 240 alunos presentes em seu estabelecimento, tem três irmãos e enfatiza que ambos também praticam o CrossFit. Um profissional que afirma “O CrossFit melhora a qualidade de vida das pessoas”, também se reconhece como um ser humano direto e sincero com seus alunos.

Nesta entrevista veremos uma breve trajetória de Mohammed no mundo CrossFit. Um lado mais humanizado acerca de duas existências que são complementares, Mohammed e o CrossFit. O Head Coach (treinador principal) que ao longo de seus relatos esclarece as principais dúvidas sobre a atividade e expõe sua experiência como profissional no meio esportivo.

Saiury: Como você Mohammed percebeu que o CrossFit era algo que te apaixonava?

Mohammed: Tudo começou em 2017, sou formado em Educação Física, era personal trainer, e foi por intermédio de uma aluna [Ana Lígia], que me perguntou se eu conhecia o CrossFit e respondi que não. E ela queria um treino sobre isso, então eu disse que iria pesquisar, inclusive ela pagou minha passagem para fazer o curso de CrossFit em São Paulo.

Quando cheguei lá, eu tinha uma visão formada sobre o CrossFit, como algo que lesionava e que poderia me prejudicar, mas é sempre bom ouvir todos os lados, e a partir do momento que eu entrei dentro do Box de CrossFit já mudou tudo. Me apaixonei no momento inicial. A primeira palavra que o treinador disse e eu pensei “cara, é isso aqui que eu quero”. O tempo passou e fui ler outras coisas. Pensava cada vez mais que era o que eu queria, que iria ajudar muitas pessoas, tirar elas do sedentarismo, deixá-las ativas fisicamente. Depois de um tempo decidi abrir este box de CrossFit, antes era em outro ponto, mas não havia mais espaço então mudamos para esse endereço atual onde estamos há quase três anos. Larguei concurso público, de professor de Educação Física pela prefeitura de Açailândia, larguei tudo e hoje estou aqui, mudando vidas, tirando as pessoas do sedentarismo, claro que de maneira confortável.

Saiury: Para o senhor, o CrossFit pode ser considerado um esporte de fato?

Mohammed: Sim, além dos jogos e competições, o CrossFit carrega fases classificatórias e fases finais. Temos o CrossFit Games que é internacional e lá ocorrem todas as etapas, determinando o campeão mundial. São mais ou menos 4 dias de competições para decidir que vai ser o campeão de fato.

Saiury: Sobre os valores, que variam entre R$250 até R$ 450. Por que é tão caro?

Mohammed: Vai depender do plano que você vai fazer, tem mensal, bimestral e semestral e anual. Na medida que você vai se fidelizando esse valor vai diminuindo. De modo geral o CrossFit é sim um pouco caro. Para você ter uma ideia, tem um Box de CrossFit em Goiânia que há três anos era R$500 o mensal. Hoje aqui em Imperatriz nosso mensal é R$370, em outros lugares como, São Paulo, Pará e o próprio Maranhão os valores são bem parecidos.

Mas é aquela “coisa”, não trazemos só o preço alto, mas muita qualidade também, porque não adianta ter um valor alto e não ter qualidade. E modéstia a parte nós temos muita qualidade: temos equipamentos bons e suficientes, material que o aluno possa se sentir bem. Com relação os valores nós dividimos. Para você ter uma ideia nós temos em torno de 240 alunos hoje aqui, mas nenhum deles paga mensal, todos fazem planos de fidelização. Além do CrossFit nós temos aulas específicas como aeróbica e ginástica, que são inclusas, mas o aluno não paga nada a mais por isso.

“Se você treina e não tem uma boa alimentação e não faz uma dieta o resultado de fato não vai aparecer”

Saiury: Como o senhor lida com a sinceridade ao se referir ao corpo de alguém?

Mohammed: Como pessoa, como Mohammed e Head Coach eu sou muito direto no que pretendo falar. Não sou de enrolar, não peço aos alunos que façam algo só para agradar, digo qual caminho será melhor. Tenho uma característica de ser muito direto, algumas pessoas entendem como ignorância outras como uma resposta. Se você treina e não tem uma boa alimentação e não faz uma dieta o resultado de fato não vai aparecer. Você tem que fazer o que foi proposto, treinar, procurar um nutricionista…Se seguir os resultados vão aparecer.

Saiury: Já aconteceu de algum dos alunos se incomodar com a sua sinceridade?

