“Tinham 17 pessoas mortas onde eu estava vivo ali em cima, trabalhando”, relata jornalista sobre a cobertura da queda da ponte entre Tocantins e Maranhão

Por: Ana Maria Nascimento

O jornalista e repórter Hemerson Pinto esteve à frente da cobertura do caso que repercutiu no país: o desabamento da ponte que liga Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), ocorrido no dia 22 de dezembro de 2024. Em entrevista ao Imperatriz Notícias, ele relatou como começou a apuração e os momentos de tensão vividos. 

“Eu estava com minha família na casa da minha sogra. Minha esposa viu uma postagem numa página e veio me mostrar. No mesmo instante começaram a cair alguns vídeos no grupo da redação de jornalismo da TV Difusora, por meio de uma colega que tem família em Estreito”, comenta o jornalista. 

Hemerson passou a acompanhar as novas postagens e ficou atento ao telefone, porque sabia que poderia ser acionado a qualquer momento para a cobertura. O repórter Hemerson, o repórter cinematográfico Daniel Santos e o motorista e auxiliar técnico Gil Marcone começaram a se organizar ainda na noite do desabamento. “Às 6h da manhã de segunda-feira, estávamos saindo da TV rumo a Estreito”, diz o jornalista.

A equipe da TV Difusora presente no local do desabamento da ponte (Créditos: Hemerson Pinto)

As dificuldades se mostraram já no início da cobertura. Eles pararam em Ribeirãozinho do Maranhão  para tomar café e começou a chover. O resto da viagem foi feita embaixo da chuva. “A chuva foi muito forte, ao ponto da gente só conseguir sair do carro, pôr o pé para fora do carro para começar, de fato, a cobertura, quando já era 10h05 da manhã”, e Hemerson ainda fala que isso atrasou duas horas o planejamento. 

Outro desafio pelo qual passaram foi as entradas ao vivo. Hemerson Pinto comenta que realizou cerca de 11 entradas ao vivo por dia para as emissoras locais e nacionais. “Eu entrei para São Luís e esse ao vivo já emendei na coletiva e fiquei simplesmente 36 minutos falando, fazendo perguntas. É o maior ao vivo que eu fiz na minha vida. Ali você tinha que ter o pulso firme e não podia titubear, perder o raciocínio em qualquer momento”, expõe. 

A equipe ainda precisou viajar diariamente de Imperatriz a Estreito, porque não havia mais vagas em hotéis na região. As saídas eram às 4h da manhã. Eles voltavam por volta das 20h, o que acabou deixando Hemerson e seus companheiros cansados. 

Apesar das dificuldades, o repórter relata que a sua experiência de 12 anos no telejornalismo o ajudou a lidar com a pressão. “E essa situação fez com que eu entendesse que consigo desenrolar a profissão que escolhi, a minha forma de fazer jornalismo, a minha forma de participar ao vivo, sem precisar estar com uma colinha na mão. Isso faz com que a gente perceba que está pronto para fazer outras grandes coberturas”, afirma Hemerson Pinto. 

O jornalista revelou uma situação que não comentou com ninguém e nem publicou em suas redes sociais. No segundo dia de cobertura, havia várias embarcações voluntárias saindo de um cais improvisado em busca de corpos. Em uma delas, duas pessoas convidaram Hemerson para acompanhar a coleta de água para análise de contaminação. 

No meio do rio, ao olhar para a estrutura destruída da ponte, ele sentiu o impacto do cenário. “É algo sombrio de você olhar aquela estrutura quebrada. Você vê as pontas dos ferros, o pedaço do asfalto pendurado. E aí, foi onde eu refleti um pouco, dentro do barco, lembrando que ali embaixo de mim, dentro daquela água, 50 metros de profundidade, tinham 17 pessoas mortas naquele instante, onde eu estava vivo ali em cima, trabalhando. Lembrei da minha família que estava em casa. E pensei nas famílias dos que estavam ali embaixo”, relembra Hemerson Pinto.

O jornalista usou o espaço que tinha tanto na televisão quanto nas suas redes sociais para explicar os fatos para a população. “Desde quando eu cheguei lá, passei a narrar tudo aquilo na rede social e dizer o que estava acontecendo, chamando a atenção para os jornais. E a gente conseguiu eliminar várias situações que eram fake news, eram informações falsas”. Ele verificava diretamente com as fontes e esclarecia para o público se aquilo era verdade ou não.