Mulheres jovens são as que mais procuram os serviços de saúde mental

Anginaldo Ribeiro (esq): Socorrão é a porta de entrada

De acordo com o coordenador do Hospital Municipal de Imperatriz (Socorrão e Socorrinho), Anginaldo Ribeiro Mendes, que trabalha há 14 anos na área, a maior parte dos atendimentos em saúde mental envolve hoje pessoas que moram com suas famílias. São geralmente jovens do sexo feminino. Um dos principais desafios é ter o apoio dos parentes para ajudar o usuário durante o tratamento.  Anginaldo Ribeiro detalha como os pacientes são atendidos atualmente, principalmente os casos mais graves. “Tem que passar pelo Socorrão e ser analisado patologicamente para buscar saber se, além do surto, tem alguma doença. Se tiver só o surto, esse paciente vai para o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial)”. Confira a seguir a entrevista, que foi concedida ao projeto Coletivas, organizado na disciplina de Técnicas de Reportagem, do Curso de Jornalismo, da Universidade Federal do Maranhão, campus Imperatriz.

Com ocorre esse atendimento especializado aos usuários que apresentam problemas mentais ou têm surtos psicóticos?

Anginaldo Mendes Ribeiro: Temos seis dispositivos de saúde mental, o CAPs III , que é para surtos psicóticos, o CAPs AD, que é álcool e drogas; o  CAPs I, que é o infantil, e temos as residências terapêuticas. A residência terapêutica é onde os pacientes que perderam referência familiar e saúde mental residem. Não há mais aquela história de clínicas psiquiátricas, acabamos há muito tempo. Temos a residência terapêutica que faz parte dos dispositivos de saúde mental. É uma casa onde os pacientes têm todas as atividades, como banhar, lavar sua roupa e fazer sua comida. Os residentes podem sair e voltar a hora que quiserem, eles não estão amarrados e nem presos.

Como funciona a entrada para o CAPs?

Anginaldo Mendes Ribeiro: O Socorrão é a porta de entrada para o paciente com surtos psicóticos, porque o paciente não pode ir direto para o dispositivo (CAPs). Ele tem que passar pelo Socorrão e ser analisado patologicamente para saber se, além do surto, tem alguma doença. Se tiver só o surto, esse paciente vai para o CAPS, dentro de um protocolo que varia de seis a doze horas. Eu costumo estender até 24 horas, às vezes, pela medicação que seda e faz o paciente dormir. Durante a sedação, ele fica em período de observação em que pode desenvolver algum sintoma, como arritmia cardíaca. Quando ele acorda, entramos em contato com o CAPs e o levamos até o dispositivo. Eu questiono o acolhimento desse paciente, na forma que ele chega ao Socorrão, porque há um despreparo muito grande de equipe para acolher o paciente. Quando é um caso de algum indivíduo que quer pular da ponte, é chamada a Polícia e o SAMU. Ele é enlaçado e amarrado para evitar que pule da ponte. Lógico que ele poderia pular, mas as abordagens verbais e o diálogo talvez resolvessem a situação. O paciente, quando é amarrado, surta mais.

Podemos afirmar que a depressão pode ser uma das causas dos surtos psicóticos ou há alguns outros fatores externos?

Anginaldo Mendes Ribeiro: Há a depressão sim, mas também tem outros fatores que contribuem como as questões financeiras, problemas relacionados à moradia e à instabilidade.

Há reclamações de que muitas pessoas vão ao CAPs e não conseguem ser atendidas. Você acredita que isso dificulta o interesse da pessoa ir lá e buscar o tratamento?

Anginaldo Mendes Ribeiro: O certo a se fazer é ir na clínica médica ou ao hospital e o paciente em surto tomar sua medicação. Após essa etapa, pode entrar em contato com o CAPs.  A demanda é muito grande, os profissionais do CAPs não dão conta realmente.

Qual o perfil dos pacientes que apresentam o surto? É formado em sua maioria por homens ou mulheres? Jovens ou adultos? São pessoas que estão em situação de rua ou moram com familiares?

Anginaldo Mendes Ribeiro: Hoje você quase não vê pacientes em situação de rua, os pacientes têm família e sempre são mais mulheres. Acho impressionante. A maioria são jovens. Entre as mulheres  que eu atendi, somente duas eram casadas. Uma que diz que o marido a maltrata, mas é uma história que tem que ser investigada.

Os pacientes voltam com freqüência?

Anginaldo Mendes Ribeiro: A medicação é feita para ter um controle, mas a família não dá esse apoio e eles voltam novamente dando queixa de que não querem tomar remédio. Mas é necessário a família estudar um horário para a medicação, pois dá uma melhora ao paciente.

Sobre a casa terapêutica, são CAPS para pessoas que não têm família para ajudar e pessoas que não condições de viver em sociedade? Como funciona essa entrada?

Anginaldo Mendes Ribeiro: São vagas limitadas, é uma casa pequena, com três quartos e cada um com três beliches. Há uma proposta de que esse ano se alugue uma chácara para que dê mais espaço para eles se sentirem à vontade.

*Equipe organizadora da entrevista coletiva: Thaynara Leite, Keila Gadelha e Wyldiany Oliveira