Morada do Bosque luta por dignidade para deixar de ser esquecido

Impacto do descaso público e da falta de infraestrutura marcam o bairro  

Sâmela Ferreira

Com aproximadamente 40 anos, localizado em Imperatriz, Maranhão, o bairro Morada do Bosque nasceu do sonho de autônomos criadores de gado que, acompanhados de suas famílias, buscavam um lugar para chamar de lar. Recém-casados, cheios de esperanças e ambições, encontraram o espaço para construir suas vidas. O local oferecia não apenas sustento, mas também momentos de lazer e conexão com a natureza. As crianças cresciam, vivendo uma infância simples, mas repleta de alegria, preservando os valores de uma comunidade que, ao longo dos anos, foi se transformando.

Imperatriz cresceu, e o bairro, antes pequeno e afastado, passou a ser integrado ao ambiente urbano. Os moradores ainda enfrentam antigas demandas. Diante do crescimento da população, a busca pelo básico, como iluminação pública decente, vias de acesso adequadas e transporte público, tornou-se prioridade.

Morada do Bosque, em Imperatriz, no Maranhão, surgiu do sonho de criadores de gado e sofreu modificações urbanas. (imagem/Reprodução)

Vida cotidiana

Ednamar Nascimento vem acompanhando a evolução da vizinhança há 28 anos. Ao ser questionada sobre as mudanças com o passar do tempo, informou: “Quase não tem diferença, ainda continua muita área verde, não tem muitas casas e as ruas têm muito buraco, parece mais uma área rural”.

Moradora Ednamar Nascimento, em uma roça de milho na localidade: “Ainda continua muita área verde”. (Foto: Sâmela Ferreira)

Constituído por pequenas fazendas, com variedades de árvores frutíferas e babaçu, o bairro foi batizado como Morada do Bosque pelos primeiros moradores. O gado pastava nos arredores, enquanto as crianças brincavam próximas de suas residências. As mulheres também exerciam atividades extrativistas: “Elas catavam coco, quebravam e faziam azeite, viviam disso”, relatou Ednamar. A vida social dos moradores se baseava em conversas na porta e brincadeiras. “Hoje, as crianças chamam de amarelinha, mas a gente chamava de cancão. E tinha o campo também, os meninos gostavam de jogar bola.”

A correria do dia a dia se caracteriza pela dificuldade de obter água apropriada para consumo. “Pra beber, a gente pega água lá no bairro Cinco Estrelas. Vamos com carro de mão, junta toda a vizinhança.” declarou Ednamar.

Infraestrutura

Antônia Ferreira, de 78 anos, se mudou para morar com seus filhos na região em 1992. Hoje, já com netos, ela revela o estado em que se encontra a Morada do Bosque, com a carência de escolas, postos de saúde e a falta de infraestrutura. “Um trator nunca passou nas ruas daqui para fazer nenhum benefício”, relatou.

Diante do descaso dos gestores públicos, os moradores enfrentam um grande problema que impede o crescimento da região. “Muitas pessoas têm lotes e já estão vendendo, porque não podem construir por falta de água e de ruas”. Antônia informou ainda que, em sua residência, o fornecimento vem de um poço antigo, que abastece a sua família, mas a água não é apropriada para consumo, exigindo a necessidade de comprar água mineral para beber.

A principal via de acesso é a Avenida das Constelações, que liga o bairro Cinco Estrelas até o Bom Jesus. Um caminho para várias regiões, mas que se encontra sem asfaltamento, repleto de buracos que inundam durante o período chuvoso. A avenida foi pavimentada apenas uma vez, durante a gestão do ex-prefeito Assis Ramos, mas, hoje, o revestimento é inexistente em grande parte do trecho.

Avenida das Constelações, no Parque das Estrelas, é a principal via de acesso à Morada do Bosque: abandono. (foto: Sâmela Ferreira)

Margem da indiferença

Por ser um bairro não localizado no mapa da cidade, sem código de endereçamento postal e de difícil acesso, os moradores já passaram por muitas situações desfavoráveis. “A gente chamava a ambulância. Era muito difícil para chegar até aqui. Certa vez, eu tive que pegar na Rua dos Cedros. Saí daqui me arrastando, gritando de dor, para que chegassem até mim”, desabafa Antônia Ferreira. Essa situação, segundo ela, a deixa envergonhada. “Como brasileira, imperatrizense, nunca tinha me achado tão diminuída”.

Antes da atualização das diretrizes dos postos de saúde, os moradores enfrentavam muitas adversidades para utilizar as unidades básicas. “Como nós somos fora de área, não tínhamos acesso. Eu mesma já fui barrada muitas vezes”, desabafou Ednamar, mãe de cinco filhas. Ela relembra um dia angustiante em que precisou de uma ambulância para uma de suas crianças. “Lembro como se fosse hoje. Eu tive que ir a pé até o Residencial Cinco Estrelas. De lá, disseram que iam me aguardar, e eu fiquei até com medo de eles não virem. Quando cheguei, já estavam lá, mas não quiseram entrar até aqui porque havia risco de atolar.”

Esperança

Adelina Bahia, 66 anos, moradora do bairro há 36 anos, acredita que a região já passou por transformações positivas, mas reconhece as necessidades ainda existentes. “Melhorou um pouquinho, sim, mas precisa melhorar mais. Pedimos aos governantes que olhem por nós, precisamos de uma infraestrutura melhor, porque somos um pouco esquecidos.”

Diante do sonho de melhorias, ainda pairam na memória de Dona Ednamar as vagas promessas. “Uma rua principal para passar coletivo, para facilitar os nossos filhos irem para a escola, uma área verde, que era para ser uma praça e um colégio. A gente está aguardando até hoje essas construções, a realização desses projetos.”

Com a nova administração municipal, do prefeito Rildo Amaral, acende-se a esperança de Dona Adelina por mudanças, e mais uma vez, a população do bairro Morada do Bosque renova a crença no desenvolvimento. “Eu acredito que vai melhorar muita coisa para nós, porque a tendência é melhorar mais. A gente tem fé e confiança em Deus de que as coisas vão melhorar, porque precisa.”

Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.