Mudanças contrastam o antigo e novo bairro Santa Inês

Região de recente expansão é preferida dos migrantes ao chegarem à cidade

Isaac Giovanni

Sabiás, bem-te-vis, curiós e colibris, são alguns pássaros que preenchem tanto os ares, quanto os nomes das ruas do Santa Inês, bairro com história antiga e destaque recente no lado Oeste de Imperatriz. Sua memória é fixada pelo relato de alguns dos seus mais antigos moradores, que comentam a vivência nos primeiros anos e a expansão da região.

Nos anos 1990, o bairro não tinha água, luz, nem estrada, mas havia Jeneza Alves da Silva, 75 anos, que morou com seus oito filhos, ao lado de outros três vizinhos. “Era o vizinho aqui, seu Antônio, do lado, a outra era a Dona Nazaré, e a outra era a Dona Jesus, que ela já morreu, era só nos quatro e o matão”, relembra a dona de casa.

A condição e senso de comunidade que, por sua vez, era inevitável, fortaleceram o crescimento do local. “Nós, os quatro moradores, nos reunimos, compramos uns postes de madeira e trouxemos uma gambiarra lá da pista até pra cá, com os fio e tudo. Mas nem pegava televisão. Nós ‘tinha’, mas não podia assistir, porque não pegava não, era só uma terrinha de fio. Depois compramos outra, aí fez duas terras de fio, mas era só quatro ‘morador’”, detalha Jeneza. “A precisão obrigava”, enfatiza, ao lembrar das dificuldades.

“Eu me acho muito alegre, porque a vida já é dura” diz Jeneza, na fachada de casa. (foto: Isaac Giovanni)

Outra visão do passado vem de Nazaré Alves da Silva, de 77 anos. “Estavam cortando aqui nesses matos e minha filha disse: ‘Mãe, vai lá e compra um terreno bem mais perto da estrada’. Já tava tudo cheio, aí achei este bem daqui. Aí comprei essas duas casas, a azulzinha e essa daí”, relata a também dona de casa, que fez parte da primeira organização de residências na rua.

 “Aqui era todo dele, é tanto que quando estavam cortando por aí, algumas pessoas que foram ver, diziam que ele não vendia terreno pra pobre não, que não tinham condição de fazer casa. Aí dei sorte que venderam aí, que é uma cidade tão bonita, tem tudo aí pra dentro”, conta Nazaré. Hoje dona de três casas na rua, ela soube das dificuldades com a venda desses terrenos, com o antigo dono da então parte da rua.

Mas o bom-humor está em dia nesta vizinhança. Ao chegar sua filha com o almoço, ela é questionada: “E o quê que esse rapaz quer?” Ela responde imediatamente: “Ele quer almoço.” Agradeço e recuso a oferta, rindo. Logo após, sigo com a conversa.

Terrenos que um dia foram um campo são tomados por casas, em frente a de Nazaré. (foto: Isaac Giovanni)

O Campo

O esporte também fazia parte do cotidiano no bairro. Lembrado pelos vizinhos, o campo que ficava à frente, era ponto de lazer, mas foi desfeito com a venda de terrenos no local. “Tinham muitos jogadores, vinham ônibus cheio de gente pra jogar bola. Depois acabou tudo. Falavam que: ‘Ah, isso aqui vai acabar, porque vão fazer uma Caixa Econômica, vão fazer um banco’. Aí nem fizeram nada disso, só venderam os terrenos tudo”, relembra Nazaré Alves da Silva.

É forte a memória pelos seus moradores. Rosalina Roque, de 71 anos, também esteve presente nos dias desse espaço. “Aqui antigamente, aí no fundo era um campo de bola, que a gente chamava o Campo do Jacó, porque esses terrenos pra cá a gente sempre conhece por terreno do Jacó”, afirma a moradora da rua B. Ela também se lembra do período do ex-prefeito Davi Alves Silva, que cumpriu o mandato entre 1989 e 1993, tendo sido também deputado estadual e federal. ‘Ele queria comprar os terrenos, para lotear, pra dar pro povo, aí ele não vendeu, só vendia se fosse assim, só se fosse todo loteado”.

Rosalina gosta de passar o tempo cuidando de casa e assistindo às programações da TV. (foto: Isaac Giovanni)

Ela foi uma das vítimas das enchentes que também atingiram o Parque Alvorada II, em março de 2022. “A água vem pra cá, ainda tem a marca disto na parede aí, olha onde a água entrou. Aqui, porque tem esse terreno baldio bem aí, o homem nunca fez a canaleta, porque quando fizer a canaleta, a água não importa”, explica Rosalina.

Compromisso

No bairro desde março de 2022, Valterly Barros, de 52 anos, líder comunitário,  ajuda diariamente com a limpeza, manutenção e suprimentos que são necessários para a comunidade. “Estou ajustando para que tenhamos o mesmo propósito”, afirma.

Sobre o benefício de ter como vizinho o atual prefeito de Imperatriz, Rildo Amaral, ele relata: “Em tão pouco tempo, já fez grandes benefícios no bairro, como iluminação em led na avenida principal, tapa-buracos, construção de poço artesiano que está em fase de acabamento. E recentemente iniciou a construção de uma praça no pomar comunitário. Sendo assim, os residentes do bairro são privilegiados por ter o prefeito morando no bairro”.

Ele conta que como líder, o seu papel é contribuir e representar a comunidade levando demandas ao poder público e parceiros. “Um líder comunitário é um ser necessário e importante, porque auxilia as pessoas que fazem parte do grupo a desempenhar sua cidadania”, explica, esperançoso. Sua tarefa pode despertar a vontade de todos os outros, a se preocuparem com o bem-estar e saúde de suas respectivas comunidades.

Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.