“Uber é bom, ótimo. Para a população, melhor ainda”, afirma o mototaxista Wisley Chaves, que tem 32 anos e há 12 trabalha transportando os imperatrizenses. Ele completa: “Mas para o mototáxi não foi bom não. Porque o preço dele (Uber) é mais barato, carrega mais passageiros”.
Wisley afirma que perdeu muitos passageiros após a chegada dos aplicativos de transporte na cidade, perdendo, portanto, parte da sua renda também. Agora precisa trabalhar dia e noite para tentar manter uma renda que lhe seja razoável. Ele também diz que aumenta o desconto para que o passageiro escolha andar com ele ao invés de chamar o transporte pelo aplicativo. Por exemplo, uma “corrida” (como ele chama o serviço de transportar alguém), no centro da cidade, que antes custava R$ 7,00, agora ele cobra R$ 5,00. O mototaxista é favorável à permanência dos aplicativos de transporte na cidade, mas gostaria que houvesse uma regulamentação que limitasse o número de carros operando, o que em sua visão traria um maior equilíbrio de mercado para todos que trabalham oferecendo o serviço de transportar.
A concorrência entre motoristas de aplicativos como Uber e 99 e taxistas e mototaxistas tem sido alvo de calorosas discussões na cidade de Imperatriz. Os vereadores até tentaram impor um limite para o número de motoristas de aplicativos trabalhando na cidade, mas não obtiveram sucesso, e a política de limitação foi impopular e alvo de protestos online. Além disso, na quarta-feira, oito de maio, o Supremo Tribunal Federal (STF) vetou a proibição de aplicativos de transporte por parte dos municípios.
“A concorrência aí é de fazer o cão dobrar a esquina”
Alberto Ferreira, de 51 anos, é um experiente taxista, com 14 anos de serviço. Acostumado a transportar passageiros por toda Imperatriz, ele também já viajou para longe a trabalho, para cidades como Fortaleza, Belém e Parauapebas. Quando os aplicativos de transporte passaram a operar na cidade, assim como Wisley, ele viu a demanda de passageiros cair. Se antes ele competia com os ônibus coletivos, outros taxistas e mototaxistas, agora tem de enfrentar também os motoristas de aplicativos. “A concorrência aí é de fazer o cão dobrar a esquina, negócio é complicado”, afirma Alberto.
Para manter os passageiros, Alberto faz o melhor que pode. “Eu tenho meu jogo de cintura, né. Se dá pra fazer um preço bem abaixo, eu faço”, conta ele. Mas para ele, é difícil reduzir muito os preços, porque o taxista arca com outros gastos além de manutenção do carro e combustível para poder operar: alvará, taxímetro, sustento do posto de táxi (que inclui pagar o serviço telefônico, de energia e água), e em alguns casos, contribuição com o sindicato são exemplos desses custos. Uma solução encontrada por ele é um atendimento mais atencioso. “Com os meus clientes, eu tenho minha modalidade de trabalhar. Eu sei cativar meus clientes. Eu tenho meus modos. Se a pessoa tá precisando subir com sacola lá pra cima do prédio eu ajudo, se a pessoa permitir. Se a pessoa precisar, eu vejo a necessidade”.
O taxista Alberto gostaria de cortar mais gastos, não se sindicalizou justamente por isso, mas acha que apesar de o motorista de aplicativo ter menos gastos, não compensaria trabalhar nessa modalidade, afinal, as corridas também são significativamente mais baratas. Ele afirma que já viu gente desistindo de trabalhar no Uber porque no fim das contas as corridas baratas não estavam compensando, e acha que esse tipo de serviço, a preços considerados tão baixos, chega a ser injusto até para os próprios motoristas de Uber. “É uma concorrência desleal. Se fosse uma concorrência boa, eles próprios não desistiam. De seis reais, oito reais uma corrida? Não tem condição. Você ainda tira a porcentagem do aplicativo. Gasolina do preço que tá aí…”, ele reflete.
Os conflitos entre taxistas e motoristas de aplicativos podem ir além. Alberto se sentiu desrespeitado quando motoristas de aplicativos estacionaram os carros no posto dos taxistas, explicitamente chamando atenção para seus serviços, algo que aconteceu no carnaval, segundo ele. “No último dia de carnaval, eles vieram parar aqui (no posto de táxi). Quando eu cheguei, era umas quatro da manhã, eles estavam. E eles são chamados no aplicativo pelo celular, por que eles botam o nome (do serviço) de LED no para-brisa? Então já é uma afronta pra gente. Não vou generalizar, toda classe tem isso… mas eles ficaram aqui, com os LEDs deles acesos. Aí eu fui lá e perguntei pra eles: ‘Vocês não acham que estão abusando da bondade da gente?’ Depois dá uma confusão e chamam os taxistas de violentos”, desabafa.
A diferença entre os perfis de passageiros de táxis e de aplicativos de transporte começa a ser notada por Alberto. “O Uber tirou alguns clientes da gente. Mas a grande quantidade de quem anda de Uber é quem não tinha condição de pagar o táxi. É quem não tinha condição de pagar 15, 20, 30 reais numa corrida, aí tá andando de Uber. Eu vejo assim, porque a gente continua fazendo corrida ainda, né.”
Alberto diz que antigamente havia uma rivalidade entre taxistas e mototaxistas igual ou pior do que a que existe hoje em relação aos motoristas de aplicativos, e as coisas mudaram, por isso costuma dizer em casa sobre as voltas que o mundo dá. “Aí eu falei pros meus filhos que o mundo muda, as pessoas mudam, as coisas mudam… O mundo é assim, infelizmente não é só do jeito que a gente quer. Tudo que eu trabalho, tudo que eu faço, eu procuro ver além da coisa ali em si”, afirma Alberto.
“Trabalho tanto à noite como de dia”
João Carlos Júnior Azevedo, de 22 anos, trabalha há um mês e meio como motorista através do aplicativo Uber. Ele largou o serviço de eletricista, trabalho que ele achava mais perigoso, para trabalhar com o transporte, e apesar das dificuldades, está gostando da nova função. “Muito legal, além de ser um pouco puxado, tendo que para ganhar um bom dinheiro trabalhar mais que 13 horas por dia, até mais que isso. Trabalho tanto à noite como de dia”, afirma.
João não gosta muito da carga horário cansativa, mas vê vantagens em ser autônomo e fazer ele mesmo o seu horário de trabalho. “Tenho tempo pra resolver o que tem para resolver, só dar uma pausa no app.” Apesar de João achar as tarifas da Uber para os motoristas muito baixas, a renda dele cresceu no novo serviço, o que para ele compensou mudar de trabalho. “Como as tarifas que recebemos são muito baixas, temos então que trabalhar as benditas 13, 15, ou até 16 horas por dia. A Uber devia olhar mais esse nosso lado. Tinha outro trabalho, deixei por esse, na Uber consigo tirar o dobro do que eu ganhava no serviço anterior”, esclarece.
Um fator positivo apontado por João no novo trabalho é o contato constante com novas pessoas. “Conheço várias pessoas, do Brasil inteiro, pessoas legais.” Sobre a suposta concorrência desleal apontada por taxistas e mototaxistas, João se defende: “Eles acham isso, mas todo trabalho é digno. Quem ganha é o que tem o melhor para oferecer. Também não dou motivos para eles ficarem de mal comigo. Meu cliente chama, vou buscar, entrego onde ele desejar ficar e pronto, vou para outro. Seja onde estiver, faço só o meu serviço, e tá de boa, todo mundo sai feliz”, finaliza.