Moradores transformam rua Santos Dumont, em Augustinópolis (TO), de residencial para comercial

Texto: Rayra Silva

Fotos: Google Maps (1) e Richard Silva (2)

A localização da rua Santos Dumont, que tem aproximadamente um quilômetro e percorre o centro de Augustinópolis (TO), permite que o tráfego de pessoas e o transporte diário seja intenso. Por estar centralizada, quem anda por ali pode ir e vir de seus destinos, e, no caminho, realizar suas compras. Assim, a via atrai clientes de todas as regiões da cidade e até mesmo  de outros lugares, justamente por oferecer todo tipo de comércio.

É possível encontrar açougues, cabelereiros, distribuidora de bebidas, farmácia, hortifrutis, lojas de roupas, móveis planejados, oficinas de motos, supermercados. “Ela atrai todos os tipos de comércio e clientes”, destaca Wagner Lopes, 47 anos, morador e comerciante há oito anos no local.

Comerciante e morador, Gleison Barros, 28 anos, se mudou com sua família há dez anos para a região. A quantidade de açougues era escassa e o movimento de pessoas também. “Vai fazer dois anos que trabalho como comerciante. Antes era do meu irmão que depois passou pra mim”.

Gleison acredita que seja o terceiro açougue mais antigo da rua. “Quando meu irmão abriu só tinha o Cabeludo e o açougue Gabriel. Com o tempo começou abrir mais e mais”, informa. Antes havia mais moradias e, com o passar do tempo e a valorização da rua, as casas diminuíram para dar abertura a novos estabelecimentos, tornando a via muito conhecida pela variedade comercial.

Os pontos positivos da região são o saneamento básico, boa centralização, divisão de setores e grande fluxo de pessoas, o que possibilita o surgimento de novos comércios e geração de empregos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 63,5% de todas as vagas abertas no Brasil contribuíram para minimizar o desemprego no país no ano de 2022.

Por ser estreita e apresentar grande fluxo de veículos, porém, a via se torna perigosa para os pedestres, ciclistas e comerciantes. “Tem dia que Ave Maria, essa rua é um troço mais horrível do mundo. Muita gente deixa de vir comprar na nossa mão por causa disso, por causa da rua”, ressalta o comerciante Gleison Barros.

Rua Santos Dumont, em imagem de 2022, com expansão comercial

Transformação

A passagem de uma rua residencial para comercial, foi causada pelos próprios moradores. Após observarem a importância da via, eles perceberam que seria possível montar seu próprio empreendimento, conseguindo assim gerar uma renda.

O segredo foi apostar na diversidade, já que os comerciantes notaram as diferentes necessidades que os consumidores apresentavam”, comenta Janay Alves, 18 anos.

 Surgiu, então, a “concorrência”. “É uma concorrência saudável pelo fato de os comerciantes serem muito parceiros. Quando um produto entra em falta, avisamos aos clientes em quais estabelecimentos podem encontrar assim fazendo com que os dois estabelecimentos ganhem”, acrescenta Janay.

Esse companheirismo e respeito também existe entre os comerciantes e os que residem na rua. “As lojas não incomodam os moradores e eles também não atrapalham o movimento”, garante Janay Alves. Já que a maioria tem seu negócio, durante o finalzinho da tarde pode ser observada essa troca de gentileza e amizade entre clientes, funcionários, comerciantes e moradores, que muitas vezes se reúnem para conversar depois de um dia cansativo.

Clientes

“Estou fazendo as compras que minha mãe pediu. Todas as vezes que venho consigo o que ela precisa sem necessidade de ir ao outro lado da cidade para encontrar”, relata Nadila Azevedo. O fato da Santos Dumont ser uma das principais ruas no centro da cidade permite que o movimento de pessoas que realizam suas compras diárias seja intenso. Às vezes os clientes sentem uma carência no atendimento, já que os comerciantes têm que se desdobrar para conseguir atender a todos que aparecem. “Mas isso não me impede de vir todas as vezes que precisar para realizar as compras necessárias para a mãe”, garante Nadila.

O aumento do preço da carne não impediu a abertura de novos estabelecimentos com o mesmo nicho, como o próprio açougueiro Gleison Barros esclarece. “Muitas pessoas consomem carne, é uma coisa de necessidade. Produtos como comida são essenciais. Então as pessoas precisam e procuram, mesmo tendo esse lado do preço. Todo mundo vende, tem seus clientes. Uns podem vender mais, outros menos, mas todo mundo acaba conseguindo vender e ter sua renda”.

Preocupações

No período do auge da pandemia da Covid-19, o cuidado ao vender foi redobrado, o que se tornou um desafio para muitos. Para contornar a situação, os comerciantes tiveram que lançar mão da criatividade e ainda usam para manter os clientes, como entrega das compras direto nas suas casas. Naquele mesmo período, a feira, que também ficava instalada na rua, parou de funcionar.

Mas, logo após a série de vacinações e diminuição do contágio, os domingos voltaram a ser movimentados e o lucro foi retornando aos poucos. “Dia de domingo acaba atraindo muita gente de fora, do interior, dos assentamentos. Mas, infelizmente, a feira é muito pequena, deveria ser maior.  Todo mundo quer fazer um churrasco, uma coisa diferente, comer uma feijoada, sempre acaba procurando o açougue”, afirma Gleison Barros.

Vários clientes estacionam os seus automóveis próximos à feira coberta

Quando a expansão comercial começou, as pessoas tinham vontade de ter seus estabelecimentos próximos à feira. Ela era vista como o melhor ponto, não só pelo movimento de domingo, mas por ser considerado um local de referência. “Aqui na nossa cidade é cultura o dia de domingo ser o de feira. As pessoas vão atrás de produtos mais baratos. O movimento de pessoas fica intenso, ajudando os setores que englobam as proximidades”, detalha Janay Alves. Ele explica que o público acaba se dirigindo para as outras lojas da rua e, por este motivo, alguns estabelecimentos decidem funcionar aos domingos.

Vale ressaltar que não é só aos domingos que o fluxo de pessoas é grande. “Os horários mais movimentados que eu observei na rua Santos Dumont são pela manhã, é até o meio-dia. E entre as cinco horas até às seis também é movimentada, por ser o horário de saída da maioria dos funcionários”, observa Wagner Lopes.

No início de cada mês a quantidade de clientes aumenta, já que é o período de receber salários e de muitos idosos realizarem suas compras do mês. O movimento acaba diminuindo ao decorrer dos dias, mas isso não impede que os proprietários dos estabelecimentos consigam obter sua renda.

“Daqui a alguns anos o número de residências vai diminuir muito, só restando estabelecimentos comerciais de todas as áreas. Isso não vai passar nem muitos anos e, logo logo, vai ficar só comércio, se tornando uma rua comercial”, analisa Wagner Lopes.

Esta matéria faz parte do projeto “Meu canto também é notícia”, desenvolvido com os estudantes do 1º semestre do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz (MA). Eles e elas foram estimulados a procurar histórias no entorno onde vivem.