Influencer literária mais seguida de Imperatriz fala sobre redes sociais e hábito de leitura

Lara Castro, Pedro Bertoldo e Sarah Rocha

Fotos: Lara Castro e Sarah Rocha

Leyanne Oliveira vai até sua estante pega um livro para ler, senta-se em uma poltrona e se transporta para dentro das páginas de um universo totalmente novo, viajando em mais uma história. Logo ao ser finalizada a leitura, ela vai para frente do computador e compartilha as experiências que teve com a leitura, como o que mais gostou e o que a menos agradou, para seus milhares de seguidores que a acompanham nas redes sociais.

A influencer literária imperatrizense, motivada por seu irmão [Aliomário Oliveira], passou a publicar resenhas sobre livros na internet por hobby, como uma forma de  compartilhar suas experiências lidas nos livros com os amigos. Mas o que era apenas para ser apenas um passatempo,  passou a ser a forma como Leyanne trabalha e ganha sua renda. Hoje ela possui cerca de 26 mil seguidores no Instagram e 110 mil na rede social Pinterest, que a acompanham em seus perfis, chamados de livros_fantasy. Assim, hoje ela é  a influencer do nicho literário mais seguida de Imperatriz.

Em seus perfis ela conta com 300 resenhas já publicadas, resenhas essas voltadas aos gêneros de fantasia, infanto-juvenil, jovem adulto e romance LGBTQIA +. Seu público varia desde crianças e adolescentes que vão de 10 a 15 anos, até mesmo adultos de 20 anos, que a acompanham pelas suas resenhas opinativas e indicações literárias que ela faz diariamente em suas redes sociais.

Mesmo em um país onde a média de leitura é tão baixa, sendo de 4,96 livros lidos por cidadão segundo uma pesquisa realizada pela 4° edição da Retratos da Leitura no Brasil, a influencer Leyanne se dedica a influenciar a pessoas a lerem mais, e a adquirirem o hábito de leitura. Nesta entrevista ela também conta sobre suas inspirações, a motivação de publicar suas resenhas, a sua influência nas pessoas e ainda o porquê de ser uma influencer do meio literário.

Confira:

 

Imperatriz Notícias: Por que ser uma influencer de leitura e não de outro nicho, sendo que a média de leitura do brasileiro é uma das mais baixas?

Leyanne Oliveira: Foi por acaso, eu não tinha ideia de que ia crescer tanto. Era um hobby no início e eu não tinha planos de realmente começar, por exemplo, a me dedicar tanto. Eu queria compartilhar os livros que lia de fantasia no meu meio social. Meus amigos não liam livros de fantasia, aí meu irmão perguntou por que eu não compartilhava isso no Instagram, isso foi em 2018, aí eu comecei a criar o perfil simples, sabe, não me dedicava tanto, não postava com frequência, mas aí começou a crescer e eu fiquei impressionada, mas foi mais por acaso.

“Mas sempre tem alguma coisa e eu me divirto com os comentários, porque tem umas pessoas que matam só porque você gosta e outras porque você não gosta, é muito confuso [risos], e eu sempre friso que a opinião é minha.”

IN: Como acha que suas resenhas publicadas influenciam na leitura das pessoas que lhe seguem? 

LO: Eu acho que chama atenção de várias formas. Acho que um dos motivos para chamar atenção é a publicação de trechos dos livros, porque você vê um pouco do livro ali, né? E nota, nos livros que você mostra, a experiência de leitura também. As pessoas não estão interessadas em resenhas muito difíceis de entender. Nem eu entendo. Acho melhor escrever de uma forma que converse com leitor, sem deixar ele confuso, porque é bem complicado quando lê uma coisa que tu não entendes quase nada. E eu acho que meu gosto literário também influencia muito, por que gostar muito de fantasia e publicar sobre fantasia [faz] meu público procurar mais sobre livros com temática. A indicação de listas de livros chama bastante atenção das pessoas, o que influencia também na leitura.

 

IN: Você disse que um bom livro deve lhe causar um “mix de sentimentos”, então se um livro lhe causa isso, quer dizer que a partir daí vai sair uma boa resenha?

LO: Eu acho que isso é o principal, mas que isso também é o ponto final, porque tem vários elementos que fazem um livro te dar bons sentimentos e sentimentos ruins. Esse mix de sentimentos é o ponto-chave, só que depende de muita coisa, depende do enredo e depende do plot twist [Reviravolta na história]. Porque um plot twist é um plot twist, explode a mente sabe. Depende muito das personagens. Sabe um personagem que não dá nada e no final entrega tudo, ou então, um que vira vilão no meio do livro, isso causa sentimentos. Um mix de sentimentos é o resultado de vários elementos do livro e principalmente o enredo, personagens, a história em geral também. Eu costumo destacar esses pontos se um livro teve uma boa história, uma boa escrita também, se autor conseguiu transmitir o que o personagem queria, e se o plot twist conseguiu me convencer. Plots twist que conseguem me convencer eu acho o livro muito bom, porque se eu descubro quem é o culpado no meio do livro eu acho o livro muito chato. Às vezes é bom porque a gente fica se sentindo o Sherlock Holmes [Risos], mas não faz muito sentido se tu conseguir prever a história no meio do livro.

