Hemomar de Imperatriz segue sem oferecer tratamento a hemofílicos: entrevista com a atual diretora

Repórteres: Luana Bandeira e Maria Gabriela

Foto: Luana Bandeira

 

Graduada em Direito pela Faculdade de Educação Santa Teresinha (FEST) e advogada com especialização em Gestão e Coordenação de Saúde, Letícia França Cunha, hoje com 26 anos, atua há dois meses como Diretora Geral do Hemomar de Imperatriz. Segundo ela, a conscientização de doar sangue por livre e espontânea vontade tem avançado e que, apesar das dificuldades, as pessoas estão se tornando mais voluntárias. Desde que assumiu a diretoria, o número de doações aumentou em 26%, mas, ainda assim, conta que o abastecimento está baixo.

No dia 14 de junho é celebrado o Dia Mundial do Doador de Sangue, disposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesta data, o incentivo e compreensão sobre o ato da doação de sangue se fortalece, promovendo a mobilização de pessoas para solidarizar-se com o próximo. Ainda assim, seja pela falta de informação, mitos ou medo do procedimento, muitos deixam de realizar a ação. Segundo dados coletados em um levantamento pela farmacêutica Abbott em 2021, anualmente, apenas 19% dos brasileiros doam sangue de forma regular.

Na pandemia, as doações diminuíram devido a redução do número de pessoas imersas ao contexto da Covid-19, afetando o número de bolsas de sangue disponíveis para aqueles que necessitavam.

O Hemomar de Imperatriz é referência no suprimento de bolsas de sangue na região Tocantina, porém, devido a pandemia, o número de abastecimento teve defasagem pelo medo das pessoas em doarem nesse período. Logo no início, que foi o pico do vírus, todos ficaram desesperados no Hemomar, havia dias que não recebiam sequer uma doação. O abastecimento estava mínimo, e até as doações para os demais hospitais praticamente ficaram escassas. Apesar da desinformação, mudanças quanto às regras de segurança de locais de doação foram adotadas, como reforço na desinfecção dos ambientes, nas cadeiras a cada troca de doador, e a inserção de um protocolo mais rigoroso de triagem dos voluntários relacionado a diagnósticos e suspeita de coronavírus.

Nesta entrevista, Letícia França relata sobre as informações necessárias para ser um doador de sangue, conscientização quanto à doação espontânea, mudanças geradas pela pandemia de Covid-19 e o funcionamento do Hemomar de Imperatriz.

 

Imperatriz Notícias: O que é preciso para doar sangue? Quais são os requisitos?

Letícia França: Assim, eu primeiro vou te contar logo o que muitas pessoas fazem quando vem doar sangue de forma voluntária aqui. Elas pensam que é mesmo que fazer um exame de sangue, então costumam vir em jejum [risos]. Não pode. Tem que estar alimentado, e tem que evitar ter comido alimentos gordurosos pelo menos nas 3 horas anteriores ao processo. Almoço, tem que aguardar duas horas para então doar. Tem que ter de 18 a 69 anos para doar. A frequência é de até quatro doações por ano para homens e três para mulheres.

IN: Algumas pessoas costumam ir doar sangue já tendo escolhido quem será seu receptor. O que tem dificultado as pessoas a estarem doando por livre e espontânea vontade?

LF: Olha, vou confessar uma coisa aqui. Essa questão hoje em dia, graças à Deus, tem mudado. Essa conscientização, ela tem avançado. Apesar das dificuldades, as pessoas têm se tornado mais voluntárias. Sem falar que o ato de doar sangue, para mim, é a maior prova de amor e empatia que um ser humano pode ter pelo outro.

IN: O Hemomar é referência em abastecimento de bolsas de sangue, no entanto, pelo menos últimos dois anos, ele tem sofrido oscilações e, atualmente, esse abastecimento encontra-se em baixa. O que pode estar ocasionando essa baixa em doações de sangue?

LF: Olha, inclusive, por falar nisso, isso tem sido uma de nossas grandes preocupações. Nós estamos nos mobilizando para que esse estoque venha a se elevar novamente. E eu creio que é por conta mesmo da conscientização da população em entender a importância de doar sangue, de ajudar a vida de alguém que está precisando de sangue. Porque na nossa unidade existe um ciclo, e nós respeitamos esse ciclo do sangue. E, claro, tem a questão também da pandemia que dificultou bastante.

