“Comprar em brechó é chic!”: entrevista com a proprietária da loja de produtos de luxo de segunda mão em Imperatriz

Repórteres: Débora Maia e Katherine Martins

Foto: Débora Maia e arquivo pessoal

 

Conceito que surgiu em meados dos anos 1990, a Economia Criativa traz em sua essência transformação e evolução, e como benefício, renovação ao mercado. Somando sustentabilidade e inovação, os brechós trouxeram ao setor da moda uma forma diferente de consumo e que está ganhando mais espaço a cada dia. Ressignificando o consumo de roupas, diversificando o mercado, brechós e bazares (sim! tem diferença) trouxeram para Imperatriz, oportunidades tanto para comerciantes quanto para consumidores, fazendo parte de um novo conceito sobre a moda ‘second hand’ com peças de qualidade e preço acessível.

A advogada Manuella Macedo (36), especialista em Direito Ambiental e Urbanístico, e expert em Direito da Moda, inspirada por sua profissão e pelo guarda-roupa ‘abarrotado’, criou o projeto Brechó Chic Itz (@brechochicitz) como forma de colaborar na diminuição do impacto ambiental da indústria têxtil, através da moda circular. “É muito bom ver que as pessoas aqui estão bem focadas na moda sustentável. Mas é uma árdua tarefa porque a vaidade e o consumismo ainda gritam muito em nossa região”.

Baseada em uma ‘filosofia do desapego’, o projeto “abraça o consumo consciente e incentiva a educação ambiental, considerando que o mercado da moda é o segundo mais poluente do mundo”. Com cinco edições realizadas, esta última edição que aconteceu em um hotel de Imperatriz, contou com uma média 400 a 500 peças, entre roupas e acessórios, e com marcas como: Zara, Victor Dzensk, Skazi, Dolce & Gabbana entre outras, e preços que variaram entre R$ 65,00 e R$ 4.999.

Com a agenda movimentada, Manuella recebeu nossa equipe de reportagem em um evento beneficente em prol de um projeto de causa animal que estava acontecendo em um shopping da cidade, onde foi voluntária, e nos contou sobre o Brechó Chic Itz.

 

Imperatriz Notícias: Quando e como surgiu a ideia do brechó chique?

Manuella Macedo: A ideia do brechó chique surgiu pouco antes de 2015 (salvo engano), pelo fato de eu e minha mãe sempre irmos aos eventos sociais, e aí a gente via que o nosso closet estava “abarrotado” de roupas, especialmente de festas, e nós resolvemos desapegar realizando o Brechó Chique Itz.

IN: Qual a procedência das peças?

MM: Nas primeiras edições eram somente peças nossas, pessoais. Começamos com vestidos de festa de marcas de renome, marcas de luxo, né. E aí a gente foi colocando também acessórios e roupas do dia a dia. E aí então, em 2021, na edição de número 3, nós resolvemos abrir para as amigas que nos buscavam também para desapegar das suas peças.

IN: Mas as peças das amigas também são de marcas de luxo?

MM: Sim, marcas de luxo e outras marcas mais acessíveis também. Inclusive também roupas na etiqueta, nunca utilizadas. Bolsas, sapatos, vestidos, joias, óculos de grandes marcas.

IN: Quais os critérios utilizados para seleção das peças?

MM: Nós fazemos uma curadoria. Avaliamos desde o preço original em que foi comprada a peça, o ano em que foi comprada, o estado da peça. E na verdade, nós até selecionamos quem são os nossos fornecedores, por uma questão de segurança. E avaliamos especialmente também aquelas marcas que têm as suas especificidades, como Gucci, Yves Saint Laurent, Dolce Gabbana, em se tratando especialmente de óculos e bolsas.

“Muitas pessoas compram no supetão e acaba não gostando mais da peça e a gente pega muita roupa na etiqueta também”

 

IN: Qual o público comprador/ perfil do cliente?

MM: Olha, por incrível que pareça, temos todos os níveis de público, pois brechó é algo democrático. Desde as pessoas menos favorecidas até aqueles que sabem da importância da cultura do consumo consciente. Então são todos os níveis e o nosso brechó a gente faz questão de colocar peças que caibam em todos os bolsos.

IN: Quantas vezes a roupa pode ser usada para ser considerada uma peça de brechó?