 

IN: Já teve alguma polêmica com alguma resenha que você publicou? 

LO: Já sim, teve uma que eu postei em 2019. Uma resenha do livro “Mindhunter”. Eu dei quatro estrelas [a nota máxima pode ser até cinco estrelas], acho que foi o primeiro livro de true crime que eu li e eu não estava acostumada com o ritmo da leitura, então eu demorei nas primeiras duzentas páginas e depois eu comecei a gostar mais e aí eu dei quatro estrelas. Eu falei dos pontos positivos e negativos e uma coisa muito engraçada aconteceu: igualmente a mesma quantidade de gente que disse  ‘porque eu não gostei do  livro que era maravilhoso?” e outra dizendo “Como eu gostei do livro?”. Eu fiquei… [expressão de dúvida]. Eu também posso gostar e desgostar de algumas partes do livro. Mas isso já aconteceu sobre alguns outros livros, como O Desaparecimento de Stephanne Mayle que eu não entendi nada dele. Ele é muito chato. Mas sempre tem alguma coisa e eu me divirto com os comentários, porque tem umas pessoas que matam só porque você gosta e outras porque você não gosta, é muito confuso [risos], e eu sempre friso que a opinião é minha.

 

IN: Qual a sua opinião sobre as taxações dos livros? Acha que cairia ainda mais o índice de leitura? 

LO: Uma desgraça, sinceramente, uma bela desgraça. O índice de leitura é muito baixo para o brasileiro, então tem várias coisas que fazem o leitor ler. Por exemplo, a comercialização do Kindle Unlimited, que é aquele sistema da Amazon, quando tem promoção de 3 meses R$ 1,99, isso é uma maravilha. Você lê livros em e-books, então eu percebi que isso teve um grande aumento em assinaturas. Depois da pandemia algumas pessoas começaram a ler depois que a Amazon passou a ter essas promoções. Só que poucas pessoas ainda leem livros que assim “aí eu quero um livro e eu vou comprar pra eu ler agora”, não! Você junta dinheiro e espera uma promoção, por exemplo, na Black Friday, Prime Day, nos cupons da Submarino e da Americanas também. Como seria comprar esses livros sem essas promoções? Tem gente que não tem condição de comprar nem com essas promoções. Então o que aconteceria com essa taxação dos livros se com promoções ainda sai caro. Seria desumano. Teve livros que aumentaram bastante por conta das mudanças nos papéis, teve um reajuste bem drástico em papéis. Livros que eu comprava por R$ 70,00 hoje eu compro por R$ 110. Teve um aumento muito grande, livros que eu comprava por R$ 40,00 hoje já está muito caro. Acho que quanto mais as pessoas leem, mais mudam os preços. Acho que deve ser para as pessoas parem de ler, só pode.

 

IN: Com o sucesso do Tik Tok, que é uma plataforma de vídeos, e também com a chegada do reels no Instagram, você pretende mudar de rede?   

LO: Não pretendo mudar. As plataformas fazem a gente mudar de perspectiva com as atualizações, por mais que o Insta [Instagram] tenha sido uma rede social na qual eu tenha começado e crescido, não está muito boa, está assim bem ruim. E eu tenho uma conta também no Tik Tok, mas eu não me dedico muito lá porque minha intenção não é mudar minha perspectiva. Percebi que a rede social que mais gosto de produzir é Blog e Pinterest porque são redes sociais que me permitem escrever e gravar vídeos de uma forma mais livre. Tanto que o Tik Tok está permitindo agora gravar vídeos de três minutos, enquanto no Pinterest eu posso gravar vídeos de vinte minutos. E eu não tenho YouTube porque acho que é muita rede social para administrar. Me perguntam porque eu não uso o Youtube e é por essa questão de ser muita rede social e não tenho a mínima condição de administrar. E o Pinterest e o Blog são as redes sociais que eu mais me sinto livre.

 

IN: Você tem algum aplicativo que você usa para leituras e que dê para ampliar a leitura das pessoas?

