Jucilene Almeida: a dona da casinha na montanha do Jardim das Oliveiras

Entre o barro e o açúcar a moradora transformou desafios em um negócio próspero

Por: Gabriel Jordan

Jucilene no escritório da sua empresa em frente a logo de seu negócio.

“Moradora da casinha na montanha”. É o que dizia a sogra de Dona Juceline de Almeida, de 37 anos, quando decidiu morar com o marido no loteamento Jardim das Oliveiras. Vinda da cidade de Amarante, ela residiu no bairro Bacuri durante quatro anos e ao casar com Biliel Costa, decidiram investir juntos em um lote no bairro, ela foi a quarta moradora e lembra o quanto gastou na compra do espaço. “Na época que eu comprei eu acho que dei dois mil reais de entrada, mas hoje o que se encontra aqui nesse valor? Nada né!”. Ela relembra que em 30 de outubro de 2014, ela e o marido começaram a viver no bairro e não viam o local como um investimento, mas sim uma oportunidade de uma compra mais acessível. 

Naquela época, o Jardim das Oliveiras era um bairro recém-lançado, com apenas dois anos de existência, e a família viveu um período em que, para eles, não havia muita esperança de valorização. “Literalmente aqui não tinha nada, e pelo preço vimos uma oportunidade de sair do aluguel. Nunca vimos como algo que iria valorizar, queria uma casa pra chamar de minha”. Durante nossa conversa, Jucilene resgatou seu álbum de fotos da época e relembrou as dificuldades de viver em bairro ainda em formação. “Nessa época aqui era muito dificultoso! Aqui em casa tinha um CrossFox e o carro atolava porque chovia, e constantemente eu tinha que estar chamando o encanador do bairro, Wellington, pra vir com o trator e puxar meu carro, porque aqui era só barro vermelho”. Olhando para as fotos, ela recorda que trabalhava em uma clínica da cidade e sempre saía de casa com uma sacola de roupa e um calçado extra para usar no trabalho. Do contrário, como diz, “chegaria só o barro!”.

À esquerda é uma das antigas ruas do bairro, no centro da imagem foi como iniciou a casa de Jucilene, à direita são trabalhadores em construções no local.

Ao recordar a convivência com outros moradores nos primeiros anos no bairro, Jucilene relata que era difícil conhecer os vizinhos devido a distância entre as casas. Ainda assim, empenhada em fortalecer os laços no novo bairro, ela fazia questão de integrar quem chegava. Jucilene lembra que organizou o “chá das vizinhas”, um encontro criado justamente para aproximar os novos moradores. “Quando começou a crescer, eu fiz o primeiro chá das vizinhas, porque a gente não tinha vizinhança. Então, quando foram chegando algumas pessoas, fui tentando aproximar”, conta. Nesses momentos de convivência, as mulheres faziam churrasco na porta de casa e colocavam as crianças para brincar, numa tentativa de criar, ali, um verdadeiro espírito de comunidade.

Com o passar dos anos, o Jardim das Oliveiras atraiu novos moradores e se consolidou como uma das áreas mais valorizadas de Imperatriz, impulsionado pela proximidade a serviços essenciais e pelas obras de mobilidade urbana na Avenida Pedro Neiva de Santana. Planejado e lançado em 2010 pela GF6 Construtora, o bairro se destaca pelas ruas largas, pelas áreas verdes e pela organização dos lotes. Hoje, reúne residências modernas, terrenos padronizados, opções de lazer ao ar livre e um ambiente considerado tranquilo por seus moradores, que destacam a organização, a qualidade de vida e o potencial contínuo de crescimento da região.

Confeitaria

Após os primeiros anos de vida no bairro, por volta de 2018 e 2019, dona Jucilene passou por momentos turbulentos envolvendo sua saúde mental. Ela comenta que passou por transtornos de ansiedade, bipolaridade, depressão e crise do pânico –  um quadro que se agravou ainda mais pela dificuldade de expressar o que estava passando. Foi quando conheceu o Grupo Equilíbrio, um coletivo de apoio em Imperatriz centrado em mulheres que sofrem com estes transtornos. Durante o tratamento, como parte do processo terapêutico, Jucilene retomou uma habilidade que sempre lhe trouxe prazer: cozinhar. O que era um refúgio acabou se transformando em negócio. Assim nasceu, dentro de sua própria casa, a “Pequena Cozinha Doce”, criada com um propósito profundamente pessoal. “A confeitaria em si veio porque eu faço esse acompanhamento de transtorno mental. E aí eu precisava de algo para reter a atenção, pra mim ocupar a minha mente e ocupar o meu tempo”, reflete.

No começo, Jucilene fazia bolos no pote e vendia no calçadão da cidade, mas para isso, ela percorria cerca de dez quilômetros para realizar suas vendas, já que na época, a vizinhança do loteamento era bem reduzida e não haviam muitos bairros e condomínios na redondeza. “Eu fazia assim durante o dia: deixava a neném na creche e vendia a tarde lá no calçadão, de loja em loja, estacionava minha moto, pegava minha bolsinha e ia por lá”.

Atualmente, a antiga “Pequena Cozinha Doce” passou a se chamar “Confeitaria Doce Entrega”. “Tinha esse nome porque era feita na minha cozinha dentro de casa, e a cozinha era bem pequenininha, então o nome era esse. Hoje construímos essa parte da casa e aqui foi crescendo”. Hoje, Dona Jucilene produz uma ampla variedade de doces, bolos e salgados, atendendo bairros de toda a cidade. As entregas são possíveis graças a uma rede de motoboys parceiros, capazes de transportar os produtos com cuidado para que cheguem intactos ao destino.

Na história de Jucilene um ponto curioso chama a atenção: a maioria dos seus clientes não é do próprio bairro. Ela garante que se fosse depender das vendas no Jardim das Oliveiras, o negócio já teria fechado. “A minha dificuldade aqui é ter cliente dentro do bairro pra me manter. Isso é uma dificuldade! Porque tem muita gente morando aqui que já compra com uma confeiteira fora”. Ainda assim,  por ser próxima de muitos moradores do bairro, seu trabalho passou a ser indicado para outros locais da cidade. “Eu vendo mais dentro dos Eco Parks, dentro do condomínio New Ville, vendo bastante dentro dos Vilages”, enfatiza.

Para o futuro, dona Jucilene não mede esforços em crescer e desenvolver ainda mais sua confeitaria. Ela já tentou expandir em outro bairro da cidade, mas hoje ela garante que manterá sua empresa no Jardim das Oliveiras. “Hoje a minha visão é que eu vou arrumar aqui, vou colocar uma mesa fora, vou vender um guaraná fora, vou crescer aqui. Porque há sete anos eu não tinha pessoas pra vir aqui e hoje eu tenho. Apesar de ser pouca, já é muita gente”. 

Para quem já foi criticada por morar “nas montanhas”, crescer junto com o bairro, construir o próprio negócio e superar transtornos de saúde mental, o futuro parece caminhar na mesma direção de sua confeitaria: um doce sucesso.