ESPECIAL ONGs oferecem ajuda para homens e mulheres vencerem o vício nas drogas e no álcool

A MAIORIA DOS INTERNOS NOS CENTROS DE RECUPERAÇÃO HOJE SÃO HOMENS COM MAIS DE 18 ANOS

Entrada de um dos projetos:  persistência e apoio familiar ajudam a superar vícios

POR ABNER MESQUITA DE CARVALHO, NANDARA MARIA MELO REIS, HELYH OLIVEIRA GOMES E YSLA KARYNE DOS SANTOS DE SOUZA*

Aproximadamente 80 dependentes químicos, hoje, têm acesso a projetos que os ajudam a enfrentar o vício das drogas ou do álcool. Situados nas proximidades de Imperatriz, abrigam pessoas com idade a partir de 18 anos, que residem em ambientes afastados, geralmente em chácaras, como estratégia para diminuir as chances de interromperem o tratamento. Entre as organizações não-governamentais (ONGs) que mantém essas ações estão a Casa de Davi, Resgate, Renascer Feminino, Renascer Masculino e a Fazenda da Esperança. Essas instituições são, em sua maioria, filantrópicas ou ligadas às igrejas e são mantidas através de doações e ações voluntárias.

As ONGs auxiliam a sociedade a enfrentar uma dura realidade: o consumo crescente de drogas. De acordo com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), 70% das cidades maranhenses têm usuários de crack. Além de Imperatriz, outros 40 municípios foram classificados como portadores de índices elevados no que diz respeito ao aumento e uso de drogas.

Localizado fora da área urbana da cidade, o projeto Resgate situa-se no povoado Bananal e conta com uma média de vinte internos, que passam por três fases. Na primeira, é iniciado o processo de desintoxicação, na segunda há o preparo para que seja feita a ressocialização do dependente e na terceira ocorre a formatura, onde os internos podem recomeçar a sua vida social.

Já o projeto Casa de Davi é uma organização sem fins lucrativos, mantida por doações de voluntários. Está também localizada no povoado Bananal. Possui a capacidade para vinte dependentes, todavia atualmente acolhe 24 internos. O tratamento também é dividido em três fases, nomeadas como fase um, fase dois e fase três, sendo dois meses correspondentes a cada uma delas.

O Instituto Lugar de Ajuda, da Igreja Evangélica Nova Aliança, atua também neste âmbito com o projeto Renascer Masculino, que esta localizado no município do Bananal. A comunidade terapêutica tem capacidade para 45 homens e atualmente está com 42 internos. O tratamento dura seis meses e passa por três etapas, sendo a primeira fase denominada Pronto socorro, quando o interno passa por um processo de recepção e adaptação; na segunda fase começam as terapias ocupacionais e a terceira fase é a etapa final onde o interno se prepara para o retorno para casa.

Ligada à igreja católica, a Fazenda da Esperança é outro local que auxilia os dependentes que desejam abandonar o vício. Surgiu como substituta do centro terapêutico Casa do Senhor. Nela o tempo de tratamento é mais extenso, correspondendo a doze meses. A fazenda está localizada na Estrada do Arroz próximo do município de Cidelândia.

Como o projeto foi inaugurado recentemente, mesmo com a capacidade para trinta e dois internos, conta atualmente apenas com onze dependentes e se mantém através de doações e venda de produtos feitos pelos internos.

Voluntários

Alguns voluntários que trabalham nas casas de recuperação são ex-dependentes químicos. Acreditam que o fato de terem se recuperado colabora para o êxito do tratamento dos atendidos, pois compartilham suas experiências com eles.

Wanderson Frazão dos Santos, 25 anos, faz parte do corpo de trabalhadores responsáveis pelos internos do projeto Resgate. Começou a usar drogas aos 13 anos. Ele explica que foi somente quando passou a morar nas ruas que refletiu sobre os conselhos dados por um amigo e que recorreu a ele para procurar ajuda. “Ele me levou para a triagem no outro dia e pagou todos os meus exames”.

Uma situação semelhante é a de Gildemar Fernandes do Espírito Santo, 43 anos. coordenador do Centro Terapêutico Casa de Davi. Logo abaixo, você pode acompanhar o depoimento dele sobre a experiência e a recuperação:

 

 

Visitas

A maior parte dos que buscam o tratamento nas organizações não-governamentais, são homens. Edina Rego de Holanda, assistente social do Instituto Lugar de Ajuda, analisa os fatores que fazem a população masculina ser a que mais se envolve com drogas. “A mulher tem mais receio para chegar ao uso das drogas, já o homem é mais desinibido. Eu vejo também que os homens buscam ajuda mais rápido”, explica. Além disso, muitas mães criam seus filhos sem a presença do pai, fator que também contribui para essa realidade, ou seja, a mãe se envolve mais com a família e, em alguns casos, isso a ajuda a se afastar do vício.

No processo de recuperação do dependente, o apoio dos familiares é um dos caminhos buscados. Wanderson Silva Santos, diretor do Centro Terapêutico Fazenda da Esperança, detalha que durante o tratamento de doze meses são realizados encontros com a família, mas adverte que as primeiras visitas só podem ocorrer noventa dias após a internação. No local, os internos exercem atividades como a produção de doces, peças de artesanato, confecção de camisetas, dentre outras atividades. Os produtos feitos pelos internos são vendidos pelas famílias, sendo essa uma das formas do centro se manter.

Gildemar Fernandes Espírito Santo, do Centro Terapêutico Casa de Davi, aponta também as dificuldades enfrentadas nesse processo. “A família, muitas vezes, leva o dependente ao centro com o propósito de se livrar do problema”, diz ele. Por este motivo, a instituição adotou medidas estratégicas, como o corte de visitas, que acontecem a cada 15 dias e ligações telefônicas, caso os familiares não compareçam às reuniões promovidas pelo centro semanalmente.

Mulheres

Cuidar da mini-horta é uma das ações a serem feitas pelos internas

  Em Imperatriz só existe um centro de recuperação para mulheres, o Renascer Feminino que também faz parte do Instituto Lugar de Ajuda, vinculado à Igreja Evangélica Nova Aliança. A coordenadora do Centro Renascer Feminino, Vera Lúcia Oliveira da Silva,  informa que, em média, de 30 a 40 pacientes passam por esse tratamento anualmente.

A procura das mulheres por ajuda costuma ser menos frequente que entre os homens. Mensalmente em torno de sete procuram o lugar, porém somente duas ou três mulheres terminam o tratamento, que tem a duração de seis meses. Assim como nos centros masculinos, a abstinência é um fator crucial que leva a desistência, aliado a não obrigatoriedade de permanência no centro. A organização recebe mulheres a partir de 18 anos e, por limitações financeiras e de espaço, não acolhe mulheres grávidas ou com filhos pequenos.

Para oferecer serviços médicos, o Centro Renascer Feminino conta com a parceria de clínicas e laboratórios privados para exames laboratoriais, do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) para apoio psiquiátrico e dos postos de saúde do município. Além disso, emprega cinco monitoras e conta com o auxílio voluntário de um psicólogo, que realiza atende as internas. Os cursos são realizados por uma artesã e uma costureira. Em breve, terá o apoio de um engenheiro agrônomo, que auxiliará na manutenção de uma mini-horta.

 

Fotos: Abner Mesquita de Carvalho

Produção e edição do vídeo: Nandara Maria Melo Reis

*Reportagem especial produzida para a disciplina Técnicas de Reportagem (2017.2)