LO: Tem o Skoob. Ele é perfeito! Ele deu uma boa atualizada nos últimos tempos, antes era bem bugado, mas hoje em dia ele está bem melhor com as novas atualizações que te influenciam a ler e fazer um registro de leituras. Ele tem esse registro de leituras, você pode pesquisar um livro e ver resenhas sobre esses livros, o que é muito legal. Quando eu tenho alguma dúvida sobre qual livro ler eu vou no Skoob e acabo vendo resenhas desse mesmo livro e acabo criando a minha opinião para ver se eu vou gostar do livro ou não. E isso é muito bom, pesquisar o livro e ver as várias impressões que as pessoas têm, ver se eu poderia gostar, ver a nota média, olhar outros livros similares e também registrar e dar as impressões da minha leitura, E agora ele tem umas novas atualizações que cria desafios que te estimulam a ler, como o desafio que te faz ler todos os dias, não é um desafio que te cobra se você ler uma página por dia já conta. Aí o App faz uma contagem de quantas páginas você já leu por ano. Falhei miseravelmente com esse desafio porque eu esqueço de marcar o tanto que eu já li [risos], mas é muito legal. Recomendo muito. Tem outro desafio muito legal que é o de quantos livros você leu no ano, que te estimula a ler mais e também tem as cortesias que te fazem ganhar livros. E você se inscrever lá, as editoras podem te mandar livros, isso gera publicidade para as editoras e chama atenção de mais pessoas.

 

IN: Você acha que a internet veio para ampliar, ser uma aliada nesse meio de influência de livros?

LO: Acho que 50 % é boa e os outros 50% não é boa. Porque do mesmo jeito modo que eu compartilho sobre uma leitura e faço uma lista de leitura só para pessoas com 10 anos, eu faço também uma lista para pessoas com 18 anos de livros extremamentes pesados, aí uma pessoa de 10 anos comenta na lista de leitura de 18 anos e diz assim: ‘tenho 10 anos e estou lendo esse livro’. Como assim?! Espera aí, sua mãe sabe disse?! Você solta uma informação na internet e não tem como segurar ela, eu não tenho mais controle. Se eu postar uma resenha negativa de um livro isso vai repercutir horrores. Por mais que eu solte indicações de livros para pessoas jovens e adultas, não tenho controle de quem vai ler. Está na consciência da pessoa, você tem que se policiar do que vai produzir e que você vai consumir na internet. Tem pessoas que não tem filtros, consomem qualquer coisa, tem muitas pessoas que brigam na internet por nada, e consomem coisas que não era para consumir. Muita gente jovem demais que consome livros que indico para público adulto. Não faz o menor sentido, mas eu fiz minha parte. Eu deixei de compartilhar trechos mais pesados na internet, tem que ser cuidadoso quando se compartilha isso, porque tem crianças que lêem isso

 

IN: O que lhe inspira a falar de livros na internet?

LO: É muito gratificante você ver quantas pessoas alcança nas redes sociais, e ver quantas respostas você tem com esse hábito de leitura. Por exemplo, se eu postar um livro que eu gostei muito, várias pessoas vão falar que estão lendo o livro por eu ter gostado e isso é muito gratificante.

 

IN: Você tem alguma dica de como as pessoas podem utilizar mais as redes sociais para ampliarem o hábito de leitura?

LO: Acho que sou da parte que mais produz do que consome. Mas eu realmente gosto de acompanhar outros instagrams literários e sempre guardo. A minha dica é sempre ficar de olho, por exemplo, nas indicações de outras pessoas. Você não deve consumir só uma pessoa, não garanto que uma pessoa que só consome meu conteúdo tenha um senso crítico que outra pessoa pode facilmente odiar um livro que gostei, isso é normal, muito normal, você tem que pelo menos pesquisar o mesmo livro em amplas pessoas, seguir várias pessoas, consumir vários conteúdos, pesquisar bem e não comprar impulsivamente. Esse negócio de comprar impulsivamente é deixar a gente mais pobre, e as coisas estão muito caras. Eu acho que consumir bem é  você pesquisar, e não deve seguir só para consumir, você deve seguir para ter um senso crítico, para pesquisar mais indicações e ter o cuidado de evitar perfis que só geram consumismo e sem senso crítico. Acho que opinião é extremamente importante, e que deve ter o cuidado com o que fala, então não adianta consumir qualquer coisa. Tem gente que posta resenhas negativas que são puramente negativas mesmo ou então que desprezam opinião alheia, e isso não é legal, você tem que respeitar a opinião dos outros, então não adianta seguir isso, só ter cuidado com o que segue e pesquisar bem antes de consumir.

 

Bate bola 

IN: Uma comida? 

LO: Batata frita.

IN: Uma cor?

LO: Azul.

IN: Um filme?

LO: Brilho eterno de uma mente sem lembranças

IN: Uma música?

LO: Choros – Ludovico Einaudi.

IN: Uma página/perfil de livros?

LO: @lanternadosliterarios

IN: Um trecho de um livro?

LO: “Livros demais, séculos de menos.”, Nevernight.

IN: Um livro? 

LO: Os garotos Corvos – Maggie Stiefvater.