Por: Mateus Farias
Imagens: Mateus Farias
Iniciando mais uma noite de calor na Praça da Bíblia. São 19h. Crianças jogam bola, andam de bicicleta, brincam no parquinho, carrinhos de pipoca e açaí, coisas do cotidiano. Exceto por uma coisa: esta noite tem um show de Rock, o MotoRock ITZ. Um ponto fora da curva numa cidade com gosto musical predominantemente sertanejo.
Antes do início do festival, a organizadora do evento, Hilda Timóteo, está muito feliz. Nesses últimos dias de preparação, a maior dificuldade foi “o som. Rapaz, que difícil! Consegui arrumar com dois dias pro evento. Mas, tá sendo muito gratificante”. A gratidão é grande, mas poderia ser ainda maior, pois esta edição é feita apenas com recursos próprios, ajuda de colegas e amigos. Segundo a organizadora, “é a cara e a coragem”. A ideia é buscar, futuramente, ajuda pública e privada.
Após um ano sem nenhum MotoRock, essa é apenas a primeira edição de muitas.
Quem aparece logo em seguida é o presidente do Moto Clube Anjos de Duas Rodas, Hildegard Lima. Ele fala com Hilda sobre os preparativos para o show.
Sob a tenda com luzes e fumaça teatral, está o vocalista da banda Mr. Nani, fazendo uma palinha de guitarra com músicas do Legião Urbana.
Agora os carrinhos de açaí e de pipoca não são os únicos veículos na praça, porque começa a chegar o pessoal dos motoclubes, pouco a pouco, em motos enormes e estilosas. Integrantes de diferentes motoclubes, como Anjos de Duas Rodas e Águias Cromadas, Escória, Motoux, Kings North, Libertos e Abutres. Eles podem até passar um pouco de medo, mas a organizadora do evento garante que “são as melhores pessoas”.
De longe, todos ficam impressionados com o desfile de motocicletas, dando voltas para as câmeras que registram o momento. Até mesmo algumas crianças que brincavam agora olham com fascinação.
Quem também assiste à chegada constante de motos, ao som de Sweet Child O’ Mine, do Guns N’ Roses, é Ana Paula Freitas. De vestido preto, combinando com a estética do rock, ela passeia com o cachorro Línio, um Golden Retriever adulto. Ana Paula diz que mora perto da Praça da Bíblia e, ao ouvir o som, decidiu ver do que se tratava. Não era planejado vir ao show, mas, como ama o gênero musical, decidiu ficar. “E a música é ótima, né? [Risos]”. O cunhado de Ana Paula tem uma moto igual às que chegam e também adora rock, segundo ela.
Músicas nacionais e internacionais tocam dos alto-falantes. Take On Me, de A-ha; Tempo Perdido, de Legião Urbana; Don’t Stop Me Now, de Queen; Losing My Religion, do R.E.M. – o oposto do tocado nos bares e shows comuns de Imperatriz. “Melhor que muita sofrência que toca por aí. Melhor mil vezes. Rock é muito bonito”, diz Ernando Farias Timóteo, que é radialista e pai da organizadora do evento. Ele também ajuda na realização, contando que não há patrocínio, apenas ajuda de amigos, cada um cedendo algo. “Nós não fazemos por dinheiro, a gente faz por amor”.
E é esse amor por boa música que une diferentes pessoas nesta noite. Em meio aos motoclubes que chegam — Carcarentos e Bodes do Asfalto — um chama atenção justamente por essa diferença: o Adventist Motorcycle Ministry (AMM), um motoclube cristão, com o lema “Igualdade, Respeito e Irmandade”. Aproveitando o evento para fazer um trabalho evangélico por meio da distribuição de livros.
O integrante do AMM, Regis Dantas, conta que o motoclube adventista “não mexe com bebida, com arruaça”, mas também não impede a interação com quem é de fora da igreja. “É só curtição e respeito ao próximo… a gente interage com outros moto clubes de boa”. De acordo com ele, o motoclube nasceu em 2010 nos Estados Unidos e hoje está presente em 22 estados do Brasil. A presença da AMM no MotoRock vai além de interagir com os outros motociclistas, também divulgando a mensagem do cristianismo e fazendo novas amizades.
Surgindo muita interação ao decorrer da noite. Grupos se formam e o pessoal conversa entre si, dividindo o espaço, bebida e assuntos sobre bandas e músicas. Mais motos chegam, pessoas também, aguardando o início do show.
Quem inaugura o microfone é a banda Mr. Nani, agitando o público com Geração Coca-Cola, do Legião Urbana. Mr. Nani é uma banda imperatrizense que faz cover da banda Capital Inicial, tocando no MotoRock algumas faixas como Veraneio Vascaína, À Sua Maneira, Música Urbana e algumas autorais.
Nesse momento, quem está nos lanches da praça sai rumo ao centro do lugar para ver a apresentação de perto. As luzes coloridas que iluminam a tenda dão um tom de alegria e agitação.
A euforia cessa um pouco quando a banda Mr. Nani finaliza, para a banda Millennial entrar em seu lugar. Os membros reproduzem alguns riffs, testando e afinando os instrumentos, enquanto o vocalista reproduz “ei som, oi som” no microfone.
Não demora muito para a Millennial mostrar seu potencial. Já colocam o pessoal para mexer os pés e balançar a cabeça ao som de hits dos anos 2000, como Otherside e Californication, do Red Hot Chilli Peppers, e Creep, do Radiohead. A Millennial também prova que nem só de rock vive o roqueiro, ao tocar As It Was, do cantor pop Harry Styles; Do I Wanna Know, da banda indie rock Arctic Monkeys; e Believer, da banda de pop rock Imagine Dragons. Uma verdadeira mistura de diferentes gêneros musicais, com algumas faixas românticas e outras agitantes, levando o público a pular e cantar junto.
Notavelmente, o público estava adorando a apresentação, pedindo até músicas para serem tocadas. Mas, como tudo que é bom acaba, o show também teve seu fim. Que não foi com tristeza, nem pesar, mas com uma salva de palmas e gritos. O vocalista, Arthur Ramos, agradece o carinho do público e se retira.
Antes de ir embora, quem é da organização ainda precisa desmontar alguns equipamentos. Enquanto isso, o som ambiente no momento é de música dance/eletrônica. Com o fim do show, a organizadora, Hilda Timóteo, fala que tudo foi “maravilhoso, tô em êxtase [Risos]”.
Hilda se sente muito feliz com o desfecho de tanta correria, espera que consiga patrocínio nas próximas edições, além de deixar confirmado um novo MotoRock para o dia 28, última sexta-feira do mês.