Maria de Jesus Araújo diz que seu objetivo de vida é compartilhar o conhecimento
Sabrina Feitosa
“Não tinha outro sonho pra mim, era isso daí”. Nascida em Veado Branco, interior de Chapadinha, Maria de Jesus Araujo Batista sabia desde a infância qual carreira seguir. Terminou o ensino médio, antes chamado de Normal, depois cursou Magistério com o objetivo de realizar seu grande sonho de ser professora.
Ela chegou em Imperatriz em 1983 e sua primeira experiencia em sala de aula foi como auxiliar de professora na Escola Dorgival Pinheiro de Sousa. Maria de Jesus relembra como as salas eram cheias de alunos comparados com hoje, isso lhe causou um certo impacto. Por ser esforçada e dedicada em suas atividades, ao ganhar um pouco mais de confiança no ano seguinte assumiu de vez uma turma.
“’Menina, tu dá conta de uma sala?’ O pessoal me perguntava”. De Jesus lembra que o fato de ser jovem e seus colegas de profissão serem de idade mais avançada, causava um certo estranhamento entre algumas pessoas. Para os colegas de trabalho, ela tinha um dom, já que não precisava se alterar ou brigar com alunos, pois demonstrava autoridade, e, somente com sua fala, ela conseguia fazer a classe se comportar.
“Ela era uma das minhas alunas”, comenta, ao se referir à sua colega de trabalho. “Tem vários alunos meus que são advogados, trabalham em banco, e passaram por mim na alfabetização”. Maria conta com orgulho as conquistas dos alunos que alfabetizou.

A ideia de criar uma aula de reforço surgiu em uma conversa com as colegas, que comentaram as dificuldades de alguns alunos em acompanhar os demais na leitura. “Eu ficava incomodada, as colegas diziam: ‘Ô mulher, fulano não vai aprender a ler, não vai ler’”.
A profissão vai muito além de um quadro, pincel, e livros. É notável a preocupação dessa educadora com seus alunos, suas palavras, sua expressão, seu empenho, mesmo não estando propriamente em uma turma. Maria de Jesus tem se dedicado em especial a uma aluna, que tem uma trajetória de vida complicada desde nova.
A criança havia deixado a escola, pois tinha voltado a morar com sua mãe, mas novamente estava residindo com a tia. Retornou para o estabelecimento de ensino em 27 de agosto, a professora da sala identificou, de imediato, que a criança não sabia ler e informou a situação para De Jesus.
“Eu pensava que ela não sabia ler algumas palavras”, relata a professora. Mas a situação da criança era bem mais complicada, o que causou um espanto em Maria ao ver uma aluna no segundo ano que não conhecia nem mesmo as letras. “Ela não conhecia nem o O”.
Maria de Jesus se emociona ao relembrar a fala da aluna. “Tia, eu não sei essa letra”. Ficou com os olhos marejados, por não saber o que era perguntado. De Jesus, com todo seu afeto, explicou para a pequena que tivesse calma, pois ela aprenderia a ler.
Acreditou no potencial da garota quando ninguém da família apostava, pois pra eles era uma perda de tempo, ela não aprenderia nunca. Mas seu método de ensino lhe rendeu resultados e em setembro sua aluna estava lendo.
A coordenação
Milene Viera Santos Rocha, coordenadora pedagógica dos anos iniciais e professora dos anos finais na escola Municipal Wady Fiquene desde 2011, conta como essa iniciativa da professora Maria de Jesus tem ajudado a escola na alfabetização. Os trabalhos são iniciados logo no começo do ano letivo, com a observação das professoras que apontam as crianças que têm mais dificuldade. Com os alunos selecionados, inicia-se o projeto, que segue até o final do ano.
Sua função é observar a fluência da leitura, para não ser apenas um ato sem um propósito. Semanalmente, as crianças passam por testes, seus ritmos são cronometrados. A professora também faz perguntas sobre o texto, para observar como estão se saindo. É realizada uma competição saudável entre os alunos, para mantê-los motivados com a leitura. “Quando eles conseguem é aquela felicidade”, comenta De Jesus.

Ao ser questionada se já propuseram a ideia do projeto para a Secretaria de Educação, ela explicou que compartilhou com os outros diretores do que é realizado em sua escola e cada um tenta realizar do seu modo. O objetivo é efetivar um ensino de qualidade.
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.