Ludymilla Souza
Trilheiros apaixonados por motos transformam a cidade em palco de intensidade
Ronco de motores, poeira levantada e adrenalina a mil: é assim que começa a Trilha da União, em Goianésia do Pará. O evento, que reúne trilheiros apaixonados por motos, transforma a cidade em um verdadeiro palco de intensidade e aventura. “Nós somos trilheiros desde 2002 aqui, no nosso município”, enfatiza Orilan Macedo, principal organizador da 5ª edição, que aconteceu nos dias 18 e 19 de maio de 2024. A festa fortalece a conexão com a comunidade, mantendo viva a essência das aventuras de moto.
Goianésia do Pará há muito tempo se tornou um palco importante para eventos de trilha. Tudo começou com a Trilha do Bagaço, que consolidou seu espaço entre os entusiastas do motociclismo, e este ano chega à sua 19ª edição. Nessa competição, os trilheiros percorrem as estradas vicinais do município durante o dia, e a noite conta com apresentações, manobras radicais de motos, shows com som automotivo e trio elétrico.
Em 2017, uma nova tradição surgiu: a Trilha da União. Segundo o prefeito da cidade, Francisco David Leite Rocha, conhecido como Pastor Davi, esse evento foi concebido com o propósito de estimular a cultura local e atrair uma maior diversidade de participantes de diferentes estados. “Eu me lembro que essa trilha nasceu em um momento de oportunidade, quando precisávamos de algo para chamar a atenção dos jovens, adolescentes e do público em geral”, recorda o prefeito.
Preparativos
A Trilha da União é preparada com cuidado, para garantir a segurança dos trilheiros, estejam eles pilotando motos ou quadriciclos. Todos os tipos de veículos são bem-vindos no percurso, que é adaptado para proporcionar uma experiência emocionante. A organização utiliza tratores para gradear a pista e demarca o trajeto com bandeiras coloridas, que indicam trechos perigosos e de alta velocidade. Além disso, há carros de apoio em caso de problemas mecânicos. “Esse trabalho começa 60 dias antes do evento”, destaca o organizador, ressaltando a importância do apoio do poder público.
O secretário de Cultura, Esporte e Lazer, Darlan Protazio Largo Jr., ressalta o aporte de recursos estaduais e federais, que garantem a realização não só a Trilha da União, mas diversos outros eventos. “Já conseguimos emendas parlamentares especificamente para a Trilha da União, o que é uma grande vitória para nós”, acrescenta, destacando o crescimento contínuo do evento. “Ver a Trilha da União crescer cada vez mais me deixa muito feliz”
Daniele Furtado, trilheira que faz do esporte o seu estilo de vida, é conhecida como “Danny Bala”, por sua velocidade nas corridas de moto. Ela aconselha que é fundamental preparar o corpo antes da trilha para evitar lesões e destaca a importância de usar capacete e roupas adequadas, além de ter muita cautela na largada. “Eu sempre tenho muito cuidado com a minha perna”, detalha, explicando que, na hora da partida, os participantes ficam desesperados para sair na frente.
“Nós, que somos apaixonados pela trilha e pelo Velocross, sempre esperamos cada momento como esse para satisfazer nossa paixão pelo esporte”, afirma Maurício Santos, conhecido como “Doido da Falcon”. Ele explica que o Velocross é outro importante evento que ocorre na cidade, no qual os pilotos aceleram suas motos competindo dentro de um circuito feito para a corrida sobre terra batida e muita lama. “Cada evento é bem organizado para que todos possam se divertir com segurança”, garante Maurício.
Embora a trilha não tenha uma premiação tradicional, todos os participantes que realizam a inscrição, pagando uma taxa de R$ 60, recebem um troféu de participação. “O objetivo da Trilha da União é promover a participação e a experiência, e não a competição”, diferencia o organizador Orilan Macedo.
Festa da trilha
Os trilheiros, “loucos” por motos, estão sempre ansiosos por essa aventura que começa não apenas no domingo, dia do êxito na lama. “A gente trabalha o sábado durante o dia, o sábado à noite e o dia de domingo, e ainda fica uma parte de domingo para segunda também funcionando”, afirma o prefeito, sobre o compromisso da organização em entregar uma festa organizada para a cidade.
“O processo começa cinco meses antes, com a divulgação da trilha,” conta Ruan Balla, DJ oficial do evento. Ele compõe uma equipe de vários DJs, e cada um precisa trazer algo diferente no repertório. “E o nosso desafio é fazer uma boa apresentação. Nosso repertório é composto por dance comercial e eletrofunk, os ritmos que a galera automotiva gosta e que garantem a animação da festa da trilha”, informa Ruan.
Ele lembra que sua estreia como DJ na Trilha da União aconteceu há dois anos, com a F250 Treme Terra, e foi um momento inesquecível. “Tocar na trilha me deu a oportunidade de crescer na carreira e, junto com o DJ Fernando Junior, animamos o evento desde então. A emoção de ver as pessoas se divertindo com nossos ritmos marcou minha trajetória, e isso abriu portas para tocar em diversas outras trilhas na região”, conclui Ruan.
No domingo de largada, a competição reúne trilheiros de várias cidades vizinhas, como Tailândia, Breu-Branco, Tucuruí e Jacundá. “Tudo isso em busca de uma aventura, com muitos obstáculos e muita lama e adrenalina. Na chegada dos trilheiros, muito som automotivo na praça dos Três Poderes”, relata o DJ Ruan Balla, entusiasmado.