MM: A gente diz que isso vai muito da consciência da pessoa, né. Nós vivemos em um mundo extremamente consumista, o mercado da moda é o segundo mais poluente do mundo. A gente vê nas redes sociais que há esse consumo desenfreado e elas possibilitam esse consumo exagerado por questões de imagem, da vaidade. Então geralmente muitas pessoas usam pouquíssimas vezes e quando veem que as roupas já estão queimadas, elas desapegam. E aí a gente vê todo o critério de estado da roupa. Muitas pessoas compram no supetão e acaba não gostando mais da peça e a gente pega muita roupa na etiqueta também.

IN: Visto que há peças de valor mais acessível e outras de valor mais alto, que a gente entende que não atinge um determinado público, devido as desigualdades sociais presentes na cidade, o público imperatrizense tem abraçado a ideia do brechó chique?

MM: É tudo muito relativo, muito flexível. Mas graças a Deus a gente tem conseguido fazer cada edição mais feliz ainda e buscando novos planos. Quem sabe um espaço físico, e queremos fomentar mais ainda a venda nas redes sociais, abrir mais pra fornecedores de fora da nossa cidade, pois é uma demanda gigantesca e eu sou um pouco de tudo. Eu tenho algumas colaboradoras, apoiadoras, mas é algo que tem crescido. Inclusive, a gente tem observado nas últimas edições  que a procura de roupas masculinas, roupas para bebê, brinquedos, móveis. A gente vê que é uma adesão muito grande e o retorno é muito positivo.

IN: Há um grupo de marcas preferido ou qualquer marca é aceita e considerada chique?

MM: A gente tem um critério de marcas sim. Por exemplo, marcas mais comuns que a gente tem no nosso brechó chique: Animale, Maria Filó, Gucci e outras. Temos peças também das marcas Carolina Herrera, Gucci, Dolce & Gabanna, Armani, Calvin Klein, Bob Store, Farm, Skazi, Iorane e muitas outras

IN: Qual a diferença entre brechó e bazar?

MM: Ótimo, eu adoro essa pergunta. Brechó são marcas mais selecionadas, e bazar são roupas mais populares, com valores muito mais acessíveis e o bazar tem uma característica da filantropia. O brechó tem um cunho mais social, mais de luxo, inclusive. Se você for ver a história do brechó na Europa, nos Estados Unidos e até mesmo no Brasil, foram mulheres vaidosas, ícones de moda, mulheres empoderadas, que começaram a preconizar a questão do brechó em nível de mundo. O bazar, inclusive, ele é mais característico das boutiques. Geralmente as boutiques realizam bazares para ponta de estoque, então é sempre bom desmistificar. Nós sabemos que na nossa cidade, pessoas físicas realizam eventos como esse, mas elas não sabem ainda diferenciar o que é brechó e o que é bazar.

IN: Pensando na ideia de moda consciente, reaproveitamento das peças… “Comprar em brechó é chique”. Você usa roupas compradas em brechó?

MM: Sim. Uso e adoro!

IN: Mas são peças de brechó da nossa cidade?

MM: Não. Geralmente eu uso de brechós de São Paulo e futuramente quando for à Paris.

IN: O nome brechó chique não afasta as pessoas?

MM: Sim e Não. Mas como eu sou uma pessoa que penso positivo e penso grande, eu acho que todo mundo quer o melhor pra si. E quem pensa alto, pensa logicamente em ser uma mulher empoderada, uma mulher bem vestida, uma mulher bonita, e quem não quer ser chique? Não importa a classe social. Nós oferecemos qualidade e preços acessíveis.

IN: Você se inspira em outros brechós?

MM: Na verdade eu sempre acompanhei, eu acho o máximo a questão do desapego, a questão da reutilização das peças. E aí eu somei na verdade as duas áreas, as minhas duas paixões, que é a moda e o consumo consciente. Como sou especialista em direito ambiental e eu sei que tá muito em voga essa questão da moda sustentável, eu quis somar isso e fazer com que as pessoas desmistifiquem o que é o brechó. Antigamente o brechó era mais conhecido por ter roupas velhas, com cheiro de mofo. Mas isso mudou completamente, e o SEBRAE de São Paulo fez uma pesquisa e segundo dados dessa pesquisa, que até 2025 o segmento de second-hand, que significa segunda mão, possivelmente irá suplantar as fast-fashion, que são as grandes marcas, como as lojas âncoras que são Riachuelo, Zara, C&A.

 

IN: Uma cor

MM: Branco

IN: Um filme

MM: Bonequinha de luxo

IN: Uma loja de Imperatriz do segmento de moda

MM: D’Marca

IN: Uma atriz

MM: Meryl Streep