Mohammed: Nossa, demais, muito mesmo(risos). Eu não gosto de enrolar. Tem aluno que já saiu, mas eu sei o que eu estou fazendo, sei da qualidade do meu treino. Tudo bem que temos que ter um jogo de cintura para lidar com isso né. Eu não faço nada para prejudicar meus alunos, na verdade eu só busco a melhora deles.

Saiury: Compreendo. E como profissional, o que chateia você em um aluno?

Mohammed: Me chateia o aluno pagar caro aqui e ficar no celular enquanto está treinando. Isso me chateia muito, mais muito mesmo. Eu estou cobrando um valor, mas quero que o aluno entenda e saía daqui melhor do que ele entrou. Diversos alunos ficam com raiva de mim, porque sempre falo: “-para de mexer no celular, vem treinar”. E outra situação é enquanto estou explicando o treino o aluno ficar conversando sabe, isso me chateia muito também.

Saiury: Dentro da academia existem participantes com limitações físicas. Existe um método específico ou tratamento especial para treinar essas pessoas?

Mohammed: O método é CrossFit, agora a forma como cada treinador passa é que direciona isso. Nos treinos por exemplo a Francisca minha aluna, tem uma das pernas amputadas, então todos os treinos pra ela são adaptados, ela não vai deixar de treinar, a gente vai adaptar, uma adaptação que faça sentido. Na sexta-feira passada tivemos um treino chamado Walking lunge, que é a passada, ou seja, como ela faria esse exercício tendo uma perna só?

Mohammed: Não tem como certo?

Saiury: Certo

Mohammed: Ela não deixou de treinar, eu adaptei para ela fazer uma série de agachamentos, que trazia o mesmo resultado da passada. Então ela fez com a mesma intensidade de um aluno que praticou o Walking lunge, e foi muito legal, ela saiu daqui cansada.

Saiury: Saindo do meio corporal, como o senhor percebe a ajuda do Cross Fit na área mental?

Mohammed: Cara, ajuda muito mesmo. O CrossFit tem ajudado muitas pessoas, não só em Imperatriz, como no mundo. Alguns alunos chegam aqui com a autoestima muito baixa e acabam melhorando muito isso após os treinos. Nós recebemos muitas mensagens, as pessoas falando como o Cross Fit foi provedor de mudança na vida deles, é incrível a quantidade de mensagens que recebemos, para nossa equipe é muito gratificante receber isso.

“não parece mas eu me importo muito com essas pessoas, quero que elas saíam daqui melhores do que entraram, a melhor coisa para mim é o aluno entender que ele melhorou enquanto estava aqui”

Saiury: O senhor treina alguém que está diretamente focado a essas competições?

Mohammed: Não, no momento não estamos focados em treinar atletas de fato, nosso foco está mais centrado em manter a qualidade de vida dos alunos. Quando falamos em competição está direcionado a alto rendimento, podendo acarretar outros fatores mais específicos, assim como em vários esportes. Mas, se caso acontecer de alguém estar direcionado a isso, nós faríamos sim treinos específicos para a pessoa e até mesmo um treinador pessoal.

Então, nosso foco está na saúde e bom funcionamento, os treinos são intensos, mas trabalhamos dentro da mecânica corporal de cada aluno, sempre por etapas, sem exagero.

Saiury: O senhor acredita que se importa muito com as pessoas?

Mohammed: Claro que sim, não parece mas eu me importo muito com essas pessoas, quero que elas saíam daqui melhores do que entraram, a melhor coisa para mim é o aluno entender que ele melhorou enquanto estava aqui.

Saiury: Durante as aulas existem muitos jargões ou nomes específicos para os exercícios, que nem sempre estão em português, o que dificulta a compreensão. Como os treinadores explicam e facilitam o entendimento sobre essas palavras?

Mohammed: Dentro do CrossFit a galera utiliza muito termos como os surgidos originalmente dos Estados Unidos, por exemplo Walking lunge, obviamente nós falamos e por vezes  o aluno não compreende, mesmo ele já tendo praticado este exercício, mas todas as vezes falamos os movimentos nós demostramos e exercitamos na prática para facilitar essa compreensão.

 

Bate-bola:

S: Um atleta que te inspira?

M: Rich Fronnig

S: Seu movimento preferido no CrossFit?

M: Squat Clean

S: Um lugar para relaxar?

M: Em casa

S: Levantamento de peso ou corrida?

M: Os dois

S: Um bom livro que já tenha lido?

M: “Apostila CrossFit level 1”