Relatos pessoais
A competidora Daniele relembra as ocasiões mais marcantes que vivenciou no último evento, “Foi um momento inesquecível. Aquelas ladeiras, os morros, o ar puro da mata… Minha moto quebrou, perdi o freio em uma ladeira, mas mesmo assim não desisti. Continuei apenas reduzindo a velocidade e consegui chegar à minha meta”. Apesar de ter perdido o pai em um acidente de moto, Daniele, aos 33 anos, nunca desistiu de sua paixão pelas duas rodas. “A moto me traz liberdade, o vento na cara”, define, destacando o sentimento que a mantém firme em sua jornada no motociclismo.
Foi a partir da Trilha da União e dos amigos do evento que outro competidor começou a interagir e a se apaixonar pelas trilhas. “Comprei uma moto e fiquei apaixonado pelas trilhas. E, com isso, minha vida mudou”, afirma Darlan Jr. Ele conta que, antes de começar a praticar o esporte, pesava 156 quilos e não fazia atividades físicas. “Hoje eu perdi mais de 50 quilos através da moto e do esporte que praticamos”, destaca.
O vereador Kaic Guerra, outro organizador, por sua vez, conta que brinca de trilha desde quando tinha 10 anos de idade. “Vem de sangue! Meu pai corria trilha. Acredito que minha filha também irá correr. É algo que vem da família, passando de geração em geração”.
Economia
O impacto da festa é positivo na economia local. Comerciantes, hoteleiros e moradores se beneficiam com o aumento no fluxo de visitantes, o que reforça a importância do festejo para a cidade. “São as pessoas que vêm de fora que contribuem na nossa economia. Com mais de 5 mil pessoas na praça, e esse pessoal todo está consumindo. Se há consumo, está girando o capital, está girando o capital, está indo para a mão do povo da cidade, onde estão trabalhando”, avalia o prefeito.
Jurandir José de Souza, proprietário do bar JR Bebidas, diz que a festa influencia de forma acertiva os negócios. “Para nós, que trabalhamos com bar, vendemos nossas bebidas no centro da cidade, onde ocorre a trilha. Outros vendem comidas, lanches. Ajuda muito nas vendas, na renda da cidade.” Ele demonstra satisfação com o desenvolvimento do programa e deseja que “continue como está sendo feito”.
“É um evento que, além de reunir as pessoas do município, traz de volta os filhos de Goianésia”, ressalta Kaic, sobre o fluxo crescente de visitantes na cidade durante a Trilha da União. “Muitos de nossos conterrâneos, que hoje residem em outras cidades como Canaã, Parauapebas e municípios de Mato Grosso, e Goiás, retornam para participar conosco. Na data do evento, esses filhos de Goianésia vêm se juntar a nós, reunindo famílias e amigos.”
Impacto Social
Mas a Trilha da União não é só adrenalina e aventura, assim como afirmou “Doido da Falcon”: “A trilha não é só a gente chegar, entrar e sair, não!” Projetos sociais e ajuda humanitária são alguns dos eventos beneficentes organizados pelos trilheiros.
Kaic Guerra destaca que a organização do evento sempre mantém um olhar atento às questões sociais. Ele reconhece que embora algumas pessoas não apreciem a Trilha da União devido ao aumento de motos nas ruas e no trânsito, há um esforço conjunto com a Polícia Militar, Polícia Civil e outras instituições de segurança para garantir a estabilidade da cidade. Ele enfatiza a importância de considerar o lado coletivo do grupo trilha, que muitas vezes é ignorado. “Pensamos também no pós-evento, no pós-trilha, em levar algo social para a comunidade”, ressalta.
Na edição de 2023, o Grupo Trilha fez um percurso de 150 km de zona rural, onde presentearam muitas crianças e famílias, com brinquedos, lanches, relembra Orilan. Em setembro do ano passado, os trilheiros levaram alegria para as crianças das regiões rurais da vicinal Cinco Irmãos e de todos os núcleos, do 1 até o 6. Ele relata que tem o desejo de transformar o grupo Trilha da União em uma entidade social, para que possa ajudar ainda mais as pessoas.
Diversidade
A diversidade se reflete, ainda, na participação do público feminino, que vem conquistando cada vez mais espaço na trilha, como comenta a competidora Daniela. “Eu, como a única mulher trilheira na cidade que corre, motivei mulheres que gostam do meu jeito a perderem o medo de fazerem o que elas gostam por receio das pessoas julgarem.” Para ela, a trilha é um hobby de cada uma que ama motos. “Não só o lado masculino, mas também o feminino tem direito de fazer o que ama”.
Expectativas
Orilan conta como as expectativas em relação ao número de participantes, que são em média 300 trilheiros inscritos em motos e quadriciclos, deve ser superada a cada edição. “Este ano, quando chegamos no percurso de ‘trilha-mato’, como a gente chama, e vimos aquela quantidade de pilotos vindo, nos surpreendeu!” Ele expressa satisfação ao ver a participação dos trilheiros prestigiando o evento. E revela que a trilha de 2025 já está sendo preparada. “É finalizando uma trilha e começando a organizar outra. Estamos aqui todos os dias trabalhando, se dedicando, fazendo orçamento, vendo e revendo.”
O DJ Ruan Balla expressou grandes expectativas para a próxima edição da Trilha da União, com uma previsão de público superior a 5 mil pessoas. Segundo ele, a cada ano, o público só cresce, e as atrações fazem com que mais pessoas, inclusive das cidades vizinhas, participem do evento.
“Não é apenas uma corrida; é uma festa que celebra a cultura, a tradição e a união da comunidade de Goianésia do Pará.” expressa o prefeito. Com o apoio contínuo da cidade e a dedicação de todos os envolvidos, o evento promete continuar a ser uma celebração de adrenalina e tradição para as futuras gerações. “E aí, fica meu convite bem grandão: Cabem todos, podem vir!”
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.