Ainda é um tabu falar sobre a sexualidade da mulher
Texto e foto: Andréia Liarte Barbosa
Mesmo com todas as conquistas que as mulheres obtiveram ao longo dos anos, o direito à masturbação sem sofrer recriminação ainda não é possível. “Bom, acho que em primeiro lugar existe preconceito com a própria vagina. A masturbação seria uma segunda etapa disso”, comenta a historiadora e colunista do site Vertigem, Palmira Margarida, de 35 anos. De acordo com ela, as mulheres sofrem essa repressão sexual só pelo fato de serem do sexo feminino. “Então o preconceito começa no próprio lugar de ser mulher. De que você não pode ter intimidade com seu próprio corpo”.
Palmira acha que a melhor forma de acabar com essa realidade é a educação. Mas, em sua opinião, com a crise política que o Brasil atravessa, vai ser cada vez mais difícil isso acontecer por conta do conservadorismo. “Muito provavelmente eu vou parar de escrever sobre esses assuntos nos próximos quatro anos, porque eu não quero ser perseguida, eu não quero ser presa. Eu só vou continuar escrevendo sobre esses assuntos se eu conseguir morar fora do Brasil. Não tem mais como eu continuar escrevendo sobre feminismo, sobre prazer feminino, simplesmente porque essa sociedade não quer que a mulher tenha nada disso”, desabafa.
A historiadora conta que já sofreu perseguições por aquilo que prega, principalmente de mulheres que são contra a masturbação. “É como se fosse uma audácia falar sobre isso. Então as mulheres ficam muito incomodadas de falar sobre pepeca e sobre masturbação, porque pra elas é um assunto limite, que não pode nem ser falado”.
HERANÇA
A psicóloga e especialista na área da sexualidade, Lena Noleto Maria Ayres Guimarães, de 66 anos, ressalta que a sexualidade feminina ainda guarda resquícios de uma cultura conservadora. “De preconceitos, valores que são internalizados ainda. Vestígios de culturas medievais, ainda tem muita coisa antiga influenciando os nossos costumes e os nossos hábitos”, avalia. Para ela, falar sobre a masturbação tanto masculina quanto feminina ainda é um tabu na sociedade. “Ainda é um assunto velado. Não é uma coisa em que as pessoas chegam e falam naturalmente. Mesmo as pessoas que me procuram com dificuldades diversas. A masturbação seria, vamos dizer assim, um dos últimos itens a serem abordados”.
Lena Noleto explica que o sexo feminino tem várias zonas de prazer pelo corpo todo. “A mulher tem uma vantagem incrível em relação aos homens. Por quê? A mulher é muito estimulada pelo toque. E qual é o nosso maior órgão? Alguém poderia dizer ah, é o pulmão, é o coração. Mas não, o nosso maior órgão é a pele. Então nós temos n possibilidades de pontos de obtenção de prazer. Desde o alto da cabeça até o dedão do pé. Nós temos possibilidades de zonas de locais que possam ser prazerosas nesse toque. Então cabe à mulher a busca de conhecimento de que pontos são esses e de que forma, com que intensidade, ela prefere ser tocada”.
Para a psicóloga, a vantagem das mulheres é que elas não têm só o Ponto G mas, sim, o alfabeto completo. “Se ela tem n pontos, por que um ponto só?”. Lena reforça que a religião e os costumes da sociedade antiga ajudaram a demonizar não só a sexualidade feminina como também a masculina. “Questões religiosas, costumes, valores morais, vindos de temas trazidos pela igreja e internalizados pela sociedade. A dificuldade de diferenciar a Eva que tem a figura da pecadora daquela que introduziu o pecado acabou trazendo associada uma diabolização da sexualidade, de uma coisa errada, pecaminosa, suja”.