Coordenador do programa Cientista Aprendiz ressalta a importância do pensamento socioambiental

Texto: Ana Beatriz Ribeiro

Ana Gabriela Gama

Ana Luiza Palmeira

Ana Maria do Nascimento

Carol Sena

Diogo Batista

Elizangela Almeida

Emily Silva

Erica Rodrigues

Ilustração: Pedro Marques

Foto: Ivan Lima

Quando se pesquisa a área ambiental também é importante lembrar da sociedade. “Porque nós, seres humanos, somos um ser social. E não se tem um ser social vivendo isoladamente”, destacou o professor do curso de Biologia da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul), Zilmar Timóteo Soares, em entrevista coletiva. Ele é pró-reitor de Extensão e Assistência Estudantil e coordena o programa Cientista Aprendiz, responsável por inserir estudantes do Ensino Médio de Imperatriz no universo da ciência. O principal objetivo é incentivar a troca de saberes com comunidades rurais da região Tocantina.

Ilustração do professor Zilmar Soares

 

“Geralmente, quando nós falamos de questões ambientais, pensamos no rio, na mata e nos animais. Mas nos esquecemos de nós, o ser humano, quem mais destrói essa série toda”, relembra o pesquisador. Zilmar é biólogo de formação, especialista em Metodologia de Pesquisa e Ensino na área, mestre e doutor em Educação. Para o professor, os recursos do campo podem ser utilizados de forma racional e ecológica sem prejudicar o meio ambiente.

Ele cita como exemplo a estudante Ana Beatriz de Castro, 17 anos, vinculada ao Cientista Aprendiz, que conseguiu, em pesquisa premiada, elaborar um bioplástico, um bioacrílico e um biofilme não prejudiciais ao ambiente a partir do fruto do buriti, típico da região. “Depois podemos transformar em diferentes objetos, até em pratinhos, que usamos normalmente”, detalha Zilmar. Quando a pessoa não quiser mais utilizar esse objeto, complementa, pode transformá-lo em decoração, e, mesmo “quando quebrado, irá servir de adubo para as plantas”.

Outro orientando premiado do Cientista Aprendiz e estudante de Ensino Médio, Gustavo Botega Serra, comprovou o potencial do uso do óleo de tucum-mirim, comum nas comunidades rurais, como repelente natural na pele humana. “Começamos a observar que, do epicarpo, a gente podia utilizar o extrato, que a comunidade já usa nos animais para combater carrapatos, nas próprias pessoas, como repelente”, explica Zilmar Soares. Para o pesquisador, o mais importante é que os jovens estudantes  comprovem a ciência presente no campo. “Quando nós observamos alunos como a Beatriz e o Gustavo, que já são cientistas-mirins, percebemos que eles têm preocupação com os aspectos ambiental, local, regional, estadual, nacional e mundial”.

Na opinião de Zilmar, cada indivíduo que vive em meio à natureza é importante. Ou seja, é necessário imaginar comunidades nas quais “o ser humano se beneficia desses recursos sem trazer prejuízos” e, como consequência, possam “alimentar seus filhos e resolver os problemas socioeconômicos”. A tecnologia é social, conforme define, quando a fauna, a flora e os recursos hídricos, que estão presentes na natureza, tem o seu uso  pensado a partir de um conceito de sustentabilidade ambiental. Com essa visão em conjunto,  “é importante deixar esse legado para as futuras gerações”, avalia.

Ciência jovem

Refletindo sobre o projeto Cientista Aprendiz, o coordenador reafirma a consciência dos recursos regionais que as pesquisas da área proporcionam aos estudantes do Ensino Fundamental e Médio. “Nossa proposta de trabalho é trazer também, para os alunos, a visibilidade da riqueza da terra que temos na Amazônia”, considera o professor. No entanto, ele ressalta que é essencial fazer testes prévios para garantir que os seres vivos não sejam prejudicados. “Procurar soluções viáveis, esse é um grande passo para o desenvolvimento da ciência”.

Pesquisador Gustavo Botega (centro) posa ao lado do orientador, professor Zilmar Soares (dir.) e do coorientador, Carlos Sampaio (esqu.)

 

O educador acredita que o ensino tradicional já está ultrapassado. “Essa educação de olhar as coisas, de querer saber mais, de criar hipótese, traz para o aluno uma nova visão”, expõe o professor, que orienta discentes em Iniciação Científica desde 2005. O pesquisador destaca que alguns de seus orientandos, como Ana Beatriz Castro e Gustavo Botega, tiveram artigos publicados e foram premiados em feiras nacionais e internacionais. Além disso, contaram com a oportunidade de conhecer novas comunidades e países.

Em sua breve passagem pelos Estados Unidos, Zilmar constatou que este país é um dos mais poluentes no mundo. “Tem lugares em que você vai lanchar ou almoçar e tudo é descartável.” O professor também lembra que percebeu, a todo momento, vários carros conduzindo cestos enormes de dejetos. “Nós não sabemos o local em que ele vai colocar esse lixo, que é à base de polímeros retirados do petróleo. Fontes que vão faltar e irão trazer prejuízos para as questões ambientais”, relata. Dados do Banco Mundial sobre a geração de resíduos em 217 países, apontam que, entre 2010 e 2016, a produção global de plásticos aumentou 26% e os Estados Unidos geraram 17% de restos desse material.

Estudantes diferenciados

De acordo com o Censo Escolar de 2019, apenas 38% das escolas municipais e estaduais do Brasil possuem laboratório de ciências. Aulas que poderiam ser mais criativas e divertidas se tornam monótonas e sem resultado considerável. “Porque hoje não é mais possível a gente ter essa educação, daquela turma bonitinha e sentadinha. Professor falando e 40 meninos na sala de aula. Então esses meninos do projeto Cientista Aprendiz, quando saírem do ensino médio e chegarem aqui na universidade, o conhecimento científico deles já estará bem elevado”, declara o orientador.

Zilmar complementa que, ao se abandonar a padronização e se voltar para um ensino de perspectivas, a educação irá estimular os estudantes a pensar de um modo alternativo. Além de que a comunidade estará mais atenta para observar os talentos e capacidades dos jovens, que poderão contribuir,  também, na sua escola, no bairro e no mundo.

Em um vídeo postado no canal “Biocompósito”, no YouTube, o pesquisador ressalta a importância da iniciação científica para os discentes. “O aluno que trabalha com iniciação científica aprende a escrever e melhora a sua leitura. Está mais dentro da escola. Ele trabalha no laboratório de informática, de ciências e na biblioteca”. O desenvolvimento da pesquisa científica desde cedo, segundo Zilmar Soares, ajuda no melhor rendimento ensino-aprendizagem e na edificação de um pensamento crítico e inovador.

Este texto é resultado de uma atividade de entrevista coletiva da disciplina de Redação Jornalística, dos estudantes do primeiro semestre do curso de Jornalismo da UFMA, campus de Imperatriz. A partir de um jogo de perguntas e respostas a uma fonte, foram elaborados textos individuais, que tiveram os seus melhores parágrafos selecionados, fundidos, articulados e editados. A experiência resulta, agora, na primeira oportunidade de publicação para esses futuros repórteres.