IN: A Pandemia de Covid-19 causou mudanças na forma de doar sangue. Como o Hemomar de Imperatriz encarou essas mudanças?

LF: Nós ainda estamos na pandemia, né? E eu cheguei aqui no Hemomar há apenas dois meses, então não peguei esse período de Covid-19 aqui, desde o início dela, no caso. Mas assim, pelos relatos, foi um impacto muito grande porque ao mesmo tempo que a população precisava, as pessoas ficavam com muito medo de doarem. Foi muito difícil aqui para o Hemomar, um desafio muito grande. E assim, a gente tentou se adaptar, né? Então nos adaptamos com aquilo que tinha.

 

“Olha, nós somos aqui um hemonúcleo e, assim, nós não somos um centro autônomo, a gente depende do Hemomar de São Luís e, apesar dos desafios, a gente aqui ainda consegue suprir as necessidades e atender grande parte dos municípios da região Tocantina”

 

 

IN: Nós sabemos que muitas pessoas optam por realizarem seus tratamentos fora da cidade. O que falta no Hemomar de Imperatriz para confiarem nos serviços oferecidos?

LF: Olha, nós somos aqui um hemonúcleo e, assim, nós não somos um centro autônomo, a gente depende do Hemomar de São Luís e, apesar dos desafios, a gente aqui ainda consegue suprir as necessidades e atender grande parte dos municípios da região Tocantina. Nós também abastecemos alguns hospitais. E assim, pela falta de algumas referências, como os tratamentos para hemofílicos, por exemplo, eles têm que recorrer para São Luís. Nós queríamos muito poder oferecer o serviço completo na nossa unidade de Imperatriz, mas temos essa dependência.

IN: Atualmente, quais são os serviços oferecidos pelo Hemomar de Imperatriz?

LF: Somente captação e abastecimento de bolsas de sangue.

IN: O Hemomar de Imperatriz não oferece tratamento para hemofílicos. Por quê?

LF: É, infelizmente não. E como eu já falei, a gente é muito dependente do Hemomar de São Luís. Nós temos sim vontade de poder oferecer tratamento para os hemofílicos, mas pelo menos, por enquanto, ainda não temos. Acredito que futuramente poderemos nos tornar mais independentes, até mesmo em relação a recursos e oferecer esse tratamento.

IN: Poderia explicar sobre as situações em que há um maior risco para se transmitir doenças através da doação de sangue?

LF: Olha, aqui no Hemomar nós temos todo um ciclo, e nós obedecemos a este ciclo. Desde a recepção até a distribuição. Nós temos a coleta, a análise em laboratório. Quando um doador vem doar sangue ele passa pela triagem clínica, tem um questionário que ele precisa responder de forma obrigatória. Ele faz teste também para sabermos se ele está apto ou não para doar. Nós temos uma preocupação e um cuidado muito grande, porque essa questão de risco é algo que não pode existir. E, graças a Deus, a gente sempre consegue exercer todo o processo com excelência. Nunca chegou a acontecer isso. E tem também os laboratórios que são patológicos. Tem os exames laboratoriais que vão para outros estados, né, que é para fazer essa confirmação, se está tudo ok.

IN: O Hemomar de Imperatriz não possui perfis em redes sociais. Por quê? Você não acha que isso inviabiliza a comunicação e captação de doares de sangue?

LF: Olha, até há um tempão desse a gente tinha, né, mas não conseguimos levar adiante. Tem as redes sociais do Hemomar de São Luís, quando a gente faz uma ação ou precisamos divulgar algo muito importante daqui nós compartilhamos com a unidade de lá e eles fazem a procedência da divulgação. E assim, apesar da gente não ter redes sociais, aqui nós temos o setor chamado “captação de doadores”. Esse setor é exclusivo só para captar doadores de sangue por meio de palestras, divulgação e ações em escolas, comunidades e em outros lugares. Então esse setor consegue suprir a falta das redes sociais e garantir um fluxo bom de captadores.

IN: A mulher pode doar sangue durante o período menstrual?

LF: Sim, pode doar, não tem nem um problema quanto